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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


domingo, 26 de dezembro de 2010

Feliz Natal!

Queremos desejar a todos nossos amigos leitores uma ótima e santa semana, contemplando os mistérios do Natal de Jesus, festa que se prolonga em toda a Oitava.
Rezamos por vocês

Comentando a Regra do Carmo *

A REGRA DO CARMO E O NATAL


A Regra dos carmelitas pede-nos para que vivamos em obséquio de Jesus Cristo, Jesus Cristo que no Natal se fez homem, se tornou pequeno, tomando a forma de uma criança. Seguimos a um Deus encarnado na história humana, um Deus que se fez homem, igual a nós, exceto no pecado. O Natal no Carmelo enche-se de humanismo, aquele humanismo que nos pediu Santa Teresa, enche-se de ternura, de alegria, porque seguimos a Jesus que se fez pequeno para nos salvar. Vivendo os três conselhos evangélicos, os votos; o presépio nos inspira cada um deles: Deus nasceu de uma virgem e permaneceu virgem por toda a vida; Deus se fez obediente aceitando o plano do Pai para se tornar homem e salvar a humanidade, e, Deus se fez pobre nascendo numa família pobre, nada mais pobre que a gruta de Belém.

O Carmelo no Natal enche-se de uma atmosfera toda especial. Em nossos compromissos diários há um clima todo especial, é a ternura de Belém que se encarna em nosso meio. No Advento, tudo são preparativos para a grande solenidade do Natal. Desde nossas celas e toda a casa são revestidas de preparativos. Nossas refeições revestem-se de alegria e partilha fraterna dos dons recebidos de Deus, dos irmãos e de nosso trabalho. A Liturgia é cheia de música e louvores, pois Deus se fez Homem para que o homem participasse da divindade, se fizesse Deus. A Eucaristia como a Liturgia das horas revestem-se de uma solenidade toda especial. Tudo cuidadosamente ornamentado são alegria e ação de graças. Na casa toda brilham presépios delicadamente preparados pela criatividade de cada irmã. O ritmo do dia a dia muda, e nestes dias que seguem ao Natal, são as férias das carmelitas. Não vamos a lugar nenhum, somente ao nosso coração onde devemos orar sempre, e nossa mente, nosso espírito, nossa alma, nosso corpo repousa no Senhor, Deus da vida, por nosso amor encarnado.

Natal no Carmelo é alegria e paz na simplicidade de um Deus que quis caminhar conosco, redimir nossas vidas. Natal no Carmelo é plenitude, pois Deus está no meio de nós. Pela oração contínua e o atendimento às pessoas que nos procuram, procuramos que nossa experiência do Natal extrapole os muros do convento e atinja o mundo inteiro que tanto necessita da salvação de nosso Deus, Deus que veio até nós para que nós pudéssemos chegar até Ele sem medo e com muita confiança. Que o Natal seja de fato vivido na comunhão dos bens e da alegria para todos. Que o Natal nos leve a lutar por um mundo irmão, solidário, amigo, onde todos estejam felizes e realizados, e que neste mundo haja um lugar para Deus, pois Ele não o encontrou na noite santa do seu nascimento e teve que nascer entre animais e no frio. FELIZ NATAL!!!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Edifique-se uma capela no meio das celas, onde mais comodamente for possível, na qual deveis reunir-vos todos os dias de manhã para ouvir missa, onde isso comodamente se puder fazer” (Regra 12).


A capela no centro das celas é o lugar de oração, centralidade na vida dos carmelitas. A capela no centro lembra Ezequiel 48,8: “No meio das tribos deve estar o santuário” e Ezequiel 48,35: “A presença do Senhor no meio de vós”. Evoca a cidade idealizada de Jerusalém. Evoca também a presença de Maria no meio dos apóstolos (At 1,14), pois a capela era dedicada a “Santa Maria”.

A oração pessoal feita pela meditação da lei do Senhor, a comunhão dos bens, deve ser alimentada diariamente pela Eucaristia, onde isso for possível fazer. A Regra do Carmo não obriga a fazer as coisas tal e qual se diz na letra. A Regra do Carmo é uma regra muito humana e compreensiva. A Eucaristia, fonte e cume da vida cristã é o alimento que sustenta toda vida cristã. Também deve sustentar a vida da carmelita que em primeiro lugar também é cristã. Ainda hoje em todas as comunidades carmelitanas se celebra diariamente a Eucaristia. E o celebrá-la diariamente é uma das exigências que se faz a diocese que pede um Carmelo. No centro da vida da carmelita está a Eucaristia, onde celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, a doação que Ele fez da sua vida por todos nós.

Ir. Rejane Maria

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Nenhum irmão diga que tem alguma coisa própria, mas tudo entre vós seja comum (cf. At 4,32; 2,44) e se distribua por mão do Prior ou do irmão por ele escolhido para esse ofício, dando a cada um o que lhe faltar (cf. At 4,35), ponderando as idades e necessidades de cada um” (Regra 10).


Dentro do conjunto dos números de 8 a 11, este número está no centro. “É o miolo do miolo!” Este número é a porta de entrada para o ideal. É o número onde se chega ao miolo do ideal de fraternidade e o concretiza.

Esta comunhão de bens não tem finalidade em si mesma, mas está a serviço: empurra os carmelitas para o lado dos “menores”; assim eram chamados os pobres naquela época; “empurra-os para dentro da Igreja que se renova; empurra-os para a fraternidade efetiva e para a Missão de Evangelizar ou de ser testemunhas vivas do Evangelho.

A fraternidade assim vivida é semente e amostra da nova sociedade:

1. Eles já não servem ao senhor feudal, mas servem a Jesus e a Nossa Senhora, e são irmãos entre si.

2. Não são como as dioceses e mosteiros, mas vivem perto do povo e concretizam para eles o Evangelho e a vida apostólica.

3. Esta vida é semente alternativa de uma nova sociedade, amostra do projeto de Deus. Tinha dimensões políticas dentro da sociedade daquele tempo.

Não é o lucro, mas a necessidade que determinam tanto a posse quanto a distribuição dos bens:

1. A comunhão de bens é a consequência concreta e vivida da meditação e da observância da Palavra de Deus: ‘Não basta dizer: Senhor, Senhor!’

2. O amor de Deus faz com que o amor ao próximo chegue a ter uma base e uma expressão bem concreta: ‘Ninguém diga: é meu!’ Tudo é de todos! Distribuição por um responsável. Os bens em comum eram coisas simples: as coisas que recebiam do povo; burros e galinhas (para trabalho e viagem), fruto do trabalho (roçado em torno das celas), trabalho manual para poder viver”.

3. Lembramos “aqui o episódio de Ananias e Safira (Atos 5,1-11): abusar da comunidade dá morte. A comunidade é o santuário, a arca da aliança de Deus com os homens.

4. O voto de pobreza não é só meio de ascese para poder rezar melhor, mas é também e sobretudo a forma concreta de se contestar a divisão da sociedade em classes” ( A REGRA DO CARMO pág. 64).

Assim era naquele tempo, e hoje, como é? Esta pergunta deve estar na mente de quem lê este texto. O sentido continua sendo o mesmo. Tudo que entra no Carmelo, mesmo destinado a uma irmã é da comunidade. Ela pode ficar se tiver necessidade. Tudo continua sendo de todas. A nossa pobreza continua sendo denuncia de um mundo organizado pela injustiça onde uns poucos têm tudo e outros passando necessidade. Mas, porque isso? Por Deus criou o mundo para todos. Ainda hoje as coisas continuam sendo distribuídas pela Priora ou por irmãs designadas por ela, e é dado a cada uma conforme a necessidade. Isto não é sinônimo de privilégios, mas de justiça e fraternidade, que olha também para os mais necessitados. Ainda hoje o Carmelo é ajudado pelo povo, e o povo de Santo Ângelo é muito generoso. Devemos muito a este povo e retribuímos com nossa oração por eles. Mas, que coisas são partilhadas? Tudo o que se precisa para viver num mundo pós-moderno, de uma caneta e papel a um computador, do trabalho mais simples ao serviço de coordenação. É verdade nem todas fazem tudo, porque é próprio de nossa pobreza servir em qualquer ofício onde Deus nos colocar pela mão da Priora que a tudo coordena.

Ir. Rejane Maria

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


Desejamos a todos nossos leitores um bom Advento, repleto das luzes do Espírito, a fim de que a vinda de Deus não seja despercebida na simplicidade do dia a dia.
Deus assumiu nossa carne, para ensinar-nos o jeito certo de ser pessoa, em Jesus temos um modelo "imitável".
Da mão de José e Maria, preparemos o coração, e acolhamos o Reino que vem no silêncio, no anonimato, sem barulho, sem ostentação

Comentando a Regra do Carmo *


“Os que souberem recitar as Horas canônicas com os clérigos as recitarão conforme os estatutos dos santos Padres e o costume pela Igreja aprovado.



Aqueles que não souberem recitar dirão por Matinas vinte e cinco vezes o pai-nosso, exceto nos domingos e festas solenes, em cujas Matinas determinamos que se dobre o número, de sorte que se diga o pai-nosso por cinquenta vezes. Pelas Laudes matutinas, dir-se-ão sete e outras tantas por cada uma das outras Horas, exceto Vésperas, pelas quais se rezará quinze vezes a dita oração” (Regra 9).

No texto original de 1207 se diz “os que sabem ler salmos” e “os que não sabem ler salmos”. No texto de 1247, “os que sabem dizer as horas canônicas com os clérigos”. No Monte Carmelo os carmelitas eram vistos como leigos dos quais alguns sabiam ler e outros não. Agora, “saber ler” é sinônimo de “clérigo” e “não saber ler” sinônimo de “irmão leigo”. O Carmelo na sua originalidade é uma Ordem leiga. Somente mais tarde começaram a fazer parte clérigos, isto é, padres. Esta divisão entre clérigos e leigos perdurou até o Concílio Vaticano II, que pediu para os institutos religiosos uma única categoria de religiosos. Voltou-se ao que na originalidade prescrevia a Regra, que dava direitos iguais a todos. Também entre as irmãs carmelitas havia as “irmãs do coro” e as “irmãs leigas” que rezavam os pai-nosso e assumiam os trabalhos mais humildes e pesados. É preciso agradecer esta mudança que se fez na Vida Religiosa.

As Horas canônicas de que fala a Regra é a Liturgia das Horas que se reza ainda hoje, e é composta por sete momentos de oração durante o dia e a noite, os quais são: Laudes (oração da manhã), Hora Média (oração das nove horas, das doze horas e das quinze horas) Vésperas (oração da tarde) Completas e Ofício de Leituras. A Liturgia das Horas na originalidade era rezada pelos leigos; depois passou a ser rezada só pelos religiosos e padres. Hoje, lentamente os leigos estão voltando a rezar as Horas. O sentido destas orações é de santificar todas as horas do dia e oferecer a Deus toda atividade humana. Nós, consagrados as rezamos em nome de todos e por todos

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


Sejamos amigos fortes de Deus!

O seu coração misericordioso espera por nós. Ele proteje cada um de seus filhos, por isso, coloque-se nas mãos d'Ele, e abandone-se em seu amor, sem deixar de manifestar sua ternura e compaixão aos irmãos

Comentando a Regra do Carmo

“Permaneça cada um na sua cela ou junto dela, meditando dia e noite na lei do Senhor (cf. Sl 1,2; Js 1,8) e velando em oração (cf. 1Pd 4,7), a não ser que se ache legitimamente ocupado em outros afazeres” (Regra 8).


 
Este número da Regra é de fácil compreensão, mas muito exigente para ser cumprido, pois se trata de meditar toda a Bíblia e estar em contínua oração, a não que se esteja legitimamente ocupada com outra tarefa. Permanecer na cela, meditar e vigiar tem duplo sentido. Permanecer na cela diz respeito onde deve estar o corpo; meditar e vigiar diz respeito onde a mente deve estar. É uma tarefa individual que cada uma deve realizar dentro da comunidade. É sempre a mesma dimensão da vida carmelitana que reaparece de novo, a vida eremítica. É a vida se solidão preenchida pela Palavra de Deus.

No Monte Carmelo onde a Ordem dos Carmelitas nasceu tratava-se de grutas separadas. Hoje se trata como já vimos de simples quartos. É o espaço físico para a solidão, a vida eremítica. Lembra também a “cela interior”, pois solidão exterior sem solidão interior não tem nenhum sentido e não leva ao ideal proposto pela Regra.

O Carmelo refundado por Santa Teresa de Jesus tem este número da Regra como uma grande luz e missão de cada carmelita, pois a oração como a vocação é um caminho sem volta, pois tende sempre a progredir. A solidão e o silêncio é para a gente ver as coisas e fatos com os olhos de Deus. Santa Teresa dá à oração um sentido apostólico, é a missão das carmelitas e permanece sempre atual, pois as pessoas e a humanidade como um todo necessitam muito da oração, oração alimentada pela Palavra de Deus. Este número para mim pessoalmente é o mais lindo da Regra e o mais apreciado para vivê-lo.

sábado, 13 de novembro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“A nenhum irmão seja lícito, sem licença do Prior atual, mudar ou trocar com outro o lugar que lhe foi designado. A cela do Prior esteja à entrada do convento, para que ele seja o primeiro que acorra a receber os que a ele vierem, e de seu arbítrio e disposição dependa tudo o que se houver de fazer” (Regra 7).


Como já vimos, este número traz a novidade para a Vida Religiosa. Ele permanece atual ainda hoje e é observado pelas Carmelitas refundadas por Santa Teresa. Ainda hoje a “cela” da Priora fica à entrada do Carmelo. Do seu consentimento com o das irmãs é nos dado uma “cela” como também já vimos. Na Regra em latim está locum que não significa exatamente cela, mas moradia. Aqui se compreende a real novidade para os eremitas que está em permanecer fiéis à comunidade. A obediência não é tanto de Prior para súdito, como fidelidade à comunidade. A Priora tem sim, na comunidade um papel importante. Dela depende tudo que se há de fazer, depende do seu consentimento. Aqui entra o voto de obediência. A comunidade em diálogo com a Priora decidem o rumo que a caminhada deve dar, o discernimento da vontade de Deus para a comunidade e cada irmã em particular, acolhe conforme sua caminhada pessoal a voz do Espírito Santo que a conduz no caminho de Deus.

Quanto ao Prior ter sua “cela” à entrada do convento, é para receber os visitantes e também os novos discípulos. Como eremitas cada um podia receber seus discípulos e agir como “pai espiritual”, agora é tarefa de toda a comunidade receber e discernir as vocações. Esta determinação lembra uma prescrição de Pacômio*: “Se alguém se apresenta na entrada da moradia com a intenção de renunciar ao mundo e juntar-se aos irmãos, não pode entrar sem mais nem menos, mas deve primeiro ser apresentado ao pai da moradia”.



* Pacômio é que reúne em comunidade os eremitas e dá-lhes uma Regra. Temos então a vida cenobítica.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Todavia tomareis, num refeitório comum, os alimentos que vos forem dados, ouvindo todos juntos uma lição da Sagrada Escritura, onde isto comodamente se possa observar” (Regra 6).

Este número foi acrescentado por Inocêncio IV e dá ênfase especial e maior ao aspecto fraterno da vida carmelitana: tomar a refeição em comum e ouvir a Bíblia em comum. “Na vida eremítica cada um vivia sozinho e cozinhava sozinho em sua cela. Lia e meditava a Bíblia sozinho na sua cela. Indo para a Europa e vivendo em convento, tornava-se impossível cada um ter a sua cozinha. Impondo o refeitório comum, Inocêncio IV acentua a vida fraterna e impede a volta para a vida eremítica afastada do povo” ( A REGRA DO CARMO). Até hoje, apesar de se misturarem no Carmelo Teresiano o aspecto eremítico e fraterno, ainda se toma as refeições, ─ o almoço e a janta ─ ouvindo uma leitura conforme a realidade que a comunidade está vivendo acompanhando o Tempo Litúrgico. O fato de tomar as refeições em comum é altamente fraterno e ao mesmo tempo dá um sentido todo especial ao voto de pobreza que professamos. Os alimentos e as coisas que recebemos, uma vez entrados no Carmelo são de todas e distribuídas entre todas conforme a necessidade. Tomar as refeições em um refeitório nos torna mais irmãs, partilhando os dons que recebemos e adquirimos com nosso trabalho.
Ir. Rejane María

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Podereis habitar nos ermos ou lugares que vos forem dados, dispostos e acomodados para a observância de vossa Religião, segundo o que parecer mais conveniente ao Prior e aos Religiosos” (Regra 4). Este número foi acrescentado por Inocêncio IV e revela também a decisão de viver em cidades. Não é qualquer lugar que serve. Deve ser um lugar que garanta ter as condições de se viver a centralidade da Regra que é a fraternidade. Este número também é uma ajuda aos carmelitas de não viverem apenas a vida eremítica como no Monte Carmelo, mas também de inserir-se no meio dos “menores”, os pobres e ali viver vida fraterna.
Este número 4 da Regra é um dos números que asseguram ao carmelita uma infra-estrutura necessária para viver o ideal proposto. A vida carmelitana deve ser uma vida bem organizada onde é possível viver o ideal do Carmelo.
Os primeiros carmelitas viviam no Monte Carmelo em lugares ermos, isto é, eremíticos, onde primeiramente vivam em oração, contemplação e solidão. Expulsos da Terra Santa pelos sarracenos (muçulmanos) foram para a Europa, primeiramente para a Inglaterra, depois para França e Alemanha. Hoje os carmelitas e as carmelitas estão presentes nos cinco continentes. Mesmo antes de aprovada a Regra o papa Inocêncio IV escreveu uma carta pedindo aos bispos que os aceite, pois naquele momento a Igreja não queria mais aprovar novas Ordens Religiosas. Foi então que a dedicação à Maria Santíssima que os aprovou. Por isso até hoje os carmelitas e as carmelitas são chamados de Irmãos e Irmãs da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Garantindo o lugar onde morar, a Regra segue dizendo que além do lugar é preciso que cada um tenha seu espaço próprio dado a ele de comum acordo do Prior com os outros irmãos: “Além disso, no sítio em que houverdes de habitar, cada um de vós tenha uma cela individual separada, conforme lhe for assinalada por ordem do mesmo Prior, com o consentimento dos demais Irmãos ou da parte mais prudente” (Regra 5). Este número vem ajudar aos carmelitas de não ser como os eremitas itinerantes que iam morar onde queriam sem pedir licença a ninguém. Combinavam só com o “abade”. Agora o carmelita deve renunciar a esta itinerância, visto que mudaram para viver a vida fraterna no meio dos pobres e submeter-se aos julgamentos dos irmãos.
O sentido de “cela” não tem nada haver com a cela dos nossos presídios, mas é o lugar que garante ao carmelita de viver sua intimidade com Deus pela oração, contemplação, silêncio e solidão. É o lugar de liberdade com que a Regra premia a cada carmelita. Os tempos mudaram, mas no Carmelo feminino ainda hoje cada uma tem seu quarto, lugar de encontro com Deus e com todo o Universo, que deve ser vivido e transparecido na vida fraterna com as Irmãs. A experiência vivida no quarto é suporte para o apostolado das carmelitas que é a oração e o atendimento às pessoas que nos procuram diariamente.
Pode-se perguntar quanto tempo tem a carmelita para estar em sua “cela”. É verdade, muita coisa mudou com o Concílio Vaticano II, onde a Igreja pede que os religiosos ganhem seu pão com o suor do seu rosto. O tempo que se dedicava cada uma em sua “cela” passou para o espaço de seu trabalho. Antes se trabalhava manualmente em confeccionar objetos religiosos e, como somos uma Ordem Mendicante, vivíamos e ainda hoje, da generosidade das pessoas que nos ajudavam em nossa manutenção. Cada carmelita tinha muito tempo para ficar em sua “cela”. Como vemos hoje, o estar na “cela” (quarto) passa-se a viver o sentido místico, deve-se viver na “cela” do seu coração. A nova realidade que nos interpela também a nós carmelitas leva-nos a ser criativas: todo lugar, toda a vida deve ser nossa “cela” onde vivemos em comunhão com Deus, com os outros, com o Universo e consigo mesma. Deve-se cultivar a mística da “cela”, isto é, criá-la dentro de si.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Testemunho Missionário

O testemunho missionário desta semana é o do Ir. Lauri de Cesare, que atua em Iatamaratí, Amazonas. A ele agradecemos o seu exemplo, e prometemos nossas orações. Para ver mais fotos clique na página Testemunho Missionário.


Ir. Lauri, numa visita a uma comunidade indigena


As habituais visitas dos missionários às comunidades são
feitas de barco.
Na missão no Amazonas, creio que não tem nada de extraordinário a não ser o carinho e o amor do povo. Sentimentos que encontramos em outros lugares (nossas comunidades) também. Independente do lugar, depende um pouco de nós para perceber e sentir este carinho do povo de Deus. O Carmelo é uma prova disto. Todos(as) tem muito amor e apreço por vocês, não só pelo trabalho que prestam à Igreja, mas pelo Amor com que se dirigem às pessoas.


Aqui no Amazonas, lugar distante de tudo, mas muito próximo de Deus, o que se difere de outras missões é a situação de pobreza e de isolamento de muitas famílias, especialmente as que vivem nos Igarapé, lagos e a margem dos rios. A distancia da cidade e a falta de politicas públicas castigam as pessoas.

Para mim as Irmãs Carmelitas, de modo especial minha madrinha Ir Elisabete, tem me ajudado a descobrir o Rosto de Deus nas pessoas. Tem sido a força, o candeeiro que ilumina o caminho a seguir. Nossas partilhas, os incentivos e as orações tem me ajudado muito na missão, na vocação e na vida. Por fim, digo que as Irmãs estão juntas nesta missão, com sua prece, com seus conselhos e com o amor que tem por nós religiosos.





Que Deus continue a derramar sua Graça a vocês e muito obrigado por tudo.

Do irmão-amigo Lauri de Cesare MSF

Comentando a Regra do Carmo *

“Cada um de vós prometa obediência; e depois de a ter prometido, procure verdadeiramente guardá-la com as obras, com castidade e pobreza” ( Regra 3).

A obediência na Regra significa fidelidade prometida ao “Prior” como representante de Cristo e da comunidade. O compromisso é de viver com fidelidade o ideal da Regra, isto é, em “obséquio de Jesus Cristo”. A obediência requer o ouvir. É estar pronto para ouvir a vontade de Deus se manifestando dia a dia, no cotidiano da vida. Obedece-se ao Projeto de Deus, para que o Reino de Deus cresça entre nós. É estar sempre aberta para discernir o que Deus quer de cada uma de nós e da comunidade como um todo. Obediência não é mera submissão à vontade de outrem, mas liberdade para ouvir e acolher e transformar a acolhida numa realidade. Obedecer é estar em contínuo diálogo para ver e discernir os caminhos de Deus. Obedecer é liberdade não só para fazer, mas ser vontade de Deus.

Castidade que é “não casar por causa do Reino”, significa “estar disponível para Deus e os irmãos; para viver o amor humano na sua plenitude; para ser um sinal do futuro que Deus oferece a todos”. É viver aqui e agora o que será nossa vida na eternidade, é por isso trazer o céu para a terra. É estar livre para amar a todos sem distinção. É ter o coração indiviso, consagrado a Deus e a serviço dos irmãos e irmãs.

“Pobreza: ter vida de pobre na comunhão de bens; viver como pobre do próprio trabalho ou da esmola”. É “contestar a divisão social, ser profeta, assumir a luta do Reino; ser semente e amostra da nova convivência social que Deus quer para todos”. Ser pobre com os pobres é anunciar que um mundo novo só se consegue com a partilha. Ser pobre não é excluir as pessoas que tem bens, mas anunciar a todos que os bens devem ser partilhados e repartidos entre todos. Pobreza é viver do único necessário. É não acumular.

Vemos assim que: “a obediência purifica o relacionamento com Deus; a castidade conserta e purifica o relacionamento interpessoal; a pobreza conserta e purifica o relacionamento social”. Numa palavra, os votos são estar separado/reservado unicamente para Deus; é ser feliz.

Ir. Rejane Maria

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Testemunho Missionário

Esta semana partilhamos com vocês o testemunho missionário de Pe. Valdecir, MSF. Para ver o texto integral clique na página dos testemunhos missionários, onde encontrará mais fotos de Moçambique

Quem sou?



A comunidade de Moçambique, o Pe. Valdecir no meio
 Pe. Valdecir Rossa, com residência familiar em Gramado Rs.
Entrada no seminário de Santo Ângelo em 1989, com passagem também pelos seminários de Maravilha SC e Goiânia. Filosofia em Passo Fundo RS, noviciado em Buenos Ayres e teologia em Santo Ângelo RS. Em princípio de 2008 foi a Moçambique, África para estagio pastoral e no mesmo ano professou os votos perpétuos na congregação dos msf e foi ordenado diácono. Dia 6 de fevereiro foi ordenado Presbítero em Gramado RS e no mês seguinte retornou ao continente africano para continuidade das atividades.
No mês de agosto de 2010, teve que retornar ao Brasil (paróquia Nossa Senhora da ajuda, RJ), tendo em vista as diversas malarias.
No que segue, o que estamos a objetivar é uma apresentação da missão dos msf em Moçambique. Para isso dissertaremos a partir de alguns elementos da história; cultura; religião; pastoral.

NOSSA ATUAÇÃO PASTORAL


Atuamos em duas paróquias e uma região pastoral. Para facilitar o contacto, as comunidades são agrupadas em zonas de 7 ou 8 comunidades. Atendemos aproximadamente 300 comunidades e grupos de oração.
A missão é composta por 3 padres dos msf, e 4 irmãs servas de Fátima. O trabalho de pastoral é feito em conjunto e além das missas e sacramentos é priorizada a formação de lideranças e da própria comunidade. Acreditamos que a formação se faz necessária e as diversas lideranças comungam desta idéia, tanto é que as vezes caminham 40 ou 50 km para um ou dois dias de formação.
É gratificante sentir a alegria daquele povo que passou pela guerra e está aguardando pela visita dos missionários, a 7,8,10 ou mais anos. A recepção é cheia de amor. É um povo que consegue viver e celebrar com alegria, mesmo em meio às dificuldades. As celebrações são dinâmicas e alegres, com participação da assembléia o tempo todo, inclusive na homilia. As danças são apropriadas para os diversos cânticos da celebração, tendo inclusive bailarinas que dançam o canto de acordo com o significado.
A missa tem vários elementos do cotidiano que são inculturados, exemplo disso é o evangelho que é ouvido sentado.


Durante uma visita a nossa comunidade, com a madrinha Ir. Celeste


Visitas...


Com grande alegria estamos curtindo a visita de nossa Ir. Maria José, cujo testemunho missionário ja foi publicado, que trouxe junto à Ir. Dora, do Carmelo de Sucre, Bolívia. Ambas vieram participar do encontro com o Pe. Geral em Londrina, e aproveitaram para passar na nossa comunidade, que é a da Ir. Maria José.
Ir. Dora festeja Jubileu de Prata em Novembro, por isso já o festejamos antecipadamente no Brasil. Eis algumas fotos




Os abraços...


Com a Ir. Maria José

Ir. Dora do Menino Jesus de Praga



   

A missão e a Contemplação

Mês de Outubro, mês dedicado inteiramente à oração, e oração em prol da Missão.
Oração e Missão se complementam e se desafiam mutuamente.
Ser missionário não é só devorar kilômetros, partir para desempenhar uma tarefa além fronteiras. A primeira Missão que nos é pedida aos cristãos e cristãs é sair de nós mesmos e sermos para os outros. E isto é uma tarefa que exige dar o melhor de sí, a qualque um de nós. E quando se refera à VIda Consagrada o documento Vita Consecrata nos diz: "A pessoa consagrada está em Missão, por força de sua consagração"; e S. João da Cruz, nosso Pai, na primeira canção do cántico espiritual diz: "havendo-me ferido, saí por ti clamando".
A oração é experiência de Deus, o "saborear" Deus, o perder o tempo com Ele para amar e deixar-se amar, é o que nos capacita para abrir-nos a esta contemplação amorosa, e por vezes dolorosa de Deus. Somente quando estamos feridos por este Amor, quando estamos profundamente enamorados, somos capazes de sair de nós mesmos. Só a experiencia profunda de sermos amados por Deus explica o fato de alguém deixar  tudo e partir em Missão. E aqui me refiro não somente ao fato de deixar coisas ou pessoas, mas deixar-nos a nós mesmos, e seguir ao longo da vida, deixando-nos, o que é mais dificil, deixando-nos "consumir" por amor no serviço aos irmãos.
Tampouco me refiro somente ao que parte em Missão, mas também àquele que deseja enveredar no caminho da oração, e que Deus leva pela via da contemplação. Deus o vai conduzindo até esquecer-se de si, porque sua oração-contemplação está centrada no bem  do outro que, embora presente no lado, ou distante, é um irmão, uma irmã, por quem se gasta e empenha a vida.
Jesus é o grande missionário do Pai, o grande orante contemplativo e Mestre no caminho da contemplação. Ele tinha experiência e conhecia o Pai, sabia-se profundamente amado pelo Pai, por isso passava noites inteiras em oração - contemplação, absorto no Pai.
O que fazia e o que dizia Jesus ao Pai na oração?  Penso que Ele apresentava ao Pai a vida, as alegrias, as dores, os sofrimentos, a luta por libertação do seu povo, mas também (penso) "mergulhava no Pai", como uma gota de água se perde no oceano. Ele perdia-se no Pai, ao ponto de experienciá-lo, contemplá-lo inteiramente pois Ele e o Pais são um.
O caminho da oração, da contemplação, leva-nos a adentrar-nos no mistério profundo e amoroso do Deus Trindade mas, sem dúvida, quanto mais nos adenramos neste mistério e o saboreamos, mais somos impelidos por este Amor que vivenciamos no mais profundo centro de nós mesmos, a rezar, a doar a vida, a gastar e desgastar a vida em prol de nossos irmãos e irmãs dispersos pelo mundo inteiro.
E aqui trago presente S. Teresinha, cuja festa celebramos já no primeiro dia de Outubro, que sem sair de seu Mosteiro, mas por causa do grande amor que a impelia a rezar pelas pessoas, particularmente pelos missionários, foi declarada Padroeira das Missões. E a grande S. Teresa, que no seu ardor missionário, fundamentado e enraizado numa profunda experiencia de Deus, foi fundando mosteiros aqui e alí, numa época que não oferecia as facilidades de viagem e comunicação que hoje temos, estava disposta a dar mil vidas para salvar uma apenas.

O desafio que lanço a você, leitor, leitora, é que na sua vida e atividades diárias, busque conectar-se com Deus, dar tempo a Ele, para deixar-se amar por Ele, e para que assim, impelido por este amor que jorra dentro de você, você tenha a ousadia de colocar-se a serviço dos irmãos, de dar algo de si a fim de que os outros tenham mais vida, para que o sonho de Deus de que todos tenhamos vida em abundancia se torne sempre mais realidade por intermédio de você.

Ir. Maria Celeste da Cruz

Comentando a Regra do Carmo *

ELEIÇÃO DO PRIOR E DE TRÊS COISAS QUE SE LHE HÃO DE PROMETER


Determinamos primeiramente que tenhais um de vós mesmos por Prior, o qual seja eleito para este ofício por unânime consentimento de todos, ou da maior e mais qualificada parte, ao qual cada um de vós prometa obediência; e depois de a ter prometido, procure primeiramente guardá-la com as obras (cf. 1Jo 3,18), com castidade e pobreza (Regra 3).

Com este capítulo Alberto inova algo que não existia na vida religiosa de então. A vida religiosa possuía para governá-la um abade. Este era como um pai para seus filhos, e seu mandato era para sempre. A Regra do Carmo ao dizer que um seja escolhido e que seja por rodízio dispõe que o relacionamento entre os religiosos não seja vertical e sim horizontal, não de pai para filhos, mas de irmãos, isto é, de iguais. Ao escolher ter um deles como Prior, não o coloca como uma autoridade cheia de privilégios, mas conforme o sentido da palavra “Prior”, ele é o primeiro escolhido para servir. O Prior é o servo dos servos, ao qual se promete obediência a ser cumprida com castidade e pobreza. Temos então os votos que de um, a obediência, passam a ser três juntamente com a castidade e a pobreza. A Ordem do Carmelo começou primeiramente com homens, por isso se fala em Prior e não Priora. As irmãs foram instituídas mais tarde no século XV pelo Beato João Soreth. Mesmo com o passar dos séculos até hoje permanece no seu sentido original o serviço do Prior e da Priora. Quanto aos votos que se prometem ao Prior como a Cristo seu sentido ao mesmo tempo simples é muito amplo, por isso merece um comentário especial para cada voto.

Ir. Rejane Maria

sábado, 9 de outubro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Ao propor como máximo e único sentido da vida o ‘OBSÉQUIO A JESUS CRISTO’ creio que a Regra do Carmo entende claramente que precisamos ser introduzidos no seu MISTÉRIO e indica-nos os marcos da estrada para isto: Seu serviço com reta consciência e puro coração realizado num estilo de vida que ofereça condições favoráveis para tal conquista.


Resta perguntar-nos: de que SERVIÇO A JESUS CRISTO a Regra do Carmo nos fala?

Parece que em todas as releituras feitas no decorrer dos tempos, ficou claro que este SERVIÇO proposto não se pode entender primordialmente no sentido literal do termo (funções, desempenho de tarefas, etc.) ainda que o comporte, pois o homem como DEUS se revela em sua ação. Este SERVIÇO consiste na ligação e adesão a Cristo, na perspectiva paulina e, como tal, compreendida no contexto feudal ou seja, se realiza na participação do MISTÉRIO DE DEUS a tal ponto que se deixe impregnar por ELE, experimentando como Paulo ‘Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’ (Gl 2,20). Esta afirmação paulina é o pano de fundo da Regra, tão entretecida com recomendações partidas de cartas do Apóstolo.

Viver em OBSÉQUIO de JESUS CRISTO será, também hoje, sem dúvida, assumir o compromisso de comungar com sua vida (histórico-místico-sacramental), incluindo-se aí seu destino, seus interesses e suas ações. Significa tomá-lo concretamente como o único, verdadeiro e absoluto ARQUÉTIPO, imagem perfeita do que devemos ser: exemplar divino e ontológico de nosso próprio ser, modelo de nossa comunhão existencial com DEUS.

Com alegria se pode também dizer que tal OBSÉQUIO nos levará a buscar no próprio JESUS CRISTO a fonte da graça pela qual será operada a nossa transformação (= aperfeiçoamento, santificação). ELE é o próprio espírito vivificante, comunicador da ‘vida nova’ (Rm 5,17; Rm 8,14-17). Crescer em Cristo (Cl 1,6 ; Ef 4,15) e tornar-se ser humano perfeito (Cl 1,28; Gl 2,20; Fl 1,21) vem pois a ser uma só e mesma coisa. Jesus Cristo atingiu o ser humano em sua dimensão mais profunda. É Ele pois o ‘guia’, a ponte que une DEUS-HOMEM, revelação máxima do AMOR.

A vida humana colocada em OBSÉQUIO de JESUS CRISTO passa a ter princípio não na carne, mas no espírito de Cristo, que nos leva a buscar para nós, para os irmãos, para o mundo, a chegada do Reino de DEUS, a ‘vida incorruptível’: ‘Quem semeia em sua carne, da carne colherá corrupção, quem semeia no espírito, colherá a vida eterna’ (Gl 6,8) (REGRA DO CARMO CONTEMPORÂNEA DO FUTURO, p. 18-19).

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Testemunho Missionário

No início do Mês de Outubro celebramos a festa de S. Teresinha. Este mês o dedicamos precissamente às Missões. Santa Teresinha dedicou sua vida inteira aos missionáros, pelos quais rezava constantemente.
Por isso decidimos apresentar aos queridos leitores o testemunho de alguns missionários corajosos, que partilharam conosco algumas experiências.
Começamos com o de Ir. Maria José, carmelita descalça que pertence à nossa comunidade, e há 5 anos atua em Potosí, Bolívia.

Hermana Milagros!


Pediste-me que compartilhe com vocês algo de minha experiência missionária desde o Carmelo de Potosí – Bolívia. O faço com muita alegria, neste mês em que nos lembramos de modo especial nosso compromisso com a Missão.
A Mensagem Final do Documento de Aparecida nos diz: “Jesus convida a todos a participar de sua missão. Que ninguém fique de braços cruzados1 Ser missionário é ser anunciador de Jesus Cristo com criatividade e audácia em todos os lugares... em especial, nos ambientes difíceis e esquecidos e mais além de nossas fronteiras.
“Sejamos missionários do Evangelho não só com a palavra, mas, sobretudo com nossa própria vida, inclusive até o martírio”. DA
POTOSÍ É UM Departamento Boliviano com mais ou menos 900 mil habitantes; 16 Províncias. É o Departamento onde está a maior riqueza em minérios de Bolívia e onde vive a parcela mais pobre do povo boliviano. Um povo sofrido e explorado desde muito, porém um povo de fé, forte e unido na luta por dias melhores, que demonstrou sua força e união não só a Bolívia, mas a todo o mundo, quando a dois meses atrás resolveu dizer basta à exploração, à injustiça e às promessas nunca cumpridas de Governos que foram se sucedendo no passar do tempo e que apesar das diferenças ideológicas no fundo acabam sendo iguais: Surdos ao clamor do povo! Foram 19 dias em que o Departamento todo e onde quer que viva um Potosino, a uma voz: O povo potosino também existe e queremos uma vida digna. “Potosí de pie, nunca de rodillas”, era a frase mais ouvida na boca de todos: crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres. Os Comitês de greve de fome aumentavam dia a dia. Todos os setores sociais tinham um Comitê representativo, até os Presidiários e as Prostitutas! Impressionou-me uma senhora campesina de 80 anos que interrogada por está fazendo greve, respondeu: “estou aqui voluntariamente para que meus filhos e netos possam ter uma vida melhor e não sofram tanta miséria como eu. Não desistirei da luta nem que isto me custe a vida, o Governo tem que ouvir-nos.
A presença de Deus no meio do povo e no povo se percebia de modo visível. De onde tanta fortaleza, solidariedade, união, senão do Deus da Vida que acompanha com amor cada um de seus filhos e filhas? Ele, sim, escuta e vês as necessidades de seu povo.
No dia 15 deste celebramos Santa Teresa de Jesus, fundadora do Carmelo Teresiano Contemplativo, dela se dizia que seu coração era como uma caixa de ressonância dos acontecimentos eclesiais e sociais e tudo tinha mui presente em sua oração - vida, isto para mim diz muito. O Carmelo Teresiano não existe para si mesmo, mas para o Deus do Povo e o Povo de Deus.
Ser missionário (a) é anunciar a Jesus Cristo, sendo um sinal, um testemunho de esperança, de fé e amor onde quer que estejamos. Seguir os passos do Mestre como seus discípulos de verdade e na verdade.
Em Potosí continuo minha aprendizagem de como ser missionária, aprendizagem que iniciei nessa querida Diocese de Santo Ângelo, a qual sou mui devedora e pela qual peço ao bom Deus que continue sendo a luz de Cristo a iluminar o caminhar de todo o Povo Missioneiro.

Abraços e saudades,

Irmã Maria José de Jesus.Carmelo São José – Potosí - Bolívia - 2010

Para melhor entender a Palavra

Reflexão do 28º Domingo do TC

É preciso cultivar ideais que possam mudar a história.


(2Rs 5,14-17; Sl 97/98; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19)

Na mensagem para o Dia Missionário Mundial, Bento XVI lembra que, “numa sociedade multiétnica que experimenta preocupantes formas de solidão e de indiferença”, os cristãos precisam “oferecer sinais de esperança” e cultivar “os grandes ideais que transformam a história”. Trata-se de ser irmãos universais, como o pobre Francisco de Assis (+04/10/1226), como o sonhador Ernesto Che Guevara (+08/10/1968) e como o mártir Pe. João Bosco Burnier (+12/10/1976), e de engajar-se ativamente para “que nosso planeta seja a casa de todos os povos”. E isso sem falsas ilusões, mas também sem medos inúteis. Com o vivo desejo de dar o necessário sabor missionário à celebração e à vida, coloquemo-nos à escuta da Palavra de Deus, que, como diz Paulo a Timóteo, é digna de fé e não pode ser detida ou silenciada.

“Caminhando para Jerusalém...”

A travessia que Jesus e seus discípulo estão realizando não é simplesmente geográfica. A região compreendida entre a Samaria e a Galiléia caracteriza uma terra de ninguém, uma região marginal e fora do controle do templo judaico. Luca usa os nomes mais com o interesse de caracterizar os personagens que entram em cena que para dar informações geográficas. Parece que Jesus está sozinho. Será que os discípulos fagiram, ou estão escondidos na figura de parte dos personagens?

Não esqueçamos que a travessia que Jesus está cumprindo é uma caminhada consciente e com um rumo preciso: vai a Jerusalém para enfrentar os poderes religiosos e políticos e revelar a identificação plena e solidária de Deus com os excluídos. E cumpre essa passagem com um ideal muito claro: vai da periferia social para o centro político, transforma os últimos em primeiros, estabelce como centro aquilo que é desprezado, revela a presença de Deus na contra-mão da história e da religião.

“Dez leprosos vieram ao seu encontro...”

Um grupo de leprosos deixa o fechado círculo da cidade e se aproxima de Jesus. Estranhamente, parece que os leprosos não vivem fora da cidade, como manda a lei. “O homem atingido de lepra andará com as vestes rasgadas, os cabelos soltos e a barba decoberta, gritando ‘Impuro! Impuro!’... Habitará a sós e terá sua morada fora do acampamento” (Lv 13,45-46). Será que a lepra que os atormenta não tem suas raízes exatamente no ambiente nacionalista, fanático e fechado da cidade sem nome?

O evangelho diz que dez leprosos saem do povoado e vêm ao encontro de Jesus. Parece que a ideologia estreita e fechada da cidade faz mal, transforma todos seus habitantes em seres proscritos. Mas, em vez de anunciarem claramente a impureza que carregam e assim se manterem longe das pessoas consideradas puras, eles reconhecem Jesus como mestre e gritam: “Tem compaixão de nós!” Há algo que faz com que este grupo saia da cidade em busca de uma mudança.

“Jesus, mestre, tem compaixão de nós!”

O pedido brota do mais profundo da condição de excluídos. Por trás do pedido de compaixão que dirigem a Jesus está a situação dramática que vivem todos aqueles que são infectados pela lepra e, quem sabe, pela ideologia estreita e escravizadora do judaísmo daquele tempo. É importante perceber que os leprosos não são considerados apenas doentes (situação sanitária), mas também impuros (discriminação religiosa) e separados da convivência cotidiana (exclusão social).

Mas o grito quase desesperado implorando compaixão também é revelador de uma embrionária consciência de que Deus não vira o rosto nem fecha o coração diante do drama que eles vivem. Mesmo sem conseguir entender claramente a identidade de Jesus – eles se dirigem a ele como a um chefe! – apelam a algo que não é periférico mas essencial em Deus: sua compaixão transformadora em favor dos últimos e dos marginalizados.

“Um deles voltou glorificando a Deus...”

A resposta de Jesus ao pedido desesperado é o cumprimento de uma norma legal: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Mas como poderiam eles ir ao templo, se era exatamente a lei por ele regulada que os mantinha distantes e separados? Eles ainda não estavam curados, e ousar entrar no templo seria um sacrilégio imperdoável. Mas é no caminho – na caminhada de adesão à Palavra de Jesus Cristo! – que eles são curados. É da ruptura com a cosmovisão estreita e dominadora do templo, da adesão crescente a Jesus e à sua Palavra que vem a força que restaura a dignidade e liberta das exclusões.

Entre os dez leprosos havia um samaritano (mas não esquecemos que, pelo simples fato de alguém ser samaritano, já era socialmente equiparado a um leproso), e os demais provavelmente eram galileus. No caminho todos se vêem curados, mas os nove galileus continuam firmes a marcha em direção ao templo e são por ele novamente assimilados. Apenas o samaritano faz marcha-ré e volta para agradecer e reverenciar a Jesus e glorificar a Deus.

É possível que este grupo de leprosos queira representar exatamente os discípulos/as que resistem a aceitar a novidade exigente e libertadora proposta por Jesus. São os cristãos de todos os tempos que continuam acreditando nos privilégios das minorias – os fariseus, os iluminados, os consagrados, os praticantes, os militantes, os ocidentais, os cristãos, etc. – e na supremacia das leis e instituições para a convivência humana.

“Tua fé te salvou!”

O leproso samaritano representa todos os estrangeiros e demais excluídos que acolhem a mensagem de Jesus e se tornam discípulos. A afirmação de Jesus é clara e contundente: “Tua fé te salvou.” A reconquista da plena cidadania e respeito não é uma concessão generosa do templo ou daqueles que o controlam. Não é também mero resultado de uma piedade difusa e ingênua. É fruto maduro e saboroso de uma fé dinâmica e consequente que sustenta rupturas e buscas.

A declaração solene de Jesus ao samaritano purificado de suas chagas físicas e sociais é semelhante às que verbalizara em outras situações: à mulher que é vista como pecadora e beija seus pés em público (cf. Lc 7,50); à mulher que sofria de hemorragia há 12 anos, e por isso tratada como impura (cf. Lc 8,48); ao cego e mendigo de Jericó (cf. Lc 18,42). Em todas estas passagens se vê o mesmo drama humano e a mesma delicadeza de quem nada reivindica para si mesmo: “Tua fé te salvou!”

No último domingo vimos como o próprio grupo dos apóstolos enfrentava dificuldades de viver pela fé, de romper com a confiança cega no poder do dinheiro e das instituições, de buscar soluções humanas para os problemas humanos. E hoje somos brindados com a figura exemplar deste samaritano que, movido pela fé, rompe com os estereótipos – que às vezes parecem convenientes! – e redescobre sua plena dignidade de filho de Deus. Precisamos sim de ideais com força para mudar a história!

“Levanta-te e vai...”

A experiência de ser acolhido e amado por Jesus Cristo leva à decisão de segui-lo e culmina na aceitação de uma missão. O samaritano curado não é remetido ao templo e suas leis incapazes de libertar, mas enviado em missão. Não é dito o que ele deve fazer, nem onde deve ir. Jesus simplesmente diz “Vai...” Pois a missão é essencialmente isso: descobrir-se radicalmente enviado/a por Outro a outros; sentir-se convocado/a a descobrir sempre de novo onde e a quem servir.

São ideais como este que têm força para mudar a história. Já fizemos referência ao Pe. Burnier, mas devemos lembrar aqui todos/as os/as mártires da América Latina, conhecidos ou anônimos, cuja memória somos convidados a celebrar no dia 11. Mas não esqueçamos também de Paulo, que se diz pronto a suportar tudo em favor dos seus irmãos. “Tenho sofrido até ser accorentado como um falfeitor. Mas a Palavra de Deus não está acorrentada.”

Seguros de que é digna de fé a Palavra que nos ensina que, se morremos com Jesus com ele também viveremos, e mesmo se somos infiéis Ele permanece fiel, rezemos: Te agradecemos, Deus Pai e Mãe, pela nuvem de testemunhas e missionários/as que nos antecederam, nos acompanham e sustentam o edifício da nossa fé. Como eles, queremos romper com tudo o que possa escravizar a nós e nossos irmãos e irmãs, inclusive com uma fé medíocre e medrosa. Ensina-nos a cultivar ideais profundos e coerentes, capazes de mudar a história de dominação que herdamos. Faz de nós uma Igreja missionária, e não permite que nos acomodemos no estreito limite das nossas famílias, grupos e comunidades.

Pe. Itacir Brassiani msf

sábado, 2 de outubro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

“Viver em obséquio de Jesus Cristo”, é viver como Ele viveu. É ter os mesmos sentimentos que havia em seu coração. É despojar-se de tudo para ter tão somente a Deus como valor supremo. “Viver em obséquio” é viver o mandamento novo que Jesus nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

É, sobretudo cultivar a esperança e pôr-se a luta por uma vida sempre melhor e mais qualificada. Seguir Jesus é ser uma pessoa de paz, de mansidão e de coragem. É lutar por um mundo melhor. É amar a vida, amar e cuidar da natureza. Seguir Jesus é ser uma pessoa realizada em sua vocação. É, sobretudo ser alegre e feliz, embora a vida sempre nos reserva sofrimentos. Seguir Jesus é ser forte em meio à dor. É acreditar que uma vida nova é possível, mesmo que tenhamos que viver nossos dias misturados com dores e alegrias.

A Regra do Carmo pede que este seguimento de Jesus seja feito “servindo-o fielmente com puro coração e reta consciência”. Com puro coração e reta consciência vem da primeira carta de São Paulo a Timóteo 1,5. Jesus mesmo nos fala dos puros de coração nas bem-aventuranças: “Felizes os puro de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). “Não se trata da castidade, nem de ingenuidade. ‘A pureza de coração’ é o ponto de chegada de uma longa luta ela indica a ‘consciência espiritual e paz interior’ que permite o discernimento do espírito” (A REGRA DO CARMO, p. 74).

O livro: “Instituição dos primeiros monges”, comentando a vida pos primeiros carmelitas, “fala de como o monge deve apresentar-se como em santuário diante do Senhor, e este santuário é o coração limpo de pecado, assinala o primeiro fim da vida eremítica escolhida, que é oferecer a Deus o coração santo e limpo de todo pecado atual. A primeira finalidade, da vida eremítica, que é o coração limpo, se alcança pelo esforço e a prática das virtudes, ajudados pela graça divina”, o que foi comentado acima sobre o seguimento de Jesus. Ter o coração puro é trabalho pessoal, de empenho nas virtudes, que são todos os valores que Jesus nos trouxe com a Boa Nova, mas é também e, sobretudo dom de Deus.

Para melhor entender a Palavra

Reflexão do 27º Domingo do TC

Uma fé adulta é geradora de um verdadeiro humanismo.


(Hab 1,2-3.2,2-4; Sl 94/95; 2Tm 1,6-8; Lc 17,5-10)

Com este domingo no qual o povo brasileiro vai às urnas – cumprindo um dever e exercendo um direito – damos início ao mês que a Igreja do Brasil dedica à animação missionária. Na mensagem para o Dia Missionário Mundial (24/10/2010), Bento XV recorda que esta é uma “ocasião para renovar nosso compromisso de anunciar o Evangelho e dar às atividades pastorais um ímpeto missionário mais amplo”. E afirma que uma fé adulta, que confia totalmente em Deus e se alimenta da oração e da Palavra, é uma boa base para a promoção de um novo e verdadeiro humanismo. É exatamente sobre a complexa e dinâmica vivência da fé que o evangelho deste domingo discorre. Acolhendo o apelo do salmista, não fechemos hoje nosso coração, e coloquemo-nos à escuta da santa Palavra que Deus pronuncia através da Bíblia e através da vida.

“Por que me fazes ver tanta crueldade, e só ficas olhando a perversidade?”

Olhando de frente a realidade do mundo e seus enormes desafios é difícil não sentir-se impotente: a desigualdade e a indiferença crescem por todos os lados e não cedem aos nossos piedosos apelos; as tragédias climáticas, provocadas direta ou indiretamente pela ação predatória dos seres humanos, golpeia povos inteiros; a hipocrisia e a mentira são o recheio substancioso de campanhas políticas interessadas apenas no poder; e até padres e altos prelados da Igreja se deixam corromper...

Diante desse contexto, descrito apenas em alguns dos seus traços, sentimo-nos um pouco como o profeta Habacuc, que suspira: “Até quando, Senhor, ficarei clamando sem que me dês atenção? Até quando devo gritar a ti “Violência!”, sem me socorreres? Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente. Reina a discussão, surge a discórdia...” A sensação é de que nada consegue ameaçar este enorme muro, e só nos resta lamentar.

Por isso, parece-me fácil entender o fascínio que algumas falsas saídas exercem sobre os cristãos. Uma delas é a visão apocalíptica, que vê nesta situação o confronto mítico entre o mal e o bem, uma luta na qual nosso envolvimento é irrelevante. Outra falsa saída é o refúgio no cultivo interior, na busca de paz mediante a introspecção. Uma terceira saída perigosa é o maniqueísmo, a divisão do mundo entre pessoas e grupos bons e pessoas e grupos maus, e a adesão acrítica aos considerados justos.

“Aumenta a nossa fé!”

A fé é sempre uma luz que nos ajuda a assumir um posicionamento crítico e ativo diante da realidade. O Concílio Vaticano II diz que ela “ilumina com sua luz tudo que existe e manifesta o propósito divino a respeito da plena vocação humana, orientando assim o espírito para as verdadeiras soluções” (Gaudium et Spes 11). São três as ações que a fé suscita: ilumina todas as realidades; revela o que Deus deseja da humanidade; orienta a inteligência humana para a busca de soluções para os diversos problemas.

Por trás do pedido dos apóstolos e da resposta de Jesus apresentada pelo evangelho de hoje estão alguns problemas concretos: o abismo que separa os ricos e indiferentes dos pobres e carentes; o escândalo que isso provoca nas comunidades cristãs; a orientação exigente e concreta da palavra profética; o imperativo do perdão incondicionado aos irmãos e irmãs (cf. Lc 16,19-17,4). É diante disso que os apóstolos reagem assustados e suplicam a Jesus: “Aumenta a nossa fé!”

Qual é o problema dos apóstolos – dos 12 e de todos os que vieram depois? O problema é que eles sentem-se incapazes de romper com alguns valores profundamente arraigados e tidos como essenciais: a necessidade de punir as pessoas consideradas pecadoras ou impuras; a sedução diante de uma religião que prioriza ações milagrosas e espetaculares; o empenho em vista do enriquecimento e do próprio bem-estar ao preço da indiferença frente às necessidades do próximo.

“Se tivésseis fé, mesmo pequena...”

Os apóstolos percebem claramente que necessitam da luz e da força da fé para superar esta floresta de amorreiras que impedem a vida. Eles sabem que a fé não é estéril, mas talvez não têm consciência de que seus frutos não são necessariamente espetaculares. É a irresistível atração pelas coisas grandiosas e que ainda hoje leva tantos irmãos e irmãs – inclusive pastores, padres e bispos! – a ler a metáfora usada por Jesus de forma literal. É triste assistir à multiplicação de pretensos milagres – induzidos e a serviço do poder e da riqueza de alguns poucos – em estádios e shows com transmissão ao vivo...

O que se destaca na resposta de Jesus ao pedido dos apóstolos assustados não é uma fé prodigiosa e espetacular, mas uma fé mínima. “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda...” Ele mesmo sempre evitou recorrer a ações miraculosas para fazer-se ouvido e aceito. Tinha consciência de que a fé não segue ao milagre, mas o precede. As ações de Jesus que chamamos de milagres foram sempre respostas compassivas que vinham em socorro de quem não tinha com quem contar.

O fruto da fé se mostra substancialmente na descoberta da própria dignidade socialmente negada e no olhar que reconhece os seres humanos e todas criaturas como parceiras e irmãs. Mesmo parecendo pequena, desprezível e frágil como semente de mostarda, a fé tem a força necessária para jogar no fundo do mar as estruturas poderosas e opressoras simbolizadas pela amorreira. Mas para isso, é preciso ser capaz de romper com a lógica do poder. E estar disposto a pagar o preço!

“Quero exortar-vos a reavivar o carisma que Deus te concedeu.”

A ação missionária da Igreja é sempre frutuosa, mas ao modo do grão de mostarda. A ação de um/a missionário/a, se pautada pela fé e não pelo poder, jamais será estéril. Aqueles/as que agem como filhos/as de Deus, livres e libertadores, generosos/as e solidários/as, duplamente apaixonados/as por Deus e pela humanidade, nunca serão pessoas inúteis. Inútil é quem age, consciente ou inconscientemente, como servo de senhores cujos nomes próprios são poder, dinheiro, honra.

Paulo lembra a Timóteo a fé sincera que o caracteriza, recebida da avó Loide e da mãe Eunice, e pede que ele conserve esse dom sempre vivo e ativo. A fé gosta de vir acompanhada pela fortaleza, pelo amor e pela sobriedade. Como Paulo e Tmóteo, o/a missionário/a não conhece a vergonha, nem diante de Jesus Cristo , nem diante da perseguição ou do escárnio que sofrem aqueles/as que levam adiante seu projeto. Não é esse o testemunho de Francisco de Assis, cuja memória celebramos amanhã?

Talves seja exatamente isso o que os/as missionários/as têm a oferecer ao mundo em nome dos cristãos: uma fé capaz de romper com todos os dinamismos de isolamento e de dominação; um amor capaz de reestabelecer a dignidade de quem a tem negada; uma esperança que vê para além dos muros e borrascas do tempo presente. Não seriam estes/as missionários/as – com todas as suas fraquezas e contradições – expressões vivas do novo e autêntico humanismo do qual fala Bento XVI?

“Sofre comigo pelo Evangelho...”

Em outras palavras, a missão que brota da fé se ordena à criação de novas relações. Não é uma estratégia para aumentar o número e o poder da própria religião ou Igreja, nem uma cruzada para ensinar conteúdos e doutrinas pretensamente superiores, ou um pacote de atividades para convencer o mundo sobre a importância de crer. Se a missão da Igreja é um dinamismo que tem suas raízes e seu paradigma na missão do Filho e do Espírito, não pode ser reduzido a uma estratégica de conquista.

Crer no Evangelho é estabelecer novas relações, pautadas pela sua prática de Jesus Cristo. O/a missionário/a não se relaciona com um deus-senhor, mas com um Deus-Pai-Mãe-Irmão. Missionários/as são filhos/as legítimos/as e herdeiros/as do sonho divino de uma humanidade única e solidária, de uma sociedade justa e fraterna, e agem para que todas as criaturas descubram esta mesma vocação. Mesmo quando sofrem como quem está em trabalho de parto, sabem que sua vida é semente. Como o justo, o missionário vive pela fé, e sua fé frutifica em vida no povo.

É a ti que nos dirigimos, Deus Pai e Mãe, neste dia em que o povo brasileiro escolhe seus dirigentes e legisladores e no qual iniciamos o mês missionário. Nós somos teu povo e teu rebanho, ovelhas que tua mão conduz. Ilumina nossa inteligência e nossa vontade para que votemos orientados pela fé, comprometidos com a geração de um novo humanismo, com relações interpessoais e internacionais fraternas, justas e solidárias. Vem em nosso auxílio para que nossa fé, mesmo pequena como semente de mostarda, seja ativa, remova as amorreiras da injustiça e renove nossa missão no mundo.

Pe. Itacir Brassiani msf



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Para melhor entender a Palavra

Reflexão para o 26º Domingo do TC

“São tantos os apelos que vêm dos oprimidos...”


(Am 6,1.4-7; Sl 145/146; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31)

O calendário nos lembra que a primavera devagarinho vai chegando ao hemisfério sul, mas a virulência da grande imprensa verde-amarela deixa transparecer o medo e a falta de caráter dos setores arcaicos e cínicos da sociedade brasileira. Eles não conseguem engolir que o povo faça sua própria escolha política a não ser que seja a opção por aqueles que lhe tiram a pele. Efetivamente, aqueles que sempre se lucupletaram e banquetearam, ignorando olimpicamente os milhões de pobres de cujas feridas só os cães se ocupavam, lançam mão de todos os artifícios para mudar os rumos da eleição que se aproxima. Até a religião – tanto as declarações dos fiéis ingênuos como os discursos e documentos dos hierarcas amedrontados – se transforma em munição mortal nos veículos de comunicação. Mas entre entra estas elites mascaradas e o povo se cavou um abismo que nem as montanhas de jornais repletos de acusações e de desprezo pelo povo podem encher.

“Procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão...”

Precisamos sempre de novo nos interrogar: o que estamos mesmo buscando na religião? Vários estudos sérios mostram como as pessoas simples, e não só elas, são atraídas pelos fenômenos fantásticos e miraculosos. A multiplicação de novenas e promessas, assim como o crescimento das peregrinações ao encontro do enésimo curandeiro ou milagreiro o comprovam. Por trás disso está a insegurança na qual vive boa parte do nosso povo, mas também a sedução exercida por tudo o que cheira a milagre.


E há também aqueles que buscam a religião como sustentação para interesses e projetos de dominação, desde os homens que buscam argumentos para seu machismo decadente até os políticos que caçam desesperadamente apoio para suas carreiras. Mas não esqueçamos também a erva daninha do sucesso que lança raízes em não poucas pessoas que se consagram a Deus e se apresentam para exercer o ministério em nome dele. (Nesse contexto os padres popstars prestam um péssimo serviço.)


Na carta a Timóteo proposta pela liturgia de hoje Paulo pede bem outra coisa. “Tu que és um homem de Deus, procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé...” Trata-se de juntar a piedade à prática da justiça, de unir a solidariedade à fé, de casar a mansidão com a perseverança no seguimento de Jesus Cristo, único e soberano líder que pode nos guiar a um mundo justo, fraterno e liberto.

“Ai dos que se deitam em camas de marfim, indiferentes ao sofrimento de José...”

No evangelho deste domingo, Jesus continua nos alertando em relação ao risco da aparência, do dinheiro e do poder. Ele polemiza com os fariseus, mas sua atenção está voltada aos discípulos/as. A fé na sua Palavra e a adesão aos seus ensinamentos deve mudar e qualificar nossa relação com os bens e com os pobres. Uma fé vivida unicamente como remédio para nossos males individuais ou como combustível para uma carreira de sucesso tem pouco a ver com Jesus Cristo.


O fato é que, tanto no tempo do evangelista como hoje, frequentemente há um abismo, tanto real quanto ignorado, que separa as pessoas que frequentam a mesma comunidade. É isso que aparece na parábola proposta por Jesus: há um rico que se veste rica e elegantemente e dá explêndidas festas todos os dias; e um pobre coberto de feridas, devorado pela fome, rodeado de cachorros e sentado na calçada, em frente à porta da casa do rico e absolutamente invisível a irrelevante para ele.


Esta é uma triste imagem de um Brasil ainda dividido pela miséria e pela injustiça, apesar dos esforços dos governos e outras instituições. É também um retrato de um mundo cínico e injusto, dividido entre um punhado de países opulentos e uma maioria de países empobrecidos. O profeta Amós dirige duras palavras aos primeiros: dormem em camas de marfim, comem manjares suculentos e bem vinhos finos, usam perfumes caros dedilham instrumentos musicais mas são indiferentes às dores do povo.

“Pai Abraão, tem compaixão de mim!...”

Mas no centro da vida cristã está deve estar a compaixão pelos pobres, e não a indiferença e a busca do próprio bem-estar. O caminho entre a porta e a mesa deve ser amplo e aberto. Não é possível cortar a relação entre a fé e a justiça. Jesus não aceita a indiferença dos ricos frente à (má) sorte dos pobres. Sua Palavra é clara e contundente: “Ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc 6,24). Ele insiste que os pobres e os sofredores devem ocupar os primeiros lugares na lista de convidados para as e celebrações (cf. Lc 14,13). Mas Lázaro nunca pode passar da porta do rico.


Soa estranho, para não dizer cínico, o pedido de compaixão do rico em meio aos tormentos. Mesmo na tragédia pessoal, ele continua achando que os pobres devem estar a seu serviço: bem que eles poderiam molhar sua língua para aliviar a sede ou avisar seus parentes para livrá-los a tempo dos males que os esperam... Não pode não ser cinismo este apelo para que os pobres tenham compaixão dos ricos que sempre se vestiram de indiferença e prepotência.

“Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento.”

O caminho para o céu é feito de terra. E aqui é preciso lembrar que indiferença corta a comunicação, destrói as pontes, cava abismos e fere de morte a colaboração solidária entre as pessoas. Será que a simples participação numa celebração religiosa, num comício político ou numa festa civil pode criar relações entre pessoas e grupos que, fora deste espaço, se ignoram, enfrentam ou exploram? Será que a água benta ou o cântico melodioso pode congregar aqueles que a indiferença separa?


É lamentável que muitos pregadores/as caiam na armadilha de uma leitura fácil e preconcebida e proponham esta parábola de Jesus como uma espécie fotografia da inversão que a morte provocaria na vida real. Jesus não está querendo falar da felicidade que espera os sofredores no paraíso ou do sofrimento destinado aos ricos depois da morte. O que ele quer enfatizar é o caráter decisivo e irreversível das opções que fazemos e das práticas que desenvolvemos no tempo presente.


É incrível como também hoje, imitando os fariseus do tempo de Jesus, tantas pessoas que se apresentam como piedosas queiram simplesmente irgnorar as palavras e ações proféticas que a Bíblia nos propõe. Muitas passam ao largo da fraqueza e da compaixão de Deus na cruz e buscam sinais milagrosos e piedosos. Mas não há outro sinal senão o de Jonas, ou seja: a conversão a um Deus despojado por amor (cf. Lc 11,29-32). Este é o único caminho digno de um discípulo de Jesus Cristo.

“Eles têm Moisés e os profetas. Que os escutem!”

Na vida cristã autêntica não há lugar para privilégios, nem para milagres. O caminho cristão é pavimentado pela escuta da Palavra de Deus e pela conversão. Jesus se demora na descrição das tentativas infrutíferas do homem rico para reverter uma situação irreversível: ignorar o abismo que ele mesmo cavou e pedir que lhe tragam água para amenizar a sede; e enviar um morto ressuscitado para convencer seus parentes da necessidade de mudar de comportamento.


Mas não há sinal poderoso ou milagre esplendoroso capaz de tocar o coração e a mente de quem se fechou em si mesmo/a e faz da indiferença uma couraça protetora. Nada pode curar aqueles/as que se fecharam hermeticamente à palavra e ao testemunho dos profetas, dos apóstolos e do próprio Jesus. Moisés soube escutar os clamores do seu povo, compartilhar suas dores e seus anseios de liberdade. Os profetas não fizeram outra coisa que lembrar e reivindicar o direito divino dos pobres. E Jesus se fez do pobre companheiro e servidor, situando-se no meio dos últimos, inclusive na cruz.


Não adianta apelar para privilégios. Deus desconhece qualquer privilégio fora da prioridade absoluta dos pobres. De nada serve protestar dizendo, ao modo de cobras venenosas e traiçoeiras: “Nosso pai é Abraão!” (Lc 3,8). Ou então: “Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças.” É preciso escutar a fundo a voz da consciência, na qual ressoa a Palavra de Deus escrita no livro sagrado: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça” (cf. Lc 13,22-30).


No final deste mês da Bíblia digamos com todo o nosso ser: “Fala, Senhor! Fala da Vida! Só tu tens palavras eternas, e nós queremos ouvir. São tantos os apelos que vêm dos oprimidos. Tu és quem liberta, o Deus dos esquecidos. Ajuda-nos a vencer a indiferença que abre abismos entre pessoas que nasceram para ser irmãos e irmãs. Ensina-nos a acolher aquilo que nos dizes através dos profetas e santos/as de todos os tempos. E que tua Palavra seja sempre a luz dos nossos passos. Amém!”

Pe. Itacir Brassiani msf

Comentando a Regra do Carmo *

“Viver em obséquio de Jesus Cristo” é assumir a causa que Ele assumiu: “Veio para fazer a vontade do Pai”. A vontade do Pai é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, verdade que é Deus e seu Reino. Fazer a vontade do Pai dentro do contexto de cada um, e, nós desde a América Latina é decidir-nos ao seguimento de Jesus como libertador, servindo-O com uma prática libertadora dos povos, do sistema que os oprime.

É estar ao lado dos últimos, dos excluídos, dos menos favorecidos e participar de suas lutas em busca da libertação e dias melhores. Deus é o Deus de todos, mas Ele abomina o pecado pessoal e social, a opressão dos poderosos sobre os pobres. Deus não tolera diferenças sociais que clamam aos céus. E seguir Jesus é colocar-se nesta dinâmica de se preciso for, dar a vida para que o mundo, a América Latina seja uma Grande Pátria, que tenha um rosto livre, feliz, libertado das injustiças e exclusão. Que seja um continente com um rosto de irmãos.

“Viver em obséquio de Jesus Cristo”, é colocar-se ao lado dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados. Nada deve doer mais em nosso íntimo do que ver um irmão sem dignidade, desfigurado pela fome, pela exclusão, indo em busca de material reciclável, buscando pelas ruas de nossa cidade em seu pobre carrinho, cheio de papel, garrafas, e ainda pior, em busca de comida entre o lixo que os que têm mais jogam fora. Seguir Jesus é isto, é ter um coração compassivo, solidário, fraterno. E como uma carmelita de clausura pode segui-Lo assim? A Regra nos dá a infra-estrutura de como viver isto. O Carmelo nasceu assumindo a causa dos “menores”, que no início do século XIII eram os pobres. Os carmelitas se identificaram com eles e se tornaram mendigos. Até hoje continuamos uma Ordem de mendicantes que vivem apenas do necessário. Mas o Carmelo não possui uma rica mística e espiritualidade? Sim, porém toda mística e espiritualidade passam pela “opção preferencial pelos pobres” (Puebla).

Ir. Rejane

Aniversários

Ontem e hoje a comunidade acordou em festa, pois duas irmas estream idade nova. Abaixo seguem algumas fotos 
Parabéns às irmãs aniversariantes!



Irmã Paula esteve de aniversário ontem, 23

Irmâ Elisabete hoje, 24













O dia de ontem, no aniversário de Ir. Paula, a comunidade cantando os parabéns


A hora das saudações


Ir. Elisabete, apagando as velinhas. Atenção!! Ela completou 45 e não ao revés...

Recebendo a saudação de Ir. Ma. Teresinha