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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 26 de novembro de 2016

1º DOMINGO DO ADVENTO

Preparemos o Natal revestindo-nos do Senhor Jesus Cristo!
Image result for adventoEis que inicia a preparação para a festa do Nascimento de Jesus, o rosto da misericórdia de Deus. Não esqueçamos que, de preparação para o Natal, ninguém entende mais que Maria, aquela de Nazaré. Ela não pensou em pinheirinhos, em luzes coloridas, em presentes e festas, nem mesmo em novenas. Depois de descobrir-se chamada a colaborar com o advento do mundo sonhado por Deus desde sempre, e depois de dar sua resposta madura e generosa, ela não perdeu tempo: viajou apressada ao encontro de Isabel para servi-la e para comprovar os sinais da visita de Deus no seu corpo e na história.
Na sua carta, Paulo pede que tenhamos consciência do tempo em que estamos e que despertemos, pois o tempo de graça e de paz, sonhado de geração em geração, está mais perto do que nunca. Será verdade? Os fatos não estão sinalizando exatamente o contrário? Nunca como hoje os direitos do povo estão sendo tão cinicamente ameaçados. Nunca como agora o mar Mediterrâneo se encheu de cadáveres de migrantes desesperados, sob o olhar indiferente do mundo ocidental. Nunca como nesta época de mercantilização da vida o desejo de mudança foi engolido ou anestesiado pelo desejo de consumo...
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Não, Paulo não está delirando! Ele sabe que quem conhece a importância do momento que vive e sabe que o Dia está chegando, é capaz de despojar-se das ações que só prosperam nas sombras e nas trevas: a insensibilidade diante do sofrimento dos inocentes, o acovardamento diante do cinismo dos poderosos, a indiferença frente ao assalto aos direitos sociais mais elementares, a sede de prosperidade e bem-estar individual a qualquer custo, as brigas e guerras sempre irracionais, as festas e orgias que se multiplicam e insultam o crescente e criminoso empobrecimento de setores cada vez mais numerosos...
A verdadeira preparação para o encontro com o Senhor que vem se faz quando nos despojamos dos trajes vistosos que mal escondem sangue e clamor e nos revestimos do Senhor Jesus Cristo. Preparamo-nos para o advento do Reino de Deus trocando a roupa, tão burlesca como mentirosa, do Papai Noel e nos revestindo com os trajes surrados e autênticos de Jesus de Nazaré, o profeta da Galileia. Por mais simpático que queiram fazê-lo, o Papai Noel não passa de promotor de vendas de um mercado sedento de lucros, um vendedor de ilusões que nos embriagam e nos mantém adormecidos!

Revestir-se de Cristo significa fazer nossos os seus sentimentos, pensamentos e projetos. E ele viveu sua missão de enviado e amado do Pai eliminando as distâncias que separam pessoas, desfazendo as hierarquias que elevam uns sobre outros, compartilhando a mesa rejeitada pelos que querem sentar-se no tribunal como juízes, exercitando a compaixão quando muitos desejam a punição, repartindo tudo quando alguns não pensam senão em acumular, fazendo-se humano quando muitos pretendem ser divinos, abraçando a cruz e a anulação de si mesmo quando a maioria deseja apenas sucesso e a fama...
Image result for adventoSim, o Natal de Jesus e a vinda do seu reino nós os prepararemos permanecendo acordados, atentos e comprometidos. Segundo o evangelista, o próprio Jesus nos lembra que os contemporâneos de Noé não souberam avaliar o que estava germinando sob o próprio nariz e distraíram-se com festas, comidas e bebidas, o mesmo modo de preparar o Natal que o Mercado nos propõe hoje. Precisamos ficar atentos e alertas, porque não sabemos o dia em que o Senhor virá a nós, onde armará sua tenda e com que trajes baterá à nossa porta. Não nos enganemos pensando que ele nascerá em Belém, no dia 25 de dezembro...
“Ficai atentos! Ficai preparados! Já é hora de despertar! Deixai-vos guiar pela luz do Senhor! Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo!” Estas são palavras que ecoam com força e nos ensinam o modo correto de ir ao encontro do Cristo que vem. Precisamos transformar as espadas em enxadas, os fuzis em foices, os muros em pontes, os confrontos em abraços, o consumo em compaixão... Enfim, substituir ‘o bom velhinho’ pelo Deus Menino! Precisamos deixar-nos mover pelo ardente desejo de viver o Reino de Deus, acorrendo com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem. E isso sem perder o senso de urgência dessa mudança de rumo e de práticas. Ele pode vir no momento menos esperado...
Image result for adventoEnsina-nos, Jesus de Nazaré, a trilhar o caminho que conduz ao encontro contigo. Ajuda-nos a viver acordados, lúcidos e solidários as quatro semanas de Advento que se abrem diante de nós. Dá-nos um olhar límpido e inteligente, capaz de ver onde, como e quando teu Reino está germinando e pedindo nossa colaboração. Desperta em nós a coragem e a criatividade necessárias para transformar espadas em enxadas, lanças em foices, indiferença em compaixão, presentes em presença. E que não sejam desiludidos os pobres e desamparados que esperam somente em Ti! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

sábado, 19 de novembro de 2016

SOLENIDADE DE CRISTO REI

Jesus Cristo é um ‘rei’ pobre, misericordioso e servidor!
Image result for cristo reiHá mais de 50 anos atrás, durante o Concílio Vaticano II, o saudoso e profético Dom Helder Câmara escrevia, de Roma, aos seus colaboradores: “Celebrei a missa de Cristo Rei. Claro que ele é Rei. Mas de uma realeza tão diferente, que eu me angustio ao ver que, de certo modo, exploramos a realeza dele para justificar inconscientemente a nossa. Durante a missa, pensei o tempo todo no pobre Rei, com estopa nas costas e coroado de espinhos. E fiquei repetindo baixinho: ‘Meu pobre Rei, para mim você é (o mendigo) Luciano’. Dependesse de mim e criaríamos uma festa nova: a festa de Cristo Servidor e Pobre”.
Ainda hoje, as imagens do poder continuam exercendo sobre uma irresistível sedução sobre muita gente. Muitos experimentam uma espécie de êxtase quando têm a oportunidade de se aproximar de um chefe de estado, de um rei ou príncipe, de um ídolo do esporte, de um cardeal ou do Papa. Mas os Evangelhos nos previnem severamente contra os riscos de uma aproximação ingênua entre Jesus Cristo e um rei ou um destes ídolos famosos e poderosos. Quem identifica Deus com os reis, príncipes e sacerdotes acaba olhando o Cristo crucificado e os excluídos de todos os tempos sem entender nada.
É verdade que Jesus anunciou algo como um reino ou reinado de Deus. Ele mesmo foi aclamado como descendente do rei Davi, como o Messias e o rei esperado. Mas isso nada tem a ver com a figura dos reis e chefes que a história nos deu a conhecer, pois alguns deles assassinaram os próprios familiares para alcançar o trono. A referência a Davi expressa a esperança de uma liderança nova e popular, de um líder humilde e corajoso na defesa dos injustiçados, nos moldes do frágil e rejeitado filho de Jessé, excluído pelo próprio pai da festa dos filhos e herdeiros (cf. 1Sm 16,1-13).
Image result for cristo reiJesus anunciou e colocou em ação o reinado de Deus. Deus reina quando os coxos andam, os cegos veem, os mudos falam, os presos conquistam a liberdade, os oprimidos adquirem a cidadania, os mortos ressuscitam e os pobres recebem boas notícias. Deus reina na medida em que homens e mulheres superam as relações de dominação e exercitam a liberdade e a solidariedade. Jesus realiza o reinado de Deus esquecendo-se de si, fazendo-se irmão e servidor de todos, prioritariamente dos últimos na escala social. Ele renunciou à igualdade com Deus, despojou-se de tudo e assumiu a vida humana e a posição social dos escravos. E é por isso que o mundo inteiro deve fazer reverência diante dele.

A cena descrita por Lucas no evangelho de hoje nos apresenta Jesus crucificado entre dois condenados à morte. Toda a sua vida foi uma proclamação viva de um Deus que acolhe os últimos e faz justiça aos oprimidos. Pregado na cruz entre dois condenados, Jesus proclama silenciosa e inequivocamente a solidariedade de Deus com os excluídos e põe em ação o reinado de Deus. Enquanto os reis e príncipes se afastam dos homens e mulheres e os consideram desprezíveis, Jesus compartilha a sorte dos condenados e os acolhe no seu reinado. Certamente esse não é um rei muito convencional.
Por isso, o Cristo pendente da cruz permanece uma espécie de espada que penetra nossa fé até à medula e incomoda a Igreja e seus chefes. E não passam de fuga e de traição as tentativas de substituir os espinhos por uma coroa de ouro e a cruz por um trono glorioso. É nesta condição de condenado e de proscrito, de quem compartilha a condição dos desclassificados, que Jesus nos livra das trevas do poder impostor e é o primogênito da humanidade regenerada, a cabeça da Igreja seu corpo, o príncipe das mulheres e homens libertos. A ele podemos pedir: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reinado!”
Enquanto expressão mais radical da proximidade e da solidariedade de Deus com a humanidade discriminada, Jesus é potente e eloquente sacramento da humanidade renovada. É entregando-nos a vida como dinamismo e força de uma compaixão que regenera que ele nos salva. É compartilhando a humana carência que ele conquista a plenitude pela qual todos anelamos. E é fazendo-se em tudo irmão e servo que ele resgata a dignidade da verdadeira autoridade. É na boca de um dos companheiros proscritos e condenados que ressoa a proclamação da inocência de Jesus: “Ele não fez nada de mal.”

Diante de ti, Jesus de Nazaré, e dos irmãos que estão à tua direita e à tua esquerda, reconhecemos a loucura dos nossos desejos de poder e de glória, e te suplicamos: elimina do nosso coração e da tua Igreja estas pretensões descabidas e o medo que elas escondem. Reveste-nos da tua corajosa compaixão e guia-nos no caminho da solidariedade com os últimos, a fim de que sejamos apenas mas sempre Servidores dos mais pobres, multiplicando sinais luminosos e efetivos do teu reinado ativamente presente na compaixão. Só assim contribuiremos para que reines, e seremos realmente teus irmãos e irmãs. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

VISITA DE DOM CLEMENTE

 Tivemos a grande alegria da visita e celebração com nosso Bispo emérito Dom Clemente Weber no dia 16 passado. Aproveitamos para celebrar a festa do Santos Mártires das Missões do qual será no próximo dia 19, sábado, com a Romaria ao Santuário do Caaró no Domingo. Dom Clemente sempre com sua serenidade e alegria deixou uma linda mensagem de esperança e fé e lembrou várias vezes com entusiasmo que esta é a sua Diocese e que mesmo não estando morando aqui sempre guarda em seu coração e na oração todo o povo desta cidade e Diocese do qual trabalhou vários anos. Obrigada Dom Clemente pela visita e por sua oração.












sábado, 12 de novembro de 2016

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM


COMO CONSTRUIR O REINO DE DEUS EM TEMPOS TÃO DIFÍCEIS?
Jesus não se deixa enganar pelo gesto meticulosamente pensado dos ricos que versam volumosas esmolas, banhadas de sangue, no tesouro do Templo, e critica a exploração que elas encobrem. Mas alguns discípulos se extasiam diante da grandiosidade dos muros e das ofertas... Será que imaginam que Deus vem a nós montado no poder e sua glória repousa nos templos suntuosos? Será que a eternidade e a estabilidade são privilégios do poder e da grandeza? Será que o amor humilde e perseverante carece de brilho e de esplendor? Será que os últimos serão sempre os últimos?
Para Jesus, o futuro não é uma simples reprodução potencializada dos horrores e injustiças do presente. Segundo o profeta Malaquias, no projeto de Deus há um ‘dia do Senhor’, um dinamismo semelhante ao fogo que queima como palha o atrevimento daqueles que praticam injustiças: deles não sobrará nem raízes, nem ramos. Mas, para os oprimidos, este dia surge como sol depois de uma tempestade, fazendo-os saltar de alegria. A força de Deus que age mediante pessoas, grupos e comunidades frágeis e perseverantes reduzirá a nada as grandezas erguidas com o sangue e o suor dos pobres.
Jesus não se impressiona com a aparente estabilidade do Templo. “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.” Ele não prevê uma vingança do destino, nem algo que acontecerá independente da ação humana. Quem crê nesta Palavra se liberta da sedução das grandes coisas e, na mesma medida, começa a desestabilizar os podres poderes na sua própria base. Mas, em nenhum momento Jesus nos assegura que esse caminho será fácil, pleno de êxito e de glória. Ao contrário, ele insiste que a luta é grande e difícil. O que ele faz é assegurar sua presença ao nosso lado.
Viver na nostalgia e na expectativa dos grandes eventos, momentos e monumentos é contrário ao espírito de Jesus. O caminho daqueles que levam em seu corpo as marcas do crucificado é o único capaz de transportar vida e garantir fidelidade à Igreja do Senhor. Mas precisamos ficar atentos, pois, nos momentos de crise, quando os caminhos se bifurcam e os poderes estabelecidos inventam novas formas de opressão, costumam surgir mensageiros que se apresentam como libertadores, propondo estranhos caminhos de salvação e assegurando que ela está à porta.
Jesus pede que não sejamos ingênuos, e diz claramente: “Não andeis atrás desta gente!” Não podemos dar crédito a mensagens e mensageiros alheios ao Evangelho, que passam à margem da compaixão com os pobres e da humildade da semente de mostarda. E isso mesmo quando tais mensagens e mensageiros vêm do interior da Igreja e revestidos de ostensiva piedade. Não podemos seguir aqueles que nos distanciam de Jesus Cristo e seu Evangelho, fundamento e origem da nossa fé. Não podemos ceder a propostas de fuga dos conflitos e de espera passiva da intervenção de Deus.
Os tempos difíceis não são para suspirar, lamentar e desanimar. É verdade que somos tentados a pedir demissão da condição de discípulos missionários ou a lançarmo-nos afoitos na restauração de estruturas caducas que parecem nos garantir segurança. Jesus aponta para uma direção diferente. Nos tempos difíceis e contraditórios é preciso aprofundar as raízes, ampliar os horizontes, identificar o que é essencial e inegociável. O planejamento da própria defesa não pode consumir nossas melhores energias! Insegurança, marginalização e perseguição não são sinais de fracasso, mas convites a anunciar o Evangelho com a vida. “Será uma ocasião para dardes testemunho...”
Cada geração tem seus próprios problemas e desafios. Sem perder a calma, precisamos encontrar a forma adequada de testemunhar aquilo que cremos e esperamos. Não precisamos sonhar com heroísmos que ultrapassam as nossas forças, nem com defesas e seguranças que impedem que nos tornemos adultos na fé. Não podemos sacrificar a vocação profética no ambíguo altar da apologética.  Jesus não promete vida fácil para quem segue seus passos. A vitória e o sucesso são meras possibilidades, mas a perseverança na luta é uma obrigação.

Jesus, sonhador indomável, verbo eloquente e profeta perseguido: fica conosco nestes tempos difíceis, de ruína e de reconstrução do mundo, da Igreja e do Brasil. Ensina-nos a viver a fé, a cultivar um estilo de vida paciente e tenaz, liberto e criativo, que nos ajude a responder aos muitos desafios sem perder a serenidade, nem a lucidez e a coragem.  Ajuda-nos a construir o mundo que sonhaste nas situações adversas nas quais vivemos, sem medo, sem passividade e sem ingenuidade, esperando como se tudo dependesse de ti e sendo criativos como se tudo dependesse de nós. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

SANTA ELISABETE DA TRINDADE

Image result for santa elisabete da trindadeO Padre Geral Savério Canistrá da Ordem Carmelita por ocasião da canonização de Elisabete da Trindade escreveu uma linda carta a todos os carmelitas e as irmãs. Deixamos aqui um pequeno texto desta carta. Neste dia 08 celebramos a memória de Santa Elisabete e ela tem muito a nos dizer.
VIVER POR AMOR
Um fio condutor une a experiência de Elisabeth desde quando era criança até quando – ainda jovem, mas já amadurecida – sobrevier a morte: a intuição de que a única coisa importante é “viver por amor”. Encontra em Jesus, crucificado por amor (cf. C 133), o Deus que é capaz de vencer seu temperamento impetuoso e colérico e empolgar seu coração sensível e sedento de beleza. N’Ele vê e toca um amor apaixonado e apaixonante, que a conquista e a faz decidir, em tenra idade, ser toda sua. É o contato que se dará no mais belo dia de sua vida, o dia de sua primeira Comunhão, “Em que Jesus fez em mim sua morada,/Em que Deus tomou posse de meu coração,/Tanto e tão bem que desde essa hora,/Desde esse colóquio misterioso,/Não aspirava senão a dar a minha vida,/A devolver um pouco de seu grande amor/Ao Bem-Amado da Eucaristia,/Que repousava em meu fraco coração,/Inundando-o de todos os seus favores” (P 47).
           As dificuldades que deve enfrentar em seu processo de amadurecimento – como o contraste entre o desejo de entrar no Carmelo e a oposição da mãe, a quem tanto ama; querer permanecer recolhida em intimidade com Jesus e participar em festas dançantes, onde jovens fascinados por sua beleza demonstravam interesse por ela; sentir-se chamada à solidão, que exige desapego e separação, e estar envolvida em tantas atividades artísticas e sociais; dar todo o coração a Deus e, ao mesmo tempo, ser disponível e afeiçoada às suas amigas – encontram sua solução na atração que exerce sobre ela “o grande amor” de Cristo, que resplandece na Cruz, lenho capaz “de atear na alma o fogo do amor” (C 116).
Image result for santa elisabete da trindade          Entre as citações mais amadas por Elisabeth está o incipit do hino da carta aos Efésios, onde São Paulo anuncia o destino glorioso do homem, dizendo que fomos pensados, abençoados e predestinados desde a eternidade “para ser santos e imaculados diante d’Ele, no amor” (Ef 1, 4). Por isso, “a alma que discute com o seu eu, que se ocupa com as próprias sensibilidades, que segue um pensamento inútil, um desejo vão, dispersa as forças e não está toda voltada para Deus” (Último retiro,3). Tudo que não é feito por Deus é nada (cf. C 285), esvazia ao invés de preencher, dispersa ao invés de reunir. Não é a atividade que dispersa, mas o fato de não crer “que um Ser, chamado Amor, habita em nós” (C 284), de não estar unidos ao Ser que nos ama, ao Pai que, em Cristo, nos espera em sua casa e com Seu Espírito nos sustenta no caminho.
           O grande ato da fé – recorda-nos Elisabeth, fazendo eco ao evangelista João – é acreditar no imenso amor que Deus tem por nós (cf. O Céu na fé, 20). A unificação da pessoa se dá, pois, pelo poder do ato de fé e reverbera na sensibilidade. Portanto, para crescer harmonicamente, curar as feridas da vida e amadurecer como pessoa, não se deve ter como objetivo o cuidado do próprio eu ou a superação da própria debilidade, mas antes sair de nós mesmos, deixar o próprio eu (cf. Último Retiro, 26) em uma vantajosa troca com o eu de Cristo, que “quer consumir nossa vida para mudá-la na sua: a nossa, cheia de vícios; a sua, cheia de graça e de glória, totalmente preparada para nós, com a única condição de nos renunciarmos a nós mesmos” (O Céu na fé, 18).

            
Image result for santa elisabete da trindade   O segredo é, então, reconhecer o quanto somos amados, fixando os olhos no Mestre que veio acender o fogo do amor e quer vê-lo arder em seus discípulos, para que se espalhe visivelmente em todo o mundo. O amor divino é de tal modo excessivo e sem medidas que arrasta a alma que o permite, tornando-a constante, não mais sujeita aos solavancos imprevisíveis e inevitáveis da vida, “porque vê o Invisível” e “não se detém mais nos gostos e nos sentimentos”; acontece verdadeiramente que “mais a alma é provada, mais aumenta a sua fé, porque transpõe, por assim dizer, todos os obstáculos para ir repousar no seio do amor infinito cujas obras só podem ser de amor” (O Céu na fé, 20). Aliás, essa é a experiência humana do Filho enviado pelo Pai à terra e acolhido pela humilde Mãe; esse é o anseio inscrito no ser de cada homem; essa é a graça do batismo que, por tal razão, constitui um novo nascimento, uma iluminação permanente para quem faz memória dele; é o início da vida eterna (cf. O Céu na fé, 2).

sábado, 5 de novembro de 2016

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

BENDITA E SANTA FOME E SEDE DE JUSTIÇA!
Image result for TODOS OS SANTOSHoje a festa é de todos os santos e santas. Como poderíamos esquecer que a verdadeira santidade é aquela que se manifesta na vida das pessoas que ousam sair do estreito limite dos seus próprios interesses e se aproximar solidariamente dos últimos; que vão aos rincões mais distantes para levar a bandeira da paz; que são movidas por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de todas as cores, e provam o fel da violência e da perseguição; que transformam a terra pela mansidão...? Celebremos a alegria de participar de uma imensa caravana de homens e mulheres de todas as raças, nações e línguas que nos precedem, nos acompanham e nos seguem.
A festa de hoje faz memória das santas e santos esquecidos, daqueles que não têm um dia especial, nem um nome conhecido, que gastaram a vida anonimamente e cujos milagres não cabem nas estreitas regras canônicas; de gente como Sepé Tiarajú, Padre Cícero, Dom Romero, e Ir. Dorothy; e mesmo de gente que não rezou pelo nosso catecismo, como Lutero, Martin Luther King, Gandhi, Betinho e tantos outros. Hoje celebramos a memória de todos aqueles que nos antecederam na fé e cujo testemunho mantém a Igreja e a humanidade no caminho certo, apesar das suas resistências e ambivalências.
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Mas a celebração de todos os santos e santas não olha somente para o passado. É oportunidade e provocação para refletir sobre a vocação fundamental de todos os cristãos. É verdade que a santidade é um caminho estreito e uma vocação exigente, mas isso não significa que seja reservada a alguns grupos especiais de cristãos. Há mais de 50 anos o Concílio Vaticano II proclama de forma clara e inequívoca, contra a ideia predominante nas Igrejas, que a santidade não é privilégio dos sacerdotes e religiosos. Muito antes, a história já havia comprovado o que agora é proclamado solenemente.
Na passagem do milênio, João Paulo II nos provocava a não contentarmo-nos com pequenas medidas, com voos rasantes e ideais nanicos, e pedia que aspirássemos nada menos e nada mais que à santidade. O chamado à santidade, que é para todos, precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas. Como diz São João, nós somos chamados filhos de Deus e já o somos desde agora, mas somos desafiados a crescer na identificação com Jesus Cristo, a gravar no corpo e na mente as marcas de Jesus Cristo. “Seremos semelhantes a ele...” E isso deve ser mais que um simples sentimento.
Jesus Cristo é o verdadeiro e perfeito santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo, mesmo que tal seguimento seja implícito. Trata-se de refazer o caminho prático trilhado por Jesus: “amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu; sentir como Jesus sentia...” Este é o caminho para que, no meio ou no fim do dia e no meio ou no fim da vida, sejamos felizes, santos. O caminho para santidade, percorrido pelo próprio Jesus Cristo, é pavimentado pelas bem-aventuranças!
A bela mensagem deste trecho do “sermão da montanha” apresenta os sinais que indicam o caminho da santidade. Jesus não fala de oito grupos específicos de pessoas, mas de oito características daqueles que percorrem este caminho. Esta via sagrada começa com a pobreza e termina com a perseguição, que não representa um obstáculo, pois o Reino de Deus é antes de tudo dos pobres e dos perseguidos. A consolação é para os aflitos, a terra é para os mansos, a saciedade é para os famintos, a misericórdia é para os compassivos, a visão de Deus é para os puros e a filiação divina é para os promotores da paz.

Image result for TODOS OS SANTOSFelicidade e santidade não significam ausência de dificuldades, mas realização plena e profunda do ser humano. Mais que perfeição, santidade é perseverança no amor e no serviço. Passa longe do Evangelho uma santidade que se resume em práticas de piedade e devoções. Está distante da essência humana uma felicidade baseada no sucesso pessoal, indiferente à sorte dos semelhantes. As pessoas que se vestem de branco e trazem palmas nas mãos são aquelas que vieram da grande tribulação, que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, que encarnaram o Evangelho no mundo e na própria vida.
Deus pai e mãe, fonte de toda santidade. Dá-nos a graça de permanecermos sempre de pé diante do teu Filho, rodeados pela nuvem de testemunhas anônimas, de gente de todas as nações, tribos, raças e línguas. Ajuda-nos a superar a tentação de separar, catalogar e hierarquizar católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Fica conosco e caminha à nossa frente, para que estejamos sempre prontos a amar e servir. E que a inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas seja nossa arma e nosso triunfo. E então estaremos vivendo em comunhão com aqueles que te louvam no céu e na terra. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf