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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 11 de janeiro de 2020

EXPERIÊNCIA PESSOAL DE JESUS

Resultado de imagem para BATISMO DE JESUSPara Jesus, o encontro com João Batista foi uma experiência que mudou a sua vida. Após o batismo no Jordão, Jesus já não retorna ao trabalho em Nazaré; nem adere ao movimento do Baptista. A Sua vida centra-se agora num único objetivo: gritar a todos a Boa Nova de um Deus que deseja salvar o ser humano.
Mas o que transforma a trajetória de Jesus não são as palavras que escuta dos lábios do Baptista, nem o rito purificador do batismo. Jesus vive algo mais profundo. Sente-se inundado pelo Espírito do Pai. Reconhece-se a Si mesmo, como Filho de Deus. Doravante, Sua vida consistirá em irradiar e contagiar o amor insondável de um Deus Pai.
Esta experiência de Jesus tem um significado também para nós. A fé é um itinerário pessoal que cada um de nós deve percorrer. É muito importante, sem dúvida, o que ouvimos desde crianças aos nossos pais e educadores. É importante o que ouvimos de padres e pregadores. Mas, no final, devemos sempre fazer uma pergunta: Em quem acredito eu? Acredito em Deus ou acredito naqueles que me falam sobre ele?
Não podemos esquecer que a fé é sempre uma experiência pessoal que não pode ser substituída pela obediência cega ao que os outros nos dizem. Do lado de fora, podem orientar-nos para a fé, mas somos nós mesmos que devemos abrir-nos a Deus com confiança.
Por isso, a fé não consiste também em aceitar, sem mais, um determinado conjunto de fórmulas. Ser crente não depende primariamente do conteúdo doutrinário que se recolhe num catecismo. Tudo isso é muito importante, sem dúvida, para configurar a nossa visão cristã da existência. Mas antes disso e dando sentido a tudo isso, está esse dinamismo interior que, a partir de dentro, nos leva a amar, confiar e esperar sempre no Deus revelado em Jesus Cristo.
Resultado de imagem para BATISMO DE JESUSA fé também não é um capital que recebemos no batismo e do qual podemos então dispor tranquilamente. Não é algo adquirido em propriedade para sempre. Ser crente é viver permanentemente escutando o Deus encarnado em Jesus, aprendendo a viver dia a dia de forma mais plena e libertada.
Esta fé não está feita apenas de certezas. Ao longo da vida, o crente vive muitas vezes na escuridão. Como o grande teólogo Romano Guardini: “A fé consiste em ter luz suficiente para suportar as trevas”. A fé é feita, acima de tudo, de fidelidade. O verdadeiro crente sabe como acreditar durante as trevas, no que viu nos momentos de luz. Sempre continua a procurar esse Deus que está além de todas as nossas fórmulas claras ou escuras. Para Henri deLubac, «as ideias que fazemos de Deus são como as ondas do mar, sobre as quais o nadador se apoia para as superar». O decisivo é a fidelidade a Deus que se manifesta a nós no Seu Filho Jesus Cristo.
José Antonio Pagola.
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

SOLENIDADE DO BATISMO DE JESUS


O amor solidário é o pleno cumprimento da justiça de Deus!
Resultado de imagem para BATISMO DE JESUS"O hábito católico de batizar as crianças logo que nascem pode induzir-nos a esquecer que o batismo pregado e realizado por João Batista não gozava de estima junto às autoridades do judaísmo. Esta prática não lhes parecia ortodoxa, tinha conotações de insubordinação e de inovação inaceitáveis, claramente contrárias aos interesses e à doutrina do templo. Por isso, desfrutemos da festa do batismo de Jesus como uma boa oportunidade para compreender mais clara e profundamente o sentido deste sacramento cristão.
Os doutores da lei ensinavam que os incontáveis pecados do povo ignorante suscitava a ira de Deus, que havia fechado o céu e bloqueado sua comunicação com a humanidade. O povo foi se acostumando com os anúncios ameaçadores e a violência simbolizada pelo grito nas praças, pela quebra da cana rachada e pela extinção da frágil luz das velas. A lei e os costumes judaicos diziam que só o templo e seus agentes autorizados poderiam lavar culpas e perdoar pecados. Fora do templo e suas taxas não poderia haver salvação!
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João Batista ousa contrariar estas prescrições e práticas: proclama que Deus não cobra nada para perdoar; anuncia que a água abundante do rio Jordão lava as culpas que pesam sobre as costas dos mais pobres; pede que se aproximem todos aqueles que desejam endireitar as estradas da própria vida e da sociedade, os que desejam sinceramente reestabelecer a justiça. Como os magos mostraram no natal, João recorda, muitos anos depois, que os caminhos da graça de Deus não passam necessariamente por Jerusalém e pelo templo.
Uma multidão de gente cansada e abatida, vergada sob o peso de uma pesada canga de leis e condenações, acorre a João à beira do rio Jordão. Gente humilde e humilhada, pobre e empobrecida, ignorante e ignorada, anônima e rotulada como pecadora. Gente com fome de tudo: de pão, de justiça, de graça, de acolhida, de cidadania. Muitos habitantes de Jerusalém, da Judeia e da região do rio Jordão, cansados de penar e sedentos de um Deus diferente, saem à procura do Profeta de hábitos simples e palavras exigentes.
Já adulto e prestes a assumir sua missão pública, Jesus deixa a Galileia e vai à procura de João Batista em meio a essa gente: anônimo, na mesma fila, com os mesmos sentimentos. Como tantos outros conterrâneos e contemporâneos, Jesus também deseja endireitar caminhos, nivelar colinas, mudar as coisas. Ele quer deslocar o centro para a periferia e a periferia para o centro. Jesus sabia que do templo não poderia vir nada de novo e nada de bom. Seu batismo é participação solidaria nas tentativas, buscas e sonhos do seu povo.
João pressente nessa atitude de Jesus algo novo e em desacordo com as práticas tradicionais. Percebe que está em curso uma inversão revolucionária. “É eu que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” Mas percebe também que a justiça não pode ser realizada parcialmente. A encarnação de Deus deve atingir a humanidade em sua dimensão mais profunda, e Jesus entra na fila dos pecadores e se identifica com eles. Com seu batismo, Jesus Cristo manifesta ao mundo a compaixão de Deus, assumindo o lugar dos últimos.
Resultado de imagem para BATISMO DE JESUSÉ por isso que a voz do Pai diz que este filho é quem lhe agrada e dá prazer, é a realização plena do seu ser e sua vontade. Deus é compaixão e complacência! E isso porque Jesus passa pelo mundo fazendo o bem, mostrando que Deus não discrimina pessoas ou religiões, e o faz assumindo o caminho do serviço, o papel de Servo. Ele revela a paternidade de Deus recriando os vínculos de fraternidade, começando pelas vítimas. Bem diferente do porta-voz do rei, que anunciava suas más notícias quebrando canas e apagando velas.
Durante o batismo, em meio ao povo machucado e sedento, Jesus faz uma experiência espiritual que deixará marcas profundas e dará a direção à toda sua vida e missão: percebe o Espírito de Deus descendo e repousando sobre ele, constituindo-o como filho, servo e libertador. Doravante, não reconhecerá mais a distinção entre judeus e pagãos, entre “homens de bem” e os que não interessem a ninguém e são por todos desprezados. Alguns anos mais tarde, Pedro resumirá esta percepção: “Deus não faz distinção entre as pessoas. Ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença.”
Deus querido, Pai e Mãe dos homens e mulheres que aceitam o desafio de renascer da água e do Espírito, do sonho e da Palavra: te agradecemos porque nos acolhes como filhas e filhos amados neste povo que amas. Conserva-nos no caminho do teu Filho, e faz de todos os batizados um fator de aliança entre os fracos, instrumento de justiça para quem é desprezado. E não nos deixes cair na tentação de uma justiça parcial ou superficial, disposta a aceitar subornos para fazer-se cega. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

SOLENIDADE DA MÃE DE DEUS

A Paz se faz com memória, reconciliação e conversão ecológica!
Resultado de imagem para MAE DE DEUSCelebramos o início de um novo ano ainda iluminados pelo mistério do Natal. Nascido e acolhido também por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo abrindo caminhos de diálogo, reconciliação e conversão, inclusive conversão ecológica, diz o Papa Francisco. Deus cumpre suas promessas e realiza as esperanças humanas através de Maria e de cada um de nós, dos homens e mulheres de boa vontade, dos líderes autênticos fazem memória das violências e assumem práticas de diálogo, conversão e reconciliação.
O autêntico espírito do Natal deve perdurar e prosseguir na passagem do ano, em nós e em nossas comunidades. Por isso, a liturgia continua nos convidando a penetrar mais profundamente o mistério da encarnação. Hoje, no raiar do novo ano, contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém, onde encontram Jesus no seio de uma família, ficam vivamente impressionados com o que veem, e comparam tudo com aquilo que tinham ouvido. Como pode uma criatura tão frágil ser portadora de Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade? Esta é a pergunta dos pastores, de Maria e de José, e também a nossa!
Resultado de imagem para MAE DE DEUSAo ser apresentado no templo e circuncidado, Jesus recebe o nome proposto pelo Anjo a Maria na anunciação. Ele se chama Jesus, ‘boa notícia da salvação’, pois Deus salva seu povo do pecado. De fato, Jesus agirá libertando, perdoando, acolhendo. Nele, a humanidade se descobre livre do débito que tinha consigo mesma por não conseguir realizar a utopia que faz arder seu coração. Em Jesus, todos estamos livres do peso de termos ficado aquém do alvo,ou errado o rumo(pois é isso que significa ‘pecado’). Deus não espera que cheguemos heroicamente a ele: Ele mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa Paz!
Mas a Paz que Jesus nos assegura não está unicamente no fim do caminho, na plena confraternização entre lobos e cordeiros, serpentes e crianças. A Paz autêntica está no caminho, na caminhada, nos caminhantes. Está nas pessoas inconformadas que ousam mudar, renovar, começar de novo, cortar pela raiz as atitudes violentas, inclusive as que falseiam a memória, e isso cada dia, e não apenas no início do ano. Está nos homens e mulheres sábios, capazes de ver nas sementes as flores e os frutos que virão depois, e de encarnar nas relações cotidianas os sonhos e utopias que, literalmente, parecem não ter um lugar.
Para os cristãos, o fundamento da Paz é a relação com Jesus Cristo. Nascido de mulher menosprezada e sob a violência transformada em estrutura e lei, Jesus conduz todas as pessoas à liberdade, começando pelas vítimas das diversas formas de violência. Ele confirma que Deus reconhece todos como filhos e filhas, e nos convida a superar as relações viciadas pelo medo, pela escravidão e pela violência. Todos estão em Paz com Deus, e podem proclamar “meu Papai querido!”  E, na medida em que somos filhos e filhas, somos também herdeiros do Reino de Deus, da “shalom” que possibilita o convívio sadio, que tem a justiça como base.
Resultado de imagem para MAE DE DEUSNo ano que passou, os que governam o Brasil e os que os apoiam quiseram nos convencer de que o pobre é pobre porque não sabe poupar; que “o meio ambiente é um entrave para os negócios; que os garimpeiros e madeireiros devem ser defendidos dos fiscais do meio ambiente; que o professor é inimigo e o miliciano é amigo; que a escravidão foi benéfica para os descendentes de africanos; que não existe racismo no Brasil; que a mulher deve ser submissa ao homem; que os ditadores e os torturadores devem ser exaltados... Para eles, assimilar estas lições significaria colocar Deus acima de tudo e pacificar o país...
Mas o Papa Francisco, na sua mensagem para o Ano Novo, ensina lições muito diferentes!Ele diz que a Paz “é um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre para uma esperança mais forte que a vingança”. E buscar a Pazsupõe “abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas, como filhos de Deus”. Mas “nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema econômico mais justo.” E nos chama a uma “relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças”.
Deus querido, Pai e Mãe! Iniciando um novo ano, te pedimos: ensina-nos a compreender o anseio de Paz e de comunhão que pulsa no coração do mundo. Ajuda-nos a destruir pela raiz toda atitude violenta e desmascarar e erradicar as mentiras que nos impingem como sabedoria. Suscita em nós o canto que brota da dignidade indestrutível de filhos e filhas, e dá-nos a graça de experimentar, com Maria, José e os pastores, a alegria de reconhecer a grandeza de Deus na fragilidade humana. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani

MENSAGEM DO PAPA PARA O ANO NOVO


A paz como caminho de esperança:
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOdiálogo, reconciliação e conversão ecológica

1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações
A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes custoso, só pode ser vivido e aceito se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.
A comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa – a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.
As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.
Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo fato de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemônicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.
Como assinalei durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã.
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOToda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.
Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?
Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.
2. A paz, caminho de escuta baseado na memória e na solidariedade
Os sobreviventes aos bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno.
Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras.
Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heroicas, pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos indivíduos e nas comunidades.
Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, apelar à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades.
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOO mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações. De fato, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que deve estar constantemente a ser edificada, um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.
Por conseguinte, o processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia pode ser um paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na justiça e no compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se vulnerável ou marginalizado, na busca contínua da verdade. Trata-se duma construção social em contínua elaboração, para a qual cada um presta responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade local, nacional e mundial.
Como assinalava o Papa São Paulo VI, a dupla aspiração à igualdade e à participação procura promover um tipo de sociedade democrática. Isto, de per si, já diz bem qual a importância de uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da liberdade do indivíduo ou do grupo.
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOPelo contrário, a fratura entre os membros duma sociedade, o aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum. Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade, pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa.
Na nossa experiência cristã, fazemos constantemente memória de Cristo, que deu a sua vida pela nossa reconciliação (cf. Rm 5, 6-11). A Igreja participa plenamente na busca duma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.
3. A paz, caminho de reconciliação na comunhão fraterna
A Bíblia, particularmente através dos profetas, chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade. Trata-se de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo. Somente escolhendo a senda do respeito é que será possível romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.
Guia-nos a passagem do Evangelho que reproduz o seguinte diálogo entre Pedro e Jesus: “Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22). Este caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. Viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.
O que é verdade em relação à paz na esfera social, é verdadeiro também no campo político e econômico, pois a questão da paz permeia todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema econômico mais justo. Como escreveu Bento XVI, a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a melhoria das transações fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade econômica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão.
4. A paz, caminho de conversão ecológica
Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar.
Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –precisamos duma conversão ecológica.
O Sínodo recente sobre a Amazônia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.
Este caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum. De fato, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspectiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à recepção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice.
De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana.
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOPor conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspectiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus.
5. Obtém-se tanto quanto se espera
O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos.Trata-se, antes de mais nada, de acreditar na possibilidade da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável.
O medo é frequentemente fonte de conflito. Por isso, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24). A cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste.
Para os discípulos de Cristo, este caminho é apoiado também pelo sacramento da Reconciliação, concedido pelo Senhor para a remissão dos pecados dos batizados. Este sacramento da Igreja, que renova as pessoas e as comunidades, convida a manter o olhar fixo em Jesus, que reconciliou «todas as coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como as que estão no céu» (Col 1, 20); e pede para depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação.
Resultado de imagem para MENSAGEM DO PAPA ANO NOVOA graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.
Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação.E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.
Vaticano, 8 de dezembro de 2019.
Franciscus