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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 16 de fevereiro de 2019

6º DOMINGO COMUM


Os pobres e perseguidos podem contar com Deus e têm futuro!
Resultado de imagem para 6o domingo do tempo comum ano cComo cristão que reflete sobre aquilo que crê, às vezes me pergunto se a ressurreição dos mortos era uma preocupação fundamental de Jesus de Nazaré. É verdade que a fé na ressurreição dos mortos faz parte do credo cristão, e o próprio Paulo questiona: “Se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? E Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados.” Mas a fé na ressurreição e na vida eterna não é uma fuga, e está a serviço da vida terrena e terna, da vida engajada na transformação do mundo.
Escutando atentamente o Evangelho deste domingo, não podemos contornar uma outra pergunta, tão importante como a pergunta pela vida após a morte: os pobres e oprimidos têm futuro, já que a opressão e a escravidão teimam em não desaparecer e, com o passar dos séculos, vem se maquiando e reciclando? Revoluções feitas em nome dos oprimidos, aos poucos esquecem suas promessas e se fecham em torno dos interesses de uma nova classe hegemônica. O próprio cristianismo, que lança suas raízes nas esperanças dos pobres e oprimidos, caiu na tentação da fuga na tranquilidade do culto e na segurança da doutrina.
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No breve texto do Evangelho que ouvimos hoje, Jesus retoma sua pregação inaugural na sinagoga de Nazaré. Depois de colher trigo em propriedade alheia e em dia de sábado e de curar um homem que tinha uma mão paralisada, depois de retirar-se para rezar e de constituir uma comunidade de discípulos, Jesus é cercado por uma numerosa multidão, profundamente necessitada de ajuda. É neste contexto que Jesus ensina seus discípulos, definindo claramente quem é feliz e pode contar com Deus e quem dá as costas a Deus e caminha para uma vida frustrada. E ele fala com a força e a autoridade do próprio Deus.
Para Jesus, os pobres e oprimidos podem contar com Deus, e por isso têm futuro. Às pessoas sem segurança material e social, tratadas como últimas nos projetos políticos, famintas e sofredoras, Jesus não promete riquezas, mas afirma: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Sereis saciados! Havereis de rir!” E esta esperança não engana, porque o próprio Jesus veio, como intuiu Maria, para mostrar a força do braço de Deus, dispersar os orgulhosos, derrubar os poderosos, exaltar os humildes e beneficiar os famintos (cf. Lc 1,51-53). E porque ele reúne, forma e envia discípulos e discípulas para continuarem sua ação.
Resultado de imagem para 6o domingo do tempo comum ano cE os ricos e opressores têm um futuro, merecem nossa admiração? O peso dos fatos quase nos obriga a crer que os ricos e poderosos sempre têm a última palavra, riem por último, riem melhor. “Eles confiam na sua força e se orgulham da sua grande riqueza” (Sl 49/48,7). Mas, para Jesus, eles já escolheram sua consolação e, permanecendo indiferentes e violentos, se auto excluem do banquete do Reino. “Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis!” Com a parábola do pobre Lázaro e do rico anônimo Jesus não deixa dúvidas sobre isso (cf. Lc 16,19-31).
Não se trata de revanchismo barato, mas de justiça de Deus. Deus trata as pessoas e governa o mundo seguindo o critério da necessidade concreta, e não do mérito. E Jesus leva isso à radicalidade, começando pela inclusão dos ‘últimos’. Nenhuma concessão aos ricos, famosos e poderosos. Para o Evangelho, a felicidade que não fere e não é roubada é aquela que se enraíza na fidelidade a Jesus de Nazaré e nos engaja na sua missão, a assumir, se for o caso, o ódio e os insultos que isso traz. Beatos e felizes são os mártires, cuja caravana exultante e jubilosa atravessa os séculos e provoca instabilidade nos poderes e igrejas.
Jesus delimita muito bem o lugar e o caminho daqueles que chama a seguir seus passos. Precisamos granjear fama e honra a qualquer preço, mesmo que seja o alto preço do silêncio diante dos opressores? “Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois era assim que seus antepassados tratavam os falsos profetas.” A profecia e a perseguição são sinais inequívocos da fidelidade a Jesus Cristo. “Pois era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.” Eles são como árvore plantada na beira do rio: suas folhas não murcham e dão frutos no tempo certo. Há esperança para sua descendência! (cf. Jr 31,17)
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Jesus de Nazaré, missionário intrépido do Pai: a caravana dos homens e mulheres de boa vontade, que transforma a possibilidade de um outro mundo em realidade, se manifesta em nossas comunidades cristãs, mas as ultrapassa por todos os lados. Ajuda-nos a tomar consciência de que este mundo está sendo gestado, que somos chamados a ajudar no seu parto, que nisso reside a verdadeira felicidade, aquela alegria profunda e verdadeira que ofusca as apoteoses do carnaval e dos vencedores de plantão. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

sábado, 9 de fevereiro de 2019

5º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Precisamos avançar para águas mais profundas e pescar diferente!
Resultado de imagem para 5 domingo do tempo comum ano cNos primeiros domingos do tempo comum somos brindados com belíssimos encontros com a Palavra de Deus. Depois do episódio da sinagoga de Nazaré, quando Jesus foi expulso da cidade depois de apresentar-se como o profeta que prioriza a vida dos marginalizados, temos hoje o belo relato da pesca que termina em vocação. Jesus já havia estado em Cafarnaum e curado um homem possuído por um espírito impuro, a sogra de Pedro curvada sob a febre, e muita gente que estava doente (cf. Lc 4,31-41). Jesus então se retira para rezar (cf. Lc 4,42-44) e, posteriormente, chama, reúne e inicia a formação dos primeiros colaboradores.
Simão, Tiago e João voltam de uma noite de trabalho. Os barcos estão vazios de peixe e cheios de frustração e cansaço. Jesus vê os barcos parados à margem do lago e, mesmo percebendo que os pescadores não estão interessados na sua palavra, pede licença e sobe num dos barcos. É de dentro da própria vida, da lida cotidiana frequentemente dura e às vezes vazia, que Jesus se aproxima do povo e assegura que as promessas de Deus estão se cumprindo, que com ele uma boa notícia finalmente é anunciada aos pobres e oprimidos. Jesus entra na nossa vida e, desde o interior dela, nos ama, nos acolhe e nos chama.
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Os pescadores e candidatos a discípulos não parecem muito interessados com o que está acontecendo naquele momento às margens do lago de Genesaré. O cansaço e a sensação de frustração os invade por inteiro. Não vislumbram um horizonte que não seja voltar ao mesmo e rotineiro trabalho na noite seguinte. Para eles, a vida dos trabalhadores não pode fazer concessão a sonhos e utopias. Seu destino está desde sempre escrito a ferro e fogo nas instituições. Poderiam repetir o ditado: ‘A vida é um combate que aos fracos abate’. Inicialmente, o jovem pregador não suscita neles nenhuma expectativa.
Não é muito diferente a vida de muitos cristãos de hoje. Infelizmente, são muitos os que se contentam com as rotinas de uma cultura religiosa recebida como herança e conservada por inércia. Outros vivem a fé como um fardo pesado e cansativo, ou como um hábito que envergonha. Permanecem cristãos por conveniência ou por medo de mudar, mas exalam vazio e a frustração por todos os poros. E o que dizer dos bispos, padres, religiosos e catequistas que reclamam do afastamento dos fiéis mas se conformam às ‘antigas lições’ com cheiro de caserna e aderem a posturas violentas, armadas e discriminadoras?
Resultado de imagem para 5 domingo do tempo comum ano cSem desconhecer a frustração dos pescadores e o vazio do barco, Jesus pede que Pedro avance para águas mais profundas e recomece a pesca. A superficialidade sempre nos parece tentadoramente segura, mesmo que saibamos que é também é menos fecunda. Lugares profundos costumam ser arriscados e exigem prudência e habilidade. Mas a excessiva prudência impede o avanço e a superficialidade conduz à esterilidade. A abertura e a obediência à Palavra de Jesus abre portas à fecundidade. Como Pedro, precisamos superar a ideia de que somos pescadores experientes e tornarmo-nos discípulos e aprendizes.
Em atenção à Palavra de Jesus, Pedro lança as redes novamente, e o resultado é surpreendente. Ele então reconhece sua indignidade, mas Jesus não dá ouvidos às suas palavras. “Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!” E aqui ‘pescar’ significa literalmente: vivificar, reunir para conservar a vida. E este chamado que Jesus dirige Pedro, e implica aprender uma nova missão, não é isolado: Tiago e João, companheiros e sócios no ofício da pesca, são agora também companheiros e participantes desta nova identidade e missão. “Eles levaram os barcos para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.”
Há uma constante no verdadeiro encontro com Deus: somos colocados cara a cara com a nossa realidade mais profunda e autêntica: a vulnerabilidade e a finitude, que, quando negadas ou esquecidas, nos induz ao erro desde o primeiro passo, e a humanidade acaba pagando um alto preço. Mas, ao mesmo tempo, no encontro com Deus descobrimo-nos preciosos aos olhos de Deus. Ele dá impérios pela nossa liberdade (cf. Is 43,3-4), tatua nosso nome na palma da sua mão (cf. Is 49,16) e, tocando nossos lábios, perdoa nosso pecado, confirma nossa dignidade e nos engaja, lado a lado, ombro a ombro, na sua própria missão...
Resultado de imagem para 5 domingo do tempo comum ano cJesus de Nazaré, peregrino nos santuários das dores e buscas humanas! Entra nesta barca que é a tua Igreja e transforma seus tímidos viajantes em ardorosas testemunhas. Abre nossos ouvidos à tua Palavra, preenche nossos vazios com tua presença, cura nossas frustrações e desamarra as mãos que o medo e a acomodação imobilizaram. Engaja-nos na tua missão de reunir teus irmãos e irmãs, de promover e conservar a vida e de anunciar teu Evangelho. E isso sem esquecer que somos sempre discípulos e servidores. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Se calarem a voz dos profetas, a lama e os cadáveres falarão!
Resultado de imagem para 4 domingo do tempo comum ano cA profecia nasce da intimidade com a Palavra de Deus. Quem acolhe e escuta a Palavra sente a voz de Deus queimar como brasa e não consegue ficar indiferente diante das mentiras e disfarces que encobrem tragédias previsíveis e culpáveis, nem das práticas de exploração, opressão e discriminação. O próprio Jesus confirma isso: depois de ler e acolher a palavra do profeta Isaías, se propõe a cumpri-la fielmente, esquecendo-se dos próprios parentes e compatriotas e priorizando as pessoas mais pobres necessitadas. Rompendo com as expectativas do seu povo e da sua família, Jesus terá que enfrentar a oposição e a perseguição.
A profecia é essencial na vida cristã. A Igreja é uma comunidade profética, sacerdotal e de serviço à vida. Mas ninguém é instituído profeta, nem aprende este ofício num seminário ou numa escola de teologia. A profecia é dom do Espírito, dom que recebemos com temor e tremor. Ela nasce e se desenvolve no ventre de uma comunidade que se coloca à escuta da Palavra de Deus, pungente no clamor de todas as vítimas. Quem não se fecha à voz de um Deus que fala e interpela, sente a Palavra queimar suas entranhas e não consegue viver indiferente à causa de Deus, que é a causa dos pobres, das vítimas, dos excluídos.
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Uma comunidade que ouve e medita a Palavra acaba também avançando e amadurecendo no serviço à Boa Notícia de Deus. Vemos isto na experiência de Jeremias. Ele tem a sensação de que a Palavra que o chama é anterior ao seu próprio nascimento. “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já contava contigo. Antes de saíres do ventre, eu te consagrei e fiz de ti profeta para as nações.” É isto que percebemos também no próprio itinerário de Jesus: depois de ler e acolher a palavra do profeta Isaías na sinagoga de Nazaré, ele conecta irreversivelmente a sua vida com a causa dos oprimidos. E propõe este caminho aos seus discípulos.
Um olhar atento aos evangelhos nos leva a perceber como, por causa de seu radicalismo profético, Jesus foi experimentando uma progressiva marginalização. Houve um momento em que sua fama se espalhava por toda a região e todos o elogiavam (Lc 4,14-15). Enquanto lia as escrituras, todos tinham os olhos fixos nele e testemunhavam a seu favor, maravilhados com as palavras cheias de graça que saíam da sua boca (Lc 4,22). Mas o entusiasmo logo se transformou em fúria e desejo de eliminá-lo (Lc 4,28-30), quando ousou questionar a ideologia do privilégio dos judeus em relação aos pagãos.  E nisso Elias e Eliseu lhe serviram de paradigma.
Resultado de imagem para 4 domingo do tempo comum ano cElias privilegiou uma viúva menosprezada porque era estrangeira. Eliseu curou um pagão, que os judeus situavam abaixo dos cães. E Jesus defendeu ardorosamente a dignidade das mulheres, dos pecadores, dos pobres, dos doentes, dos migrantes estrangeiros. Esse é o caminho da profecia, que no Brasil de hoje passa pela defesa do território dos indígenas e quilombolas, pela reivindicação de políticas públicas em favor dos pobres, pela defesa da integridade dos encarcerados, pela denúncia da ação criminosa das mineradoras que privilegiam o lucro, devastam o ambiente e eliminam vidas. Escutemos o grito da lama e dos cadáveres!
Mas a profecia tem seu preço, e tanto a pessoa como a instituição que a assumem devem estar dispostas a pagá-lo. Jesus recorre a um provérbio que diz que nenhum profeta bem recebido em sua própria terra, pois a expectativa sempre é que ele atue em benefício dos seus pares. Mas este é apenas um lado da medalha. O outro lado é o seguinte: nenhum profeta que sente a compaixão de Deus queimar suas entranhas consegue permanecer preso aos estreitos muros da raça, da nação, da religião ou de qualquer instituição. O profeta é um incansável transgressor de fronteiras, um incurável abridor de brechas nos muros da hipocrisia.
É na fragilidade que somos fortes, diz Paulo. Escrevendo aos cristãos de Corinto, ele chama a atenção para a centralidade do amor e a relatividade de todas as funções e instituições. Se a profecia deslizar para o discurso enraivecido, incoerente e acusatório, será pouco mais que nada. O que dá consistência e verdade à profecia é o amor, este dinamismo que reconhece a dignidade do outro como outro e o serve em suas necessidades. A profecia que brota do amor, orienta-se pelo amor e conduz a um amor que não reconhece fronteiras nem méritos. E o amor está acima de todo conhecimento e até acima da fé. E, mais ainda, das instituições!
Resultado de imagem para 4 domingo do tempo comum ano cJesus de Nazaré, profeta de um mundo sem fronteiras, amigo dos pequenos, dos oprimidos e das vítimas! Abre nossos ouvidos à tua Palavra. Suscita em nós a resposta breve e envolvente: “Eis-me aqui, Senhor!” Ajuda-nos a acolher e a continuar a missão profética que nos confiaste ainda no seio materno, apesar das nossas fraquezas. Abre nossos olhos e nossas mãos ao amplo e criativo trabalho de construir outro mundo, um mundo que desconhece e os estreitos muros das culturas, nações e religiões. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf