Tudo
parte da gruta de Belém e nela se sustenta. Mas não menos viva é a memória da
vida inteira de Jesus, seu anúncio e sua ação provocadora e libertadora, a
condenação e morte que sofreu na cruz dos proscritos. João tem isso presente
quando nos fala da Palavra que estava junto de Deus e que era Deus, que é a Luz
que brilha e vence as trevas, que se faz Carne e habita entre nós, tornando
visível o Deus invisível. Na carta aos Hebreus, a comunidade cristã dá
testemunho de que em Jesus, nascido na pobreza e perseguido pelos poderes
políticos e religiosos, Deus nos falou de modo definitivo.
Os
conceitos e imagens que aparecem no poema que resume o evangelho de João são
vários e complementares. Prestemos atenção a quatro deles: Palavra, Vida, Graça
e Glória. Enquanto Palavra, Jesus é a
exteriorização da interioridade de Deus, e esse mistério não é uma lei, uma
advertência ou uma doutrina, mas uma boa
notícia que produz felicidade porque gera e sustenta processos de liberdade.
A Palavra de Deus assume a carne humana e a vida histórica e corporal de Jesus
como tenda na qual os homens e mulheres podem encontrar, tocar e acolher o
próprio mistério de Deus.
O mesmo
Jesus, filho de Maria e de José, que nasceu em Belém e viveu como carpinteiro
em Nazaré, que reuniu discípulos e foi por eles abandonado em Jerusalém, é
portador da Vida plena e eterna, do bem-viver
que os povos buscam sem descanso. Nele, o bem-viver ou a Vida é revelada e doada como comunhão profunda com o mistério de
Deus, comunhão solidária com os pobres e as vítimas e comunhão graciosa com
todas as criaturas, nossas irmãs. Em Jesus de Nazaré a Vida mostra sua cara e
sua força: nele não há lugar para o egocentrismo que amordaça, aniquila, domina
e mata.
Em
hebraico, a palavra glória (kabôd) expressa a importância e o valor
interior de uma pessoa, que se revela nas ações e requer o respeito dos outros.
Por isso, manifestar a glória de Deus significa testemunhar sua ação salvífica
e libertadora, reconhecer sua santidade nos acontecimentos históricos. Na bíblia, a metáfora da luz e da glória são
frequentemente usadas para materializar a glória de Deus, como aparece no
relato do nascimento de Jesus (cf. Lc 2,9).
E João afirma: “Nós vimos a sua (da Palavra feita carne) glória, glória
como do Filho único da parte do Pai”.
Diante da tua pequenez gloriosa, Deus Menino, ajoelhamo-nos
eterna e profundamente agradecidos. É desta tua glória que todos necessitamos.
É este brilho que todos buscamos, às vezes de forma inconsciente e quase
desesperada. É desta Vida que se expande e multiplica que temos fome. Queremos
que esta graça nos plenifique e nos torne benfeitores da humanidade. Tu nos
ensinas que é armando a tenda dos nossos sonhos e palavras em meio à humanidade
peregrina que alcançamos a liberdade e a plena realização. Obrigado por esta
lição pronunciada na nossa carne. Queremos ser filhos e filhas desta
luz. Queremos renascer nesta esperança que não engana. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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