“Pedi e vos
será dado, buscai e encontrareis, batei e vos será aberto” (Mt 7,7). Três
verbos que resumem uma forma de oração ou meditação: pedir, buscar e bater. Mas
também exigem uma relação íntima e dinâmica com o Deus e Pai de Jesus Cristo.
Um persistência diária de encontros e reencontros. Façamos um percurso de
caráter espiritual, invertendo o sentido dos verbos.
Bater! Não
importa o quanto nos sentimos distantes da Casa de Deus, não importa a sensação
de vergonha pela longa ausência, não importa o medo oculto de uma possível
punição... Não importam nossas quedas e fraquezas, nossas debilidades e
pequenas formas de infidelidade... Não importam nem mesmo nossos erros, desvios
e pecados... O Pai nunca fecha a porta ao filho que bate, nunca vira as costas
a quem o invoca. Se o pode fazer às vezes o pai terreno, jamais o fará o Senhor
do céu e da terra. Prova disso encontramos na surpreendente parábola do filho
pródigo. Também chamada parábola dos dois filhos e, melhor ainda, parábola do
Pai misericordioso (Lc 15, 11-32). Antes mesmo que o filho se aproxime e,
contrito, tente esclarecer as coisas, o pai já tomou a iniciativa de correr ao
seu encontro.

Abraça-o, faz-lhe uma festa porque “estava morto e voltou à
vida”. Perdão e misericórdia significam uma nova oportunidade para retomar o
caminho. Vale o mesmo, porém, para os que batem à nossa porta: sabemos
acolhê-los e hospedá-los no círculo de nossa amizade, de nossa família ou
comunidade?
Buscar! Do
berço ao túmulo, o ser humano se caracteriza pela busca irriquieta. Jamais se
cansa de procurar por algo ou alguém. Mas, o que buscamos? Que espécie de
coisas acumulamos em nossas simbólicas gavetas? Dinheiro, riqueza, poder,
honra, glória, fama, influência, títulos, conhecimento... “Vaidade das vaidades”,
diz Coélet, “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,1)! Os bens materiais
que, com suor e fadiga, procuramos conquistar, ganhar ou tomar são os mesmos
que abandonamos ao partir. As riquezas deixam órfãos e deserdados os que
partem. Aquilo que preenche o vazio de nossa existência são as relações que
cultivamos. Aliás, passam a ser o nosso verdadeiro e único tesouro. Relações
com Deus, relações com os demais, relações com a beleza da criação. Intimidade
e abertura, silêncio e escuta, diálogo e transparência; prodigalidade no dar e
receber. Buscar a Deus, passando pelo próximo; buscar o próximo, passando pela
Casa de Deus. Eis o que realiza e torna feliz a alma humana. De outro lado,
porém, que fazemos com quem bate à porta de nosso coração e de nossa casa?
Pedir! Volta
a vergonha, volta o receio de uma recusa, volta o sentimento de que somos
indignos de sua atenção. Como se o amor e a bondade de Deus se orientasse pelos
nossos méritos! Não, o oceano de sua misericórdia encontra-se muito acima do
que fazemos ou deixamos de fazer, do mal ou bem que praticamos. Então, por que
fazer o bem? Porque só ele nos torna felizes, devolve a paz ao coração aflito e
atormentado. Só ele está em sintonia com o projeto de Deus, impresso em nossas
fibras mais íntimas. O Pai ama não porque fazemos isso ou aquilo, mas porque
somos filhos e filhas. Seu amor é incondicional, vem antes de que possamos
julgar se o merecemos ou não. “Deus demonstrou seu amor para conosco porque
Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 8). Pedir requer
humildade, tal como bater e buscar. Humildade para reconhecer a própria
pequenez, para revelar a própria nudez. Mas a nudez, quando revestida pelo
olhar de quem ama, em lugar de nos deixar expostos à curiosidade alheia,
expressa em toda a sua plenitude e dignidade da pessoa humana. Que dizemos a
quem nos pede algo?
Por isso,
convém ter presente que ao ato de “pedir, buscar e bater” em relação a Deus,
corresponde uma atitude semelhante em relação às pessoas com quem vivemos e nos
relacionamos. Correspondência infinitamente inferior, sem dúvida, mas que
indica o horizonte a ser perseguido. Na base dos três verbos, o ser humano se
reconhece como criatura diante da grandeza infinita do Criador. Reconhece, além
disso, o dom da vida como o maior tesouro a ser cultivado!
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