Queridos
irmãos e irmãs!
O
Dia Mundial das Missões concentra-nos, também este ano, na pessoa de Jesus, «o
primeiro e maior evangelizador» (Paulo VI), que incessantemente nos envia a
anunciar o Evangelho do amor de Deus Pai, com a força do Espírito Santo. Este
Dia convida-nos a refletir novamente sobre a missão no coração da fé
cristã. De fato a Igreja é, por sua natureza, missionária; se assim não
for, deixa de ser a Igreja de Cristo, não passando duma associação entre muitas
outras, que rapidamente veria exaurir-se a sua finalidade e desapareceria.
Por
isso, somos convidados a interrogar-nos sobre algumas questões que tocam a
própria identidade cristã e as nossas responsabilidades de crentes, num mundo
embaralhado com tantas quimeras, ferido por grandes frustrações e dilacerado
por numerosas guerras fratricidas, que injustamente atingem sobretudo os
inocentes. Qual é o fundamento da missão? Qual é o coração da
missão? Quais são as atitudes vitais da missão?
A
missão e o poder transformador do Evangelho de Cristo
A
missão da Igreja, destinada a todos os homens de boa vontade, funda-se sobre o
poder transformador do Evangelho. Este é uma Boa Nova portadora duma
alegria contagiante, porque contém e oferece uma vida nova: a vida de Cristo
ressuscitado, o qual, comunicando o seu Espírito vivificador, torna-Se para nós
Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). É Caminho que nos
convida a segui-Lo com confiança e coragem. E, seguindo Jesus como nosso Caminho, fazemos
experiência da sua Verdade e recebemos a sua Vida, que é plena
comunhão com Deus Pai na força do Espírito Santo, liberta-nos de toda a forma
de egoísmo e torna-se fonte de criatividade no amor.
Deus
Pai quer esta transformação existencial dos seus filhos e filhas; uma
transformação que se expressa como culto em espírito e verdade (cf. Jo 4,
23-24), ou seja, numa vida animada pelo Espírito Santo à imitação do Filho
Jesus para glória de Deus Pai. «A glória de Deus é o homem vivo» (S. Irineu).
Assim, o anúncio do Evangelho torna-se palavra viva e eficaz que realiza o que
proclama (cf. Is 55, 10-11), isto é, Jesus Cristo, que
incessantemente Se faz carne em cada situação humana (cf. Jo 1, 14).
A
missão e o kairós de Cristo
Lembremo-nos
sempre de que, no início da vida cristã não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida
um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» (Bento XVI). O
Evangelho é uma Pessoa, que continuamente Se oferece e, a quem A acolhe com fé
humilde e operosa, continuamente convida a partilhar a sua vida através duma
participação efetiva no seu mistério pascal de morte e ressurreição. Assim, por
meio do Batismo, o Evangelho torna-se fonte de vida nova, liberta do
domínio do pecado, iluminada e transformada pelo Espírito Santo; através
da Confirmação, torna-se unção fortalecedora que, graças ao mesmo
Espírito, indica caminhos e estratégias novas de testemunho e proximidade; e,
mediante a Eucaristia, torna-se alimento do homem novo, «remédio de
imortalidade» (S. Inácio de Antioquia).
O
mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo.Ele, através
da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas
sanguinolentas da humanidade, e a sua missão de Bom Pastor, buscando sem
descanso quem se extraviou por veredas enviesadas e sem saída. E, graças a
Deus, não faltam experiências significativas que testemunham a força
transformadora do Evangelho. Penso no gesto daquele estudante «dinka» que, à
custa da própria vida, protegeu um estudante da tribo «nuer» que ia ser
assassinado. Penso naquela Celebração Eucarística em Kitgum, Uganda, quando um
missionário levou as pessoas a repetirem as palavras de Jesus na cruz: «Meu
Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34. Aquela Celebração foi
fonte de grande consolação e de muita coragem para as pessoas. E podemos pensar
em tantos testemunhos – testemunhos sem conta – de como o Evangelho ajuda a
superar os fechamentos, os conflitos, o racismo, o tribalismo, promovendo por
todo o lado a reconciliação, a fraternidade e a partilha entre todos.
A
missão inspira uma espiritualidade de peregrinação contínua
A
missão da Igreja é animada por uma espiritualidade de êxodo
contínuo. Trata-se de sair da própria comodidade e ter a coragem de
alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. A missão da
Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos
vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de
verdade e justiça. A missão da Igreja inspira uma experiência de exílio
contínuo, para fazer sentir ao homem sedento de infinito a sua condição de
exilado a caminho da pátria definitiva, entre o «já» e o «ainda não» do Reino
dos Céus.
A
missão adverte a Igreja de que não é fim em si mesma, mas instrumento e
mediação do Reino. Uma Igreja auto referencial, que se compraza dos sucessos
terrenos, não é a Igreja de Cristo, seu corpo crucificado e glorioso. Por isso
mesmo, é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se
agarrar às próprias seguranças.
Os
jovens, esperança da missão
Os
jovens são a esperança da missão. A pessoa de Jesus e a Boa Nova
proclamada por Ele continuam a fascinar muitos jovens. Estes buscam percursos
onde possam concretizar a coragem e os ímpetos do coração ao serviço da
humanidade. São muitos os jovens que se solidarizam contra os males do
mundo, aderindo a várias formas de militância e voluntariado. Como é bom
que os jovens sejam “caminheiros da fé”, felizes por levarem Jesus Cristo a
cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra! A próxima Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em 2018, sobre o tema «Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional», revela-se uma ocasião providencial
para envolver os jovens na responsabilidade missionária comum, que precisa da
sua rica imaginação e criatividade.
Fazer
missão com Maria, Mãe da evangelização
Queridos irmãos e irmãs, façamos missão inspirando-nos em Maria, Mãe da evangelização. Movida pelo Espírito, Ela acolheu o Verbo da vida na profundidade da sua fé humilde. Que a Virgem nos ajude a dizer o nosso «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no nosso tempo; nos obtenha um novo ardor de ressuscitados para levar, a todos, o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós, a fim de podermos ter uma santa ousadia de procurar novos caminhos para que chegue a todos o dom da salvação.
Vaticano,
4 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2017.
FRANCISCO
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