No Evangelho de hoje, Mateus nos relata o
esforço quase desesperado dos fariseus para fazer Jesus tropeçar em algum ponto
da correta doutrina religiosa e moral do judaísmo. Eles já o haviam provocado
com a questão dos impostos devidos ao império romano. Tinham notícia também de
como Jesus havia enfrentado a armadilha preparada pelos saduceus, em torno da
questão da ressurreição dos mortos. E agora voltam com uma questão de doutrina
religiosa e de espiritualidade: qual é a hierarquia dos mandamentos, qual deles
é o mais importante?
É claro que os fariseus não querem aprofundar so
conhecimento sobre Deus e seu Reino. O que eles procuram insistentemente é um
motivo para rejeitar globalmente o ensino de Jesus e tirá-lo de circulação. E
quando perguntam qual é o maior mandamento da lei, querem dar a entender que os
mandamentos são muitos, e a definição do mais importante é uma operação
teológica complicada e arriscada. Os mandamentos seriam vários e não teriam um
eixo que os move e em torno do qual giram.
Em primeiro lugar, parece que Jesus dá a
entender que se trata de amar a Deus, mas não de amar de qualquer maneira.
Jesus não propõe um amor sentimental ou voluntarista. Ele sublinha um amor
lúcido, racionalmente orientado (com toda tua mente); um amor encarnado na vida
e nos gestos cotidianos (com toda tua alma); e um amor decidido, sensível e
humano (com todo teu coração). Este amor está a quilômetros de distância de um
mero sentimento que se desfaz em lágrimas diante das catástrofes mas mergulha
na indiferença diante da opressão e dos golpes feitos em nome da moralidade.
Mas Jesus não se detém na resposta aprovada
pela ortodoxia e esperada pelos líderes religiosos. Ele surpreende a todos
dizendo que há um segundo mandamento, com o mesmo valor e inseparável do
mandamento primeiro e central: “Ame o seu próximo como a si mesmo.” Esse
mandamento era conhecido pelos fariseus e doutores da lei, mas eles – como
muitos de nós – jamais o colocariam no mesmo nível de importância do amor a
Deus. Isso soaria como uma heresia horizontalista.
Para não deixar dúvidas, Jesus afirma de forma
lapidar que todas as escrituras se resumem e realizam nesses dois princípios. A
vontade de Deus, aquela vontade que em cada oração do Pai-Nosso pedimos que
seja realizada, se concretiza num amor terno, lúcido e firme dirigido ao mesmo
tempo a Deus e aos nossos semelhantes, especialmente àqueles que se encontram
socialmente e humanamente mais fragilizados. E é daqui que parte também toda
profecia, missão hoje tão urgente quanto complexa.
Itacir Brassiani msf
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