Vivemos
um tempo de crises profundas e caminhamos sem referências seguras. Os grandes
mitos e narrativas desapareceram. A esperança fez as malas e desertou, sem
deixar endereço para contatos. Falar de esperança passou a ser considerado algo anacrônico e até ridículo. Por
isso, a fuga aparece como a única possibilidade para viver em paz. Sem
esperança de futuro, o presente parece um refúgio que garante uma doce sensação
de sabedoria. O tempo foge do nosso controle e parece sempre mais acelerado. A
realidade flui como água, e parece que nada pode ser feito para mudar seu
curso...
É feito
de tribulações o tempo que vivemos. Muitas são as pessoas que se perguntam: é
possível que o humano venha a prevalecer, ou aquilo que chamamos de humano não
passaria de uma ideologia enganadora? Ou será que o humano foi possível apenas
no passado e suas sementes não podem mais germinar na terra poluída e
ressequida do nosso tempo? Não seria o nosso apenas um tempo de indivíduos solitários na multidão
e de consumidores vorazes, destes que negociam o sonho de um mundo novo pelos
novos e fugazes lançamentos do mercado?
Mas aqui,
de novo e como sempre, aqueles que acreditam em Jesus Cristo e organizam a vida
a partir dele remam contra a corrente e afirmam que o humano se manifestará,
está se manifestando, já está presente no meio de nós. O ‘filho do homem’,
aquele que é verdadeiramente humano, está vindo ao nosso encontro, solicitando e
possibilitando abertura, acolhida, esperança, conversão. É isso que ensina o
evangelho de hoje, que recorre a uma linguagem apocalíptica e parabólica para
chamar a atenção para a mudança, para o processo de nascimento de uma nova
ordem social.
O
questionamento e abalo da ordem velha e cambaleante não é tudo. É apenas o
sinal de que o humano está nascendo, batendo à porta e pedindo para entrar. E,
na medida em que ele for acolhido e se tornar regra da nossa vida, uma nova
humanidade nascerá, sem fronteiras nem restrições, “reunindo as pessoas que
Deus escolheu, do extremo do céu ao extremo da terra.” A parábola da figueira
pede atenção a sinais pequenos e discretos dessa mudança. A velha e injusta
ordem social simbolizada pelo templo deve chegar ao fim para que desponte um
outro mundo.
O ‘filho
do homem’ e seus seguidores serão os protagonistas desta mudança. A imagem dele
“vindo sobre as nuvens com grande poder e glória” é uma referência ao Jesus Cristo
elevado na cruz. No filho do homem perseguido e crucificado resplandece o que é
verdadeiramente humano e se revela a glória e o poder de Deus. O advento do
humano se dá definitivamente em Jesus crucificado em sua solidária fidelidade a
todos os seres humanos. É em torno dele que se reúnem as pessoas escolhidas
que, tendo-o como cabeça, formam um corpo verdadeiramente humano, capaz de
transfigurar a história.
Itacir Brassiani msf
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