A família de Clara já planejava o casamento dela, por
conveniência econômica e social, quando a jovem, aos 18 anos, surpreendeu a
todos com um gesto extremamente ousado: inspirada pelo profundo desejo de
seguir a Cristo e pela intensa admiração que São Francisco lhe despertava,
Clara deixou a casa paterna e, junto com a amiga Bona di Guelfuccio, se juntou
secretamente aos frades menores na igrejinha conhecida como a Porciúncula. Era
a noite do Domingo de Ramos de 1211.
Nessa ocasião, enquanto os frades seguravam tochas acesas,
Francisco cortou os cabelos de Clara e lhe deu um rude hábito penitencial. Ela
se tornou assim a virgem noiva de Cristo, humilde e pobre, e a Ele se consagrou
totalmente, resistindo com decisão à severa oposição da família.
A própria Clara fala assim de Jesus a toda mulher que se
devota por completo a Ele:
“Amando-o, sereis casta; tocando-o, sereis mais pura;
deixando-vos possuir por Ele, sereis virgem. O Seu poder é mais forte, a Sua
generosidade mais elevada, o Seu aspecto mais belo, o Seu amor mais suave e
toda a graça mais fina. Agora estais apertada pelo abraço dele” (Primeira
carta).
A espiritualidade de Santa Clara
A síntese da sua proposta de santidade é recolhida na quarta
carta a Santa Inês de Praga. Santa Clara usa uma imagem muito difundida na
Idade Média, de influência patrística: o espelho. E convida a amiga a se
refletir naquele espelho de perfeição de toda a virtude, que é o próprio
Senhor:
“Feliz aquele a quem é dado degustar esta sagrada união,
para aderir com as profundezas do coração [a Cristo], aquele cuja beleza
admiram incessantemente todas as abençoadas hostes do céu, cujo afeto apaixona,
cuja contemplação restaura, cuja bondade sacia, cuja suavidade preenche, cuja
memória resplandece suavemente, a cujo aroma os mortos voltam à vida e cuja
visão gloriosa tornará abençoados todos os cidadãos da Jerusalém celeste. E
porque Ele é o esplendor da glória, candor da luz eterna e espelho sem mancha,
olha todo dia para este espelho, ó rainha esposa de Jesus Cristo, e nele
escruta continuamente o teu rosto, para que possas assim adornar-te toda no
interior e no exterior (…) Nesse espelho refulgem a abençoada pobreza, a santa
humildade e a inefável caridade” (Quarta Carta).
Canonização
Apenas dois anos após a sua morte, em 1255, o Papa Alexandre
IV a elevou aos altares traçando o seguinte elogio na bula de canonização:
“Quão vivo é o poder desta luz e quão forte é o brilho desta
fonte luminosa. Na verdade, essa luz tinha-se enclausurado no escondimento da
vida monástica e irradiava luzes cintilantes; recolhia-se em um mosteiro
estreito, e expandia-se ao longo da vastidão do mundo. Mantinha-se dentro e
difundia-se fora. Clara, de fato, escondia-se; mas a sua vida foi revelada a
todos. Clara ficou em silêncio, mas sua fama gritava”.
Os Papas recentes falam de Santa Clara
São João Paulo II visita as irmãs clarissas de Assis
“Também nos séculos da Idade Média, o papel das mulheres não
era secundário, mas significativo. A esse respeito, deve-se salientar que Clara
foi a primeira mulher na história da Igreja a compor uma Regra escrita, sujeita
à aprovação do Papa, para que o carisma de Francisco de Assis fosse preservado
em todas as comunidades femininas que se iam estabelecendo já nos seus tempos e
que desejavam inspirar-se no exemplo de Francisco e Clara. (…) são os santos
aqueles que alteram o mundo para melhor, transformam-no de modo duradouro,
incorporando as energias que somente o amor inspirado pelo Evangelho pode
suscitar. Os santos são os grandes benfeitores da humanidade”.
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