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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 4 de setembro de 2010

Para melhor entender a Palavra

Reflexão Dominical

“Pela Palavra de Deus saberemos por onde andar.”



(Sb 9,13-18; Sl 89/90; Fm 9-17; Lc 14,25-33)


Estamos em época de campanha política e em plena semana da pátria. Em tempos como este as palavras costumam ser sedutoras, repetidas exaustivamente como cântico de sereia nas praças e monitores, frequentemente acompanhadas de imagens e efeitos especiais. O objetivo de vencer o pleito pode levar os/as candidatos/as a inflacionar as promessas e omitir os custos. A evocação seletiva e a maquiagem dos feitos do passado, junto com o apelo à grande vocação atual do país, pode induzir a um orgulho vazio e submisso. Mas eis que Jesus Cristo, a Palavra viva de Deus, irrompe para estragar a festa (de alguns) e chamar a atenção para as consequências da palavra dada e para os custos da realização das nossas utopias e decisões. Ele nos confia seu Evangelho, luz que indica o caminho da vida.


“Os pensamentos dos mortais são tímidos, e nossas providências incertas.”


A cultura que rege as pessoas numa sociedade de consumo como a nossa não costuma chamar a atenção para a prudência e para o planejamento. A ‘caderneta de popuança’, com seu apelo a economizar e planejar, é coisa do passado. Hoje reina absoluto o ‘cartão de crédito’, um permanente e sedutor convite a gastar sem controle e sem planejamento, seguindo apenas os insaciáveis desejos de consumo. Fazer as contas é coisa de um tempo que não volta mais.


O que predomina e se impõe como regra é curtir e saborear a fundo o momento presente, sem preocupação com princípios e hábitos formulados por outros no passado, nem com aquilo que será no futuro. O passado não existe mais, o futuro ninguém sabe como será, o presente é breve e fugaz. Importa desfrutá-lo ao máximo e inocentemente, sem perguntar quem pagará a conta em termos humanos, econômicos e ambientais. Consumamos e deixemo-nos consumir...


Esta forma de viver vai contaminando lentamente (ou rapidamente!) a vivência da fé. Observando a prática de muitas pessoas e o apelo de alguns movimentos e Igrejas, somos levados a concluir que o que importa é viver momentos de intenso gozo e satisfação, relativizando o passado e desistindo de pensar no futuro. E o único custo dessa libertação gostosa é a fidelidade no dízimo mensal e a generosidade econômica nas ofertas de cada semana.


“Se alguém de vós quer me seguir...”


É consciente e consequente nossa decisão de seguir Jesus Cristo? É claro que para a maioria de nós o início de tudo não está ligado a uma decisão pessoal, consciente e madura. Recebemos a fé cristã e católica misturada ao leite que sorvemos do seio da mãe, ligada aos hábitos da nossa vizinhança, conjugada com a cultura trasmitida pela escola. Seguimos esta estrada porque nos parecia a única, e o fizemos como ovelhas indiferenciadas de um rebanho. Era difícil e custoso trilhar outras sendas.


Mas nós crescemos e os tempos mudaram. O pluralismo de opções que batem à nossa porta ou se oferecem aos nossos olhos todos os dias nos interpelam à aventura noutras estradas ou a dar razões para permanecer naquela que trilhamos. E o nosso conhecimento maduro e esclarecido do Evangelho nos pede prudência e avaliação crítica diante de atitudes e projetos que se travestem de sabedoria e se apresentam como evangélicos e de humanizadores.


“Quem não carrega a sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo.”


A vida de quem se dispõe a seguir os passos de Jesus Cristo não é apenas alegria e festa. O Evangelho não se resume a um convite a erguer as mãos e dar glórias a Deus. E o cristianismo não se identifica também com a sisudez dos homens e mulheres que parecem dar as costas à história e caminhar na ponta dos pés, com as mãos juntas em piedosa posição, os olhos fixos no céu (que garante as honras do mundo) e a vida assegurada pelos títulos de créditos e de propriedade.


Caminhando resolutamente em direção a Jerusalém, Jesus recorda aos discípulos de ontem e de hoje que a decisão de segui-lo tem seus custos. Estar com ele e seguir seus passos supõe a decisão por uma específica escala de valores: a honra pessoal, a aceitação pública, a segurança dos bens e os próprios vínculos familiares são secundários em relação à prioridade absoluta de acolher e praticar a escala de valores do Reino de Deus. A Palavra viva de Deus, feita carne em Jesus, nos mostra por onde andar.


Tomar a cruz e caminhar no rastro de Jesus significa estar disposto a enfrentar a rejeição dos grandes e poderosos, libertar-se da busca infantil de cargos e honras e contar com o próprio fracasso dos empreendimentos pessoais e institucionais. Preferir Jesus Cristo ao pai, à mãe, à mulher ou marido e aos filhos e filhas significa viver as relações familiares fora dos moldes patriarcais, no horizonte da geração de um mundo de irmãos (como testemunha Paulo em relação a Onésimo e Filemon).


“Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.”


Uma bagagem pesada acaba dificultando a caminhada, especialmente se for longa e por estradas acidentadas. E os bens acumulados podem pesar muito e levar a parar à beira estrada, a desistir da viagem e construir uma casa confortável e segura. Não se trata apenas de imóveis, móveis e automóveis, mas também de títulos de crédito e de cidadania, de cartas de crédito, de honras e compromissos que impedem a liberdade e a solidariedade.


Jesus conclui sua lição com uma afirmação radical e de longo alcance: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Ele sabe muito bem – e nós também intuímos, mas exorcisamos apressadamente esta percepção – que o problema não é possuir os bens ou consumir de modo maduro e consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo consumo, como se o sentido da nossa vida dependesse deles.


A necessidade de renunciar a tudo está ligada ao seguimento de Jesus. A renúncia é um meio para percorrer um caminho que conduz à vida abundante, tanto para si mesmo como para os outros. Renunciar a tudo significa limpar a casa, abrir espaço, ordenar as prioridades e orientar-se pela prática e pela proposta de Jesus. Ele é a Palavra de Deus. É por ele que saberemos por onde andar. Ele é luz e verdade, mas é preciso acreditar e tirar as consequências.


“Senta primeiro e examina bem...”


Precisamos avaliar e fazer as contas: dispomos de recursos e estamos dispostos/as a pagar os custos do seguimento de Jesus Cristo nas estradas deste mundo de relações líquidas e flutuantes? A primeira impressão, especialmente depois de ouvir as parábolas do construtor e do rei em guerra, é que Jesus quer desencorajar os discípulos. Na verdade, o que ele quer é que avaliemos bem as exigências do reino de Deus, seja antes de começar a caminhada, seja no momento atual da nossa vida.


É possível que, como a maioria dos cristãos, tenhamos começado sem uma decisão esclarecida e madura. Mas hoje, com o acesso que temos à Palavra de Deus, à teologia e ao ensino da Igreja não podemos permanecer na fácil superficialidade ou buscar refúgio nos hábitos e costumes ou nas versões interesseiramente conservadoras do cristianismo. Passou o tempo do ufanismo triunfalista, ao estilo dos discursos da semana da pátria e das palavras agradáveis dos palanques.


O assassinato dos cinco médicos ocidentais no Afeganistão em agosto passado é um sinal eloquente de que o seguimento de Cristo tem seus riscos. Mas o perfeito casamento que muitos pretendem celebrar entre o seguimento de Jesus Cristo e a mentalidade capitalista, consumista, indiferente e escludente talvez seja ainda mais perigosa e destruidora. É tempo de avaliar e fazer as contas: temos condições e estamos dispostos a assumir a escala de valores de Jesus e realizá-la em todos os âmbitos da vida?

“Recebe-o como se fosse eu mesmo...”


O sábio se pergunta como podemos conhecer os projetos de Deus. O Espírito Santo revelou estes projetos de Deus em Jesus Cristo. Ele nos ensina a contar bem os nossos dias, a avaliar bem as possibilidades e exigências do nosso tempo. Mesmo dentro do império romano, para o qual a escravidão era legal e necessário, Paulo ousou romper com o hábito e tratou Onésimo, um escravo fugitivo, como seu filho e irmão, pedindo que Filemon o respeitasse como respeitava o próprio Paulo.


Por isso, pedimos ao Jesus Cristo, nosso irmão e caminho de vida: Alimenta-nos diariamente com a tua Palavra. Ensina-nos por onde andar. Vem em nosso auxílio para que compreendamos as exigências do seguimento dos teus passos e saibamos renunciar a tudo o que nos afasta ti. E que teu apóstolo e nosso irmão Paulo nos estimule a lançar as sementes da igualdade num mundo dividido e desigual. Amém.


Pe. Itacir Brassiani msf

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