English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 2 de junho de 2018

9º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Primeiro o Evangelho da dignidade humana, depois as leis!
Passadas sete semanas de um tempo marcado pelo júbilo pascal e as solenidades de Pentecostes, da Santíssima Trindade e do Corpo e Sangue de Jesus, voltamos ao tempo comum, que, no Brasil, continua sendo um período festivo: o tempo das alegres e envolventes festas juninas. Como a lei do sábado para os hebreus, as festas tem a força de romper com o cinzento calendário do trabalho e com a percepção da vida como um peso sem alívio e de lembrar que somos gente libertada e chamada à liberdade. Elas celebram uma dignidade conquistada no passado ou a certeza de “uma vitória que vai ter que acontecer”.
Mas nós sabemos também que as festas, assim como a memória e as leis que nasceram para garantir a liberdade e a fraternidade, podem ser capturadas pelas pessoas e instituições que desejam perpetuar seu poder dominador sobre as pessoas. Isso aconteceu com as leis que nasceram da aliança de Deus com o povo hebreu, no caminho para a terra prometida, e, infelizmente, aconteceu e acontece com o Evangelho vivido e anunciado por Jesus Cristo: ele continua sendo usado para oprimir gente já quebrada por tantas dores, para subjugar pessoas e povos aos tiranos, para distrair os oprimidos das necessárias lutas, para angariar votos, para arrancar dinheiro aos pobres e enriquecer pastores e igrejas.
Voltemos nosso olhar a Jesus de Nazaré e sintonizemos nossos ouvidos com o evangelho desse domingo. Há pouco, Jesus havia curado um paralítico mediante a declaração de que ele não era culpado de nada (cf. Mc 2,1-12) e partilhado uma refeição com pessoas consideradas indignas (cf. Mc 2,13-18). Animados pela dignidade e liberdade que Jesus, o esperado noivo da nova aliança, lhes conferia, os discípulos se permitiram desconsiderar a lei do jejum. Tanto as ações de Jesus como as dos seus discípulos irritaram profundamente o grupo dos fariseus, representantes do legalismo sem coração.
Para completar o escândalo, os discípulos de Jesus atravessam campos de trigo e recolhem sem cerimônia os grãos que necessitam para matar a fome, e isso no sacratíssimo dia de sábado... Se levamos a sério a resposta de Jesus ao questionamento dos defensores da lei, fazendo isso os discípulos afrontam duas leis: a lei que proíbe qualquer trabalho no dia de sábado e a lei que impede a violação da propriedade privada. É isso que transparece na referência de Jesus a Davi e seus companheiros, que, estando com fome, se apropriaram das oferendas que pertenciam exclusivamente aos sacerdotes.
No fundo, o que Jesus quer discutir e colocar em evidência, inclusive na cena seguinte, é o espírito e a finalidade das leis e instituições: elas proíbem, permitem e ordenam fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matá-la? Para Jesus, estômago febril de uma pessoa pobre e faminta é mais sagrada que todos os templos, leis e instituições. Para salvar uma pessoa ou um povo em situação de risco, o respeito à lei se torna secundário. Além disso, faz parte da maturidade e da liberdade cristã desmascarar corajosamente as leis, costumes e instituições que não fazem outra coisa que oprimir os pobres.

Os acontecimentos recentes da política e do judiciário brasileiros estão a demonstrar que a lei só é pesada e tem força quando se trata de punir os pobres e quem participa das suas lutas. A lei não é parâmetro absoluto para a justiça! Basta lembrar que a escravidão negra foi legal no Brasil; o apartheid foi legal na África do Sul; a mutilação sexual das mulheres ainda é legal em alguns países árabes; a prisão de Nelson Mandela, como a de Lula, não foram feitas ao arrepio da lei; o congelamento dos investimentos na saúde e na educação foram atos legais, assim como a desmantelamento dos direitos trabalhistas...
Afirmar isso não é anarquia ou rebeldia adolescente, mas Evangelho de Jesus Cristo! É claro que o Evangelho da liberdade é um tesouro que os cristãos e suas Igrejas carregamos em vasos de barro, com o risco de quebrá-lo ou trancafiá-lo em cofres invioláveis, longe da vida. Mas a luta para sermos libertária e responsavelmente fiéis a esse Evangelho nos insta até a morte! Como Paulo, no cumprimento dessa sagrada missão, somos atribulados, mas não desanimamos; enfrentamos dificuldades, mas nada tira nosso ânimo; somos perseguidos, mas encontramos consolo; caímos, mas levantamos e prosseguimos.

Jesus de Nazaré, peregrino nos santuários das dores e lutas dos humildes e dos humilhados! Ajuda teus discípulos e discípulas a não fazer do teu Evangelho uma lei, a não transformar teu vinho novo em vinagre azedo e tua liberdade em novas dominações. Faz ressoar sempre mais em nossos ouvidos a Boa Notícia que anunciavas com palavras e gestos nos caminhos e sinagogas da Galileia, e dá-nos coragem para permanecer fiéis e solidários nas lutas do povo e vigor para denunciar todas as armadilhas que, de forma sorrateira ou escancarada, os poderosos colocam nos seus caminhos. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: