Deus é mistério de amor, e cria tudo no amor e
na comunhão.
Damos o nome arquétipos às imagens e valores
que mexem com o ser humano em sua profundidade. Essas imagens são uma espécie
de filtro mediante o qual olhamos tudo e vemos a nós mesmos. Elas ordenam ou
confundem, escravizam ou libertam. E Deus
é um dos arquétipos mais profundos e influentes da nossa vida. Se nossa imagem
de Deus é deformada ou doentia, acabamos deformando-nos e adoecendo. Se
desconfiamos muito de nós mesmos, acabamos imaginando um Deus observador e
desconfiado, pronto a pedir provas e julgar o ser humano...
A solenidade da Santíssima Trindade vem nos
recordar que a imagem correta de Deus não é a de um sujeito solitário,
absoluto, onipotente e onisciente, mas uma imagem de comunhão no amor, de ser-para-os-outros,
de abertura e acolhida, de compaixão e dom de si. Deus é o arquétipo da
perfeita comunhão, uma comunhão na qual cada sujeito recebe tudo do outro e se
faz dom radical e incondicional ao outro. Esta comunhão na acolhida do outro e
na doação amorosa de si é também a vocação ou DNA das criaturas. O Papa Francisco
lembra que misericórdia é a palavra que melhor expressa o mistério da
Santíssima Trindade, que do coração da Trindade flui uma grande e incessante
torrente de misericórdia.
Nossa primeira atitude diante do Mistério de
comunhão, que é a essência de Deus e das criaturas, mais que espanto reflexivo,
é a adoração agradecida. “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era
no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém!” Adoração é a resposta própria de quem se
descobre pequeno e impotente e, ao mesmo, destinatário de um amor que o faz
capaz, digno e grande. O divino mistério de Comunhão e de Bondade nos põe de
joelhos e nos leva a exclamar “Glória!” É por isso que, diante de Jesus
ressuscitado, os discípulos ajoelham-se reverentes e obedientes...
A experiência mística do amor de Deus nos
compromete necessariamente com a missão de em tudo amar e servir, de promover a
vida plena das criaturas de Deus. “Vão e façam com que todos os povos se tornem
meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e
ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês.” É uma missão que se abre a
todos os povos e desconhece fronteiras e muros que dividem, uma missão
enraizada e focalizada no amor. Fazer discípulos significa acolher e congregar
no amor aqueles que são diferentes, fazer-se próximo daqueles que estão longe.
Jesus nos envia a batizar, pois o batismo
sinaliza o discipulado e nele nos introduz, é a assinatura de uma nova
lealdade, não mais aos doutores da lei e ao imperador, mas ao Deus Uno e Trino,
à Divina Comunhão, da qual a Eucaristia é sacramento e celebração. No batismo
expressamos nossa feliz condição: somos filhos e filhas do universo, irmãos e
devedores às estrelas, à luz, ao ar e à terra, pois todos esses elementos
habitam e cooperam em nós e tudo está interligado e relacionado, como ensina o
Papa Francisco. Paulo sublinha essa realidade quando diz que somos filhos e
herdeiros de Deus em Jesus Cristo. Não somos fragmentos isolados, mas filhos da
comunhão que habita todas as coisas!
Deus amável, Mistério de Comunhão sem limites,
regaço de onde partimos e para onde desejamos retornar: envia teu Espírito para
que, em nós, ele grite e anuncie que és pai e mãe e nos ajude a proclamar que
todas as criaturas são nossas irmãs. Amor paterno, materno e fraterno, abre o
nosso ser à ação do teu Espírito de comunhão, a fim de que ele nos transforme
em pessoas livres e solidárias, agentes da liberdade no mundo, anunciadoras e
criadoras da comunhão que associa todas as criaturas. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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