A parábola do chefe de família que trata com
igualdade seus empregados que tem diferentes horas de trabalho está
literariamente situada logo após o episódio do jovem rico (cf. Mt 19,16-26),
aquele que não aceitara a proposta de partilha inerente ao Reino de Deus, e que
provocara o desabafo de Jesus: “Dificilmente um rico entrará no Reino dos
Céus...” (19,23). Jesus vai adiante, e nos propõe um horizonte mais amplo e um
exemplo concreto. Na parábola em questão, o chefe de família garante a todos os
diaristas uma moeda de prata por dia, ou aquilo que é justo, que um trabalhado
necessita para viver.
Alguns trabalhadores contratados começam a
trabalhar bem cedo, outros às nove horas, outros ao meio-dia, alguns às três, e
outros somente às cinco horas da tarde. A todos, o chefe de família promete um
pagamento justo. Enquanto uns labutam um dia inteiro, outros empenham no
trabalho apenas algumas horas da tarde. O patrão dá ao administrador a ordem de
começar o pagamento por aqueles que haviam trabalhado um tempo mais curto.
Aqueles que haviam sido contratados às cinco da tarde se aproximam, com grandes
expectativas, mas cada um recebe uma moeda de prata...
Assistindo ao acerto de contas, e vendo o
valor recebido pelos peões que haviam trabalhado apenas algumas horas, aqueles
que haviam começado nas primeiras horas da manhã pensavam que necessariamente receberiam
mais. E não ficam satisfeitos quando recebem o mesmo pagamento dado aos
primeiros. À primeira vista, o protesto parece justo, e nosso desejo é fazer
coro com eles. Afinal, fazer justiça não significa dar a cada um aquilo que ele
merece? Não nos parece justo desconsiderar a diferença entre quem suportou o
cansaço e o calor do dia inteiro e quem trabalhou apenas uma hora...
“Tu os igualaste a nós!” Este é o protesto
daqueles que se acham no direito de receber mais. A questão não é se precisam
ou não, se haviam combinado ou não um pagamento maior. A igualdade não lhes
parece uma coisa justa. Não conseguem aceitar uma ética que tem como princípio
estabelecer a igualdade fundamental de todos os seres humanos e garantir-lhes a
vida mínima. Mas a Justiça do Reino, a Justiça de Jesus, considera que cada
pessoa tem direito a receber aquilo que necessita para viver. Uma pessoa jamais
perde a dignidade e o direito de ser respeitada e tratada como como sujeito de
direitos.
Jesus
Cristo não deixa dúvidas: Deus dá absoluta prioridade àqueles que as sociedades
costumam colocar em último lugar. “Comecem pelos últimos...” Este é o caminho
que devem seguir os administradores públicos, privados e eclesiais! Este ensinamento
pode parecer muito duro e contrário à corrente das nossas convicções. De fato,
desafia as hierarquizações e os sistemas construídos sobre o princípio do
mérito, sempre prontos a premiar algumas poucas pessoas bem-sucedidas e a
culpabilizar as maiorias, condenando-as violentamente a uma vida que nem merece
esse nome.
Deus pai e mãe, bom e compassivo com todas as
criaturas: que teu Espírito regue a semente da tua Palavra a fim de que ela germine
e frutifique em nós! Que a tua justiça generosa ilumine os julgamentos dos
cristãos e das Igrejas. Que a inversão das prioridades em função dos últimos se
faça verdade em todos os níveis. Que nós não poupemos esforços para defender os
direitos dos humanos e de toda a criação. Oxalá aprendemos de vez que que para
os cristãos a posse de bens é licita somente quando está em função da
generosidade que dá a cada pessoa aquilo que ela necessita para viver
dignamente. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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