Não
esqueçamos que é na oração que revelamos nossos verdadeiros e mais profundos
desejos. O que é que andamos pedindo nas orações pessoais e celebrações
comunitárias? Dirigimo-nos a Deus como se ele fosse um substituto do falido
sistema de saúde, pedindo que não deixe que a doença se hospede em nós ou nos
nossos familiares? Confiamos a ele a frágil economia da nossa família e
imploramos que dê segurança às nossas poupanças? Talvez cheguemos até a pedir
paz, segurança e sucesso à nossa Igreja na concorrência com as demais
denominações, que tratamos como concorrentes...
Pobres
desejos esses!... Não passam de necessidades, reais ou fantasiosas, geradas no
ventre do medo. Por isso, quando se trata de oração, não é suficiente pedir com
insistência: é preciso desejar e pedir com ousadia e corretamente grandes
coisas! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a vossa vontade! Renova a face da
terra!... O cego Bartimeu, que pede esmolas à margem do caminho, começa pedindo
compaixão àquele que carrega nas próprias entranhas as esperanças dos pequenos.
Antes de manifestar propriamente um desejo, expressa sua própria condição de
dor e alienação.
Apesar da
contrariedade dos que o circundam e seguem, Jesus pára e se dirige ao cego e
mendigo: “O que você quer que eu faça por você?” Encorajado pelos discípulos, Bartimeu balbucia um pedido que vem
do fundo da condição humana, que espanta todos os medos e exorciza as limitações:
“Mestre, eu quero ver de novo!” Neste pedido, ele resume todas as suas
necessidades e desejos: ver claramente as coisas, avaliar com retidão os
acontecimentos, vislumbrar o Reino de Deus chegando como graça, reconhecer a
presença de Deus nos pequenos e grandes gestos de serviço solidário...
Jesus de Nazaré, peregrino no santuário das dores e
sonhos humanos! Escuta o grito que brota das entranhas da terra e abre os nossos
olhos para podermos reconhecer-te passando por nossos caminhos. Desamarra
nossos pés, para que sigamos teus passos. Converte a tua Igreja, para que ela não ignore os
desejos e sonhos que movem a humanidade, e desperta nela novas formas de
cooperação missionária. E que ninguém cale em nós o grito desse desejo, mais
forte que todas as razões, mais glorioso que todas as luzes, mais vivo que
todas as cores, mais nobre que todas as honras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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