Jesus é a Boa Notícia que humaniza, e
precisamos levá-lo a sério!
No segundo domingo da quaresma meditamos sobre
a transfiguração de Jesus. Depois de ter perguntado aos discípulos o que o povo
pensava sobre ele, Jesus interrogou os próprios discípulos, e ouviu de Pedro
uma resposta que apontava para um messianismo forte e nacionalista: “Tu és o
Messias, o Filho do Deus vivo!” Nessa profissão de fé formalmente correta se
escondem ideias e expectativas bastante contraditórias, e Jesus sente
necessidade de esclarecer esse messianismo marcado pela ideia de poder e de
nação.
Então, Jesus começa a corrigir atentamente as
expectativas de sucesso e honra que povoam a mente e o coração de Pedro e dos
demais discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perde
a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25). Os discípulos não compreendem
estas insistentes palavras de Jesus. Eles, como nós, precisam alimentar-se com
sua Palavra e purificar o olhar para serem capazes de, como o bom samaritano e
o próprio Jesus, ver, aproximar-se e cuidar da vida ameaçada,com eficácia e ternura.
Na cena, Jesus aparece acompanhado por Elias e
Moisés e conversa com eles. Eles são dois ícones da história do povo de Israel:
Moisés, que lembra o êxodo libertador, e Elias, que recorda a profecia
corajosa, radicada na experiência de um Deus que caminha com seu povo mas não
se deixa prender a nenhuma imagem. Parece que conversam com Jesus sobre o
anseio de liberdade e a necessidade de profecia. Mas os discípulos não parecem
interessados nisso. Eles se deixam seduzir pelo brilho da cena e fecham os
ouvidos ao que se fala.
O intimismo e o espiritualismo que costumam
envolver e acompanhar muitas experiências religiosas podem ser perigosos quando
pretendem esconder a letal aliança com o poder das elites a indiferença diante
da situação dos oprimidos e das diversas formas de vida ameaçadas. A tentação
de construir tendas, templos e palácios em lugares inacessíveis aos simples
humanos sempre ronda a Igreja, e nem Pedro e seus sucessores estiveram imunes a
ela. É preciso descer da montanha, sair dos templos, livrar-se da sedução do
brilho, ganhar as ruas e não esquecer a lição da solidariedade!Na Quaresma,
“recordamos e celebramos a oferta de uma vida que foi intensamente doada,
dedicada, compartilhada, cuidadora”, diz a CF 2020 (nº 167).
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