Os direitos humanos são apenas para os humanos
direitos?
Desejoso de ser visto e reconhecido, o fariseu
reza de pé, e olha os demais de cima para baixo. Sua oração é uma espécie de
autoelogio, e vem marcada pelo desprezo e pela condenação dos demais, por ele considerados
inferiores e pecadores. É como se Deus fosse obrigado a agradecer o fariseu por
ele ser bom e correto. O publicano não entra no templo e, sem coragem até de
levantar os olhos, bate no peito reconhecendo sua condição ambivalente e
pedindo que Deus se compadeça dele. E estas atitudes estão longe de ser um
problema somente do judaísmo, nem apenas dos primeiros cristãos!
A ostentação e a pretensão de superioridade,
sempre acompanhadas de uma agressiva discriminação, contaminaram também os
cristãos e, infelizmente, resistem, como erva daninha difícil de erradicar, até
nossos dias. E, o que é pior, quase sempre vêm revestidas com a atraente
roupagem da piedade. Mas, desde o mito bíblico de Abel e Caim, sabemos que Deus
que não trata todas as pessoas do mesmo modo. “Ele não é parcial em prejuízo do
pobres, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica
do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas”, lembra o livro do
Eclesiástico.
Será que esta divisão nefasta e nada
evangélica está presente também no interior das nossas igrejas? Infelizmente,
parece que sim! Basta dar uma olhada atenta à primazia conferida às Igrejas
europeias no confronto com as Igrejas do Terceiro Mundo. Temos também os
conflitos que rondaram todo o magnífico e corajoso Sínodo para a Amazônia, sem
esquecer aquela profunda e dolorida divisão entre as próprias comunidades
cristãs: ortodoxos e romanos, católicos e protestantes, igrejas clássicas e
igrejas pentecostais, e assim por diante. Fariseus versus publicanos!
Ao ouvir a prece da pessoa humilde e
discriminada, Deus resgata sua dignidade e a verdadeira igualdade entre todos
os seres humanos. A este propósito, é impressionante o testemunho de Paulo. Ele
combate com tenacidade a pretensão de superioridade dos judeus e dos novos
cristãos de origem judaica frente aos cristãos vindos do paganismo. Quando diz,
em forma de testamento, que combateu o bom combate, completou a corrida e
guardou a fé, está se referindo à sua convicção de que Cristo é nossa paz, pois
de dois povos fez um só povo, derrubando o muro da inimizade que os separava
(cf. Ef 2,14).
Deus Pai e Mãe, tu fazes a prece do humilde
atravessar as nuvens e escutas atenta e cordialmente o clamor dos oprimidos.
Então, despoja-nos de todo orgulho arrogante e de toda competição infantil.
Ajuda-nos a anunciar teu Evangelho integralmente e a fazer resplandecer, pelo
anúncio e pelo testemunho, a boa notícia e a boa convivência que ele nos pede.
Ajuda-nos a vislumbrar em Jesus teu rosto compassivo e misericordioso, e
anunciá-lo a todos. E isso até que a humanidade seja de fato uma só família, na
qual todos os membros são queridos e respeitados, para além de toda e qualquer
diferença. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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