O cristão crê na força da semente: morrendo,
produz vida!
Jesus recém havia realizado um sinal que
impressionara a muitos, devolvendo a vida ao amigo Lázaro. Quando voltou a
Betânia, Marta, Maria e o próprio Lázaro ofereceram-lhe um jantar de
agradecimento, e Maria ungiu seus pés com um perfume precioso, sob o olhar
reprovador de Judas e dos fariseus. Em seguida, Jesus foi a Jerusalém e entrou
na cidade montado num jumento, acompanhado de uma multidão que o aclamava como
Messias libertador. “Todo mundo vai atrás de Jesus”, constatavam contrariados
os fariseus. De fato, as autoridades religiosas estavam preocupadas com a
crescente fama de Jesus.
É nesse contexto que alguns crentes de origem pagã,
excluídos da plena cidadania de Israel, chegando a Jerusalém para a festa da
páscoa, tomam distância da religião do templo e manifestam a Filipe o desejo de
ver Jesus. Filipe não se sente em condições de dizer “venham e vejam!” (cf. Jo
1,46), e procura André, que, como ele, era discípulo de Jesus. Juntos, Filipe e
André comunicam a Jesus o desejo daquele grupo de estrangeiros. Enquanto as
autoridades, que se consideravam os verdadeiros adoradores de Deus, procuram um
jeito de prender Jesus (cf. Jo 11,57), os pagãos, tratados como crentes de
segunda classe, manifestam o desejo de conhecê-lo, e o evangelista faz questão
de ressaltar esse paradoxo.
É interessante notar a reação de Jesus frente ao
pedido desses judeus de origem pagã. Ele poderia aproveitar a oportunidade para
aumentar sua fama, colhe o momento para desenvolver uma catequese profunda e
exigente sobre o seu messianismo. Jesus responde declarando que sua Hora está
próxima e que logo mais sua Glória será plenamente conhecida. Essa Hora é a
meta da sua vida, mas está envolta em mistério e provoca medo. A assinatura da
nova aliança visualizada por Jeremias tem um custo que assusta o próprio Jesus.
Sua Hora é a paixão por amor, sua Glória é a cruz.
O que impressiona é que, no exato momento em
que sua fama ultrapassa os estreitos limites do judaísmo, Jesus aceba para o
mistério da semente, abre-nos seu coração e nos revela sua vulnerabilidade.
“Agora estou muito perturbado. E o que vou dizer? Pai, livra-me desta hora? Mas
foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, manifesta a glória do teu
nome.” A possibilidade do martírio desestabiliza o próprio Filho de Deus, mas
esse é o testemunho inequívoco de amor e o ápice da vida cristã. Este é o caminho
que nos conduz à verdadeira liberdade e a uma vida plena de sentido.
O Messias é vulnerável, e assumindo essa
condição comum aos seres humanos, nos salva. A carta aos Hebreus diz sem
titubeios: “Durante sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus em
alta voz e com lágrimas ao Deus que o podia salvar da morte.” A assunção dessa
condição humana encarna e exemplifica sua obediência e sua perfeição. E é assim
que ele se torna fonte na qual também nós podemos beber liberdade, salvação e
vida plena. Jesus Cristo é o Messias de Deus que, inspirado no mistério da
semente, mergulha fundo na debilidade humana e a assume como caminho de
humanização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário