Jesus enfrenta a violência que se esconde até
na religião!
Jesus entra no templo numa data festiva. Na
festa da páscoa, a cidade ficava entulhada de peregrinos, e o comércio fervia,
e o faturamento crescia. Estima-se que, por ocasião das festas pascais, no
templo de Jerusalém eram sacrificados mais ou menos 18.000 animais! O povo
chegava de todos os lados para oferecer os sacrifícios, e para isso, precisava
comprar os animais. E os vendedores de animais e os cambistas estavam lá para
facilitar os ‘negócios de Deus’ e faturar encima da piedade popular. Como a lei
proibia o uso de moedas com imagens dos reis e dos impérios, lá estavam os
cambistas.
As próprias autoridades religiosas, usando a
fé e o nome de Deus em vão, haviam transformado o templo em espaço e
instrumento de exploração. Jesus fica simplesmente indignado com tudo isso. O
zelo pelo bem-estar do povo o inflama e consome. Por isso, expulsa os
comerciantes, derruba as mesas dos cambistas e pede aos vendedores de pombas
que levem suas gaiolas embora. “Tirem isso daqui!” Jesus mostra-se mais
indignado com estes últimos, pois são os exploram a fé dos mais pobres,
daqueles que, por sua miséria, só podiam comprar e oferecer pombas (cf. Lv 5,7;
14,30).
Ameaçando e expulsando os comerciantes e
cambistas, Jesus denuncia o uso do nome de Deus para fins de exploração e diz
que, na prática, a elite que havia se apropriado do templo e o administrava cultuava
outros deuses. E hoje não é diferente, pois muitas pessoas que invocam o nome
de Deus para justificar sua prosperidade e refutar as lutas dos pobres, excluem
e violentam outros em nome da própria honra... A ação de Jesus, mesmo parecendo
um gesto violento, é uma reação apaixonada em defesa das vítimas de uma
violência exercida em nome da religião e do mercado religioso.
Com sua desconcertante ação simbólica, Jesus
faz bem mais que purificar o templo ou corrigir suas práticas. Ele declara que o
templo não é mais caminho e espaço para o encontro com Deus, que os sacrifícios
e ritos são por si mesmos inúteis. A partir de Jesus, Deus se deixa encontrar
na humanidade das pessoas que amam e lutam para superar a violência e na
comunidade que serve os mais necessitados. O templo permanece unicamente como
espaço de encontro e lugar para fazer memória e cultivar a esperança. A
verdadeira sacralidade migra do templo para os corpos dos filhos e filhas de
Deus e para as ações concretas do corpo de Cristo, que é a comunidade eclesial.
Ilustrando aquilo que é visto como importante
até hoje, Paulo escreve: “Os judeus pedem sinais e os gregos procuram
sabedoria.” Traduzindo numa linguagem atual: uns procuram e valorizam gestos
grandiosos, demonstrações de poder; outros confiam no conhecimento e no saber
bem organizado. Mas o poder e a sabedoria de Deus brilham em Jesus de Nazaré,
irmão servidor da humanidade, vítima da violência religiosa e política. Infelizmente
até hoje temos Igrejas e movimentos que não fazem outra coisa senão promover
cultos e ‘milagres’ espetaculares e prometer sucesso e prosperidade...
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