No 4° dia (§ 10) do seu Último Retiro, Elisabete da Trindade
escreve sobre o que deve fazer o discípulo para conformar sua vida com a de
Jesus Cristo, para "ser a atitude de um louvor de glória, que quer
continuar, através de todas as coisas, o seu hino de ação de graças". Ela
entende que a ação necessária e fundamental é permanecer inabalável na fé, como
Moisés, inabalável na fé no "grande amor" com que Deus nos amou (Ef
2,4). A frase completa de Paulo é a seguinte: "Mas Deus, que é rico em
misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a vida juntamente com
Cristo, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas. Vocês foram salvos
por graça" (Ef 2,4-5).
Para Elisabete, permanecer inabalável na fé e no amor
significa não se importar com os sentimentos superficiais de agrado ou desagrado,
iluminação ou escuridão. A ênfase de Paulo está na gratuidade do amor de Deus
mediante o qual a humanidade pecadora é salva, mas Isabel interpreta este
evangelho de Paulo como um convite a não se abalar e manter a atitude de fé em
Deus, o qual nos amou de forma insuperável em Jesus Cristo.
No § 34, a expressão "grande amor" é citada por
Elisabete no desdobramento da questão de edificar-se em Cristo. Trata-se da
pessoa "elevar-se acima de si mesma, dos sentimentos, da natureza, acima
das consolações ou das dores, acima do que não é unicamente ele. É aí que, em
plena posse de si, se domina, se transcende e ultrapassa também todas as
coisas". Para isso é necessário que a pessoa se fortaleça na fé, se
mantenha vigilante, "totalmente recolhida na sua palavra criadora”, nesta
fé no "grande amor".
Enfatizando o "grande amor de Deus", a seu modo,
Elisabete supera a imagem de um Deus como juiz onipotente e indiferente frente
às dores e dificuldades dos seres humanos. E percebe que o "jeito de
Deus" convida e convoca o discípulo a ultrapassar o fechamento em si
mesmo, abrindo-se no amor.
Itacir Brassiani msf
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