O ‘Último Retiro’ da Beata Isabel da Trindade
Estas anotações demonstram um claro sentido de autobiografia
e traduzem o espírito predominante durante as duas semanas de retiro. Parece
que, através delas, Elisabete quer compartilhar e ensinar sua vocação ou ofício de
ser "louvor de glória" de Deus, nome que escolheu para si, inspirada
em Paulo Apóstolo. Mais que reflexões e fórmulas, o que a Beata Elisabete partilha
são os horizontes que se lhe abriram nos intensos dias de retiro e preparação
para sua Páscoa/Travessia definitiva.
O Último Retiro nasce da sede que Elisabete sente de ser
verdadeira diante de Deus, da decisão de doar-se sem reservas ao crucificado.
Neste sentido, é como um grito de amor perante um Deus que é amor, um grito que
surge do fundo de um abismo sem fundo (cf. UR 1). Por serem anotações quase
íntimas, podemos compreender perfeitamente a presença da questão do sofrimento
e da sua identificação com o "Crucificado por amor". Elisabete descobre
o amor escondido na cruz e busca resolutamente a identificação com o Cristo
crucificado. Por isso, este testemunho literário revela uma fé centrada em
Jesus Cristo. Ela se refere a Cristo como o "Verbo encarnado, crucificado
por amor".
Finalmente, nas referidas anotações Elisabete mostra também um
impressionante deslumbramento com a experiência de Deus presente nas cartas
paulinas, especialmente nas cartas aos Efésios e aos Colossenses (das 173
citações ou alusões a textos bíblicos, 81 são das cartas paulinas, sendo 25 da
carta aos Efésios e 13 da carta aos Colossenses), e nela encontra claramente o
plano de Deus a seu respeito. Por isso, Elisabete acolhe as cartas como se fossem
a ela dirigidas, guarda e medita em seu coração o que ouve e lê, imitando Maria
(cf. UR 2; 40).
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário