A Assunção é uma festa mariana que fez história e lançou
profundas raízes na religiosidade popular. Mas é importante destacar que aquilo
que cremos sobre Maria se refere, de alguma forma, à comunidade eclesial, ao
povo de Deus, a todos os homens e mulheres. A glorificação de Nossa Senhora,
sua acolhida e realização plena em Deus, é uma vocação e uma promessa de Deus
extensiva a toda a humanidade. Maria não é medalha olímpica solitária; ela sobe
ao podium com a humanidade. Nela, a pessoa humana em sua integridade – em corpo
e alma! – é assumida e realizada plenamente em Deus. Eis uma belíssima
realização da nossa esperança e uma proclamação clara e inequívoca da dignidade
do corpo.
Deus pôde realizar grandes coisas em Maria e através de
Maria porque encontrou nela a indispensável base humana já preparada. Para
fazer-se humano, o Filho de Deus precisou de uma pessoa profundamente humana, e
não de criaturas angélicas! Humildade, escuta e fé na ação libertadora de Deus
é também o que possibilita uma vida humana e feliz. O segredo da felicidade que
todos buscamos não está na posse ou no consumo desmedido de bens, nem na fama,
no sucesso ou no poder de atração que exercemos, mas na abertura humilde e
profunda aos outros, ao futuro e a Deus.
Contemplando sua própria história e a epopeia do seu povo,
Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os
soberbos, derruba os poderosos, exalta os humildes e oprimidos, socorre seu
povo e estende sua misericórdia a todas as gerações. Então, esta mulher,
assumida por Deus no céu, não é apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma
discreta pessoa que acredita, a ‘doce e recatada’ esposa de José. Deus assume
em corpo e alma e eleva à glória do céu aquela que rompe com a cultura que
menospreza a mulher, aquela que diz uma palavra profética na arena pública.
Finalmente, Maria é discípula de Jesus, membro da Igreja,
sinal e símbolo do povo de Deus. Sua assunção por Deus é um sinal da
ressurreição que todos esperamos. Como aquela mulher radiante do Apocalipse, a
humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos os lados, vai
dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo. Maria simboliza a
humanidade e a Igreja em seus traços femininos. Nela, a Igreja é chamada a
construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina, respeita e favorece
o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas.
Itacir Brassiani. msf
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