Iniciamos
o novo ano no clima espiritual do Natal. A liturgia continua convidando-nos a
penetrar mais profundamente o mistério da encarnação de Deus. Hoje,
contemplamos a chegada dos pastores à gruta ou estábulo de Belém. Ali eles
encontram Jesus no seio de uma família pobre e migrante. Ficam vivamente
impressionados com o que veem, e comparam com tudo aquilo que tinham ouvido. É
possível imaginar a pergunta que ressoa na cabeça deles: Como pode uma criatura
tão frágil ser portadora da Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade?
Nascido e
acolhido também por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pode pacificar o
mundo estabelecendo relações novas, baseadas na justiça e no combate à
indiferença. E ele cumpre a promessa de Deus e a esperança humana através de
cada um de nós, de homens e mulheres de boa vontade, de líderes autênticos e de
organizações que não se resignam à paz aparente, à paz que se edifica e sustenta sobre a
indiferença e o equilíbrio de forças ou o terrorismo, seja aquele promovido
pelos grupos radicais ou aquele sustentado pelos Estados prepotentes.
Em Jesus
de Nazaré, na encarnação, missão e paixão do Filho de Deus, somos libertados do
débito que temos conosco mesmos e com os outros por não conseguirmos realizar a
utopia que realmente sonhamos. Estamos livres da culpa de termos ficado aquém
ou errado o alvo. Deus não espera que cheguemos heroicamente a esta meta. Ele
mesmo vem decididamente ao nosso encontro e, tomando-nos pela mão, nos conduz e
sustenta nesse caminho. Ele é nossa Paz! Paz entre pessoas, religiões, classes,
nações, partidos. Paz entre vencidos e vitoriosos. Paz também entre a
humanidade e a criação.
É do
ventre da dor humana assumida solidariamente que o Espírito desperta a
dignidade de todas as criaturas e o grito em coro: “Abbá, pai querido!” Nascido
de mulher e sob a Lei, Jesus conduz à liberdade todas as pessoas, começando
pelos últimos, pelas pessoas que são colocadas à margem. Ele confirma que Deus reconhece todos como filhos, e nos
convida a superar relações pautadas pelo medo e pela dominação. Como filhos,
somos também herdeiros do Reino de Deus, da “shalom” que proporciona o “tudo de
bom” que repetimos nestes dias de passagem, o convívio sadio que tem sua base
na compaixão que vence a indiferença e na justiça que destrói a desigualdade.
Itacir Brassiani msf
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