Na
tentativa de falar sobre Deus, a teologia não consegue abandonar as velhas imagens
de poder e de realeza, e faz um esforço inútil para aplicá-las a Jesus Cristo.
Mas, como ocorreu com os três magos, quem encontra realmente Jesus Cristo e o
reconhece, precisa mudar também seu caminho teórico e tentar inventar uma nova
linguagem para falar sobre Deus, uma linguagem que parte do presépio e da cruz.
Diante de um Deus em fraldas, somos interpelados a mudar nossas idéias sobre
Deus...
Aproximemo-nos
do estábulo de Belém, reconheçamos e acolhamos o rei-servo que nos faz livres e nos conduz ao melhor de nós mesmos,
que nos leva para fora do estreito círculo dos interesses mesquinhos e dos
medos disfarçados. Contemplemos a glória de Deus que brilha nas suas criaturas
e deixemos aos seus pés nossos melhores dons: o desejo de uma humanidade tecida
de infinitos gestos de aproximação e solidariedade, inclusive entre aqueles não
pertencem à mesma nação ou religião.
A liturgia
nos sugere acolher a manifestação de Jesus Cristo num horizonte de resgate da
esperança e da alegria de viver, e isso não apenas para quem acredita nele e
tem carimbada sua ficha de batismo. Os povos e religiões estranhas e
estrangeiras também têm lugar nesta alegria. Todos nasceram igualmente para
brilhar. A razão desta alegria é o Deus Menino que, na sua insuperável
proximidade e inigualável simplicidade, justifica todos os seres humanos e
restaura a paz entre os povos.
É em
direção a Belém que os magos seguem, e é lá que encontram a alegria com feições
de um menino, deitado numa manjedoura, sob o olhar cuidadoso de uma mãe.
Herodes aconselhara que eles fossem a Belém em busca de informações, mas eles
caminham levando presentes, e não cadernos de anotações... A estrela-sinal cumpre um papel
transitório, pois o sinal de que a
humanidade tem um novo líder é o “menino deitado na manjedoura”. Os magos
reconhecem a realeza do Menino e lhe oferecem ouro; proclamam sua divindade,
oferecendo-lhe incenso; prenunciam sua morte oferecendo-lhe mirra.
Paulo nos
fala de um mistério até então desconhecido e finalmente a revelado: que todos
os povos e religiões participam da mesma herança do Reino de Deus e são membros
do corpo de Cristo em igual dignidade com os judeus. Com isso, questiona os
muros que hierarquizam e separam, e atrai a desconfiança de muitos
compatriotas. Em nome de Deus, Paulo nega toda espécie de superioridade
religiosa. Na raiz da nossa fé está também esta alegre descoberta da igualdade,
sem privilégios: igualdade entre homens e mulheres, cristãos e não-cristãos,
analfabetos e graduados, clero e leigos...
Itacir Brassiani msf
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