É mais
que tempo de perceber e de dizer com clareza e coragem que o modelo de vida promovido
pelo capitalismo ocidental fracassou, que o vinho acabou no meio da festa, que
as talhas de pedra estão frias, pesadas e vazias. Precisamos buscar novos
caminhos, inventar novas regras, sonhar novos mundos. É necessário também
superar a tentação de buscar a saída para trás, de ressuscitar tradicionalismos
e autoritarismos mortos e embalsamados. É tempo de abrir os ouvidos às vozes
profeticamente femininas que há tempo vêm denunciando: ‘Eles não têm mais
vinho...’
A saída
não é fazer aquilo que o mercado está ditando ou aquilo que a cultura ocidental
ensina há séculos. Não basta obedecer às vozes que mandam ‘faça alguma coisa!’
Não basta manter a receita que produziu a tragédia. Por mais atraentes que
sejam, as receitas que pedem austeridade não trazem a marca do Reino!... É
preciso descobrir a orientação correta e fazer a coisa certa. E aqui entra de
novo aquela lucidez que só o feminino resistente e ousado consegue preservar:
‘Façam o que ele mandar!’ Eis a indicação: acolher a Palavra e seguir o caminho
aberto pelo jovem de Nazaré.
E Jesus
começa pedindo para que mudemos o rumo e o conteúdo da nossa vida. As talhas
velhas e pesadas não têm mais o que fazer com a purificação, até porque Deus
não está interessado nestes ritos. Entre Deus e seus filhos e filhas não existe
um muro alto e sólido, construído com blocos de leis e prescrições. Deus ama, é
essencialmente amor e misericórdia, e nada pode aproximar-nos dele a não ser a
prática do amor e da misericórdia recíproca. E para evitar sobrecargas inúteis,
ele mesmo toma a iniciativa e nos assume como parceiros numa aliança indestrutível.
Mas o que ele nos pede pra fazer?
Aderir a
Jesus Cristo é entrar num caminho de permanente transformação. É verdade que
existem pessoas – e até líderes religiosos – que, mesmo tendo provado a
qualidade do vinho novo, não se dão conta da sua origem, e simplesmente
continuam a festa de poucos. Não percebem que a lei divide e exclui, que a
aliança com os poderes é estéril e caduca, que a repetição de práticas de
piedade não é suficiente, que mudar o rótulo e embelezar o pacote não muda o
conteúdo da fé. Pobres mestres-sala, que estranham a transformação da água em
vinho e pensam que tudo deve continuar como antes...
Na Carta
aos Coríntios, Paulo nos convida a celebrar a novidade e a diversidade queridas
por Deus: diversidade de dons e serviços, de pessoas e funções, de Igrejas e
culturas... Essa diversidade faz parte dos tempos de abundância, inaugurados
por Jesus Cristo nas bodas de Caná e expandidos pelo Espírito Santo. As
capacidades são diferentes, mas o Espírito é o mesmo. Os serviços são diversos,
mas o Senhor é o mesmo. As ações são múltiplas, mas o sujeito da atividade é
sempre o mesmo Deus. O que ninguém pode esquecer é que todos somos chamados trabalhar
para que a ninguém falte o vinho...
Jesus de Nazaré, conviva ativo na festa de Caná,
presença desejada em todas as festas da vida! Ajuda-nos a perceber a diferença
entre os caminhos e práticas de quem acredita em ti, escuta tua Palavra e segue
teus passos e a postura daqueles que continuam apostando nas leis e sistemas
que discriminam. Dá-nos também sabedoria e humildade para reconhecer os
diferentes dons e iniciativas que procedem do mesmo espírito. E ensina as
comunidades católicas a prestar a reverência que Maria realmente merece através
da prática do seu conselho de fazer tudo aquilo que Jesus nos pede. Assim seja!
Amém!
Itacir
Brassiani msf
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