A Paz se faz com memória, reconciliação e conversão
ecológica!
Celebramos o início de um novo ano ainda
iluminados pelo mistério do Natal. Nascido e acolhido também por nós e no meio
de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo abrindo caminhos de diálogo,
reconciliação e conversão, inclusive conversão ecológica, diz o Papa Francisco.
Deus cumpre suas promessas e realiza as esperanças humanas através de Maria e
de cada um de nós, dos homens e mulheres de boa vontade, dos líderes autênticos
fazem memória das violências e assumem práticas de diálogo, conversão e
reconciliação.
O autêntico espírito do Natal deve perdurar e
prosseguir na passagem do ano, em nós e em nossas comunidades. Por isso, a
liturgia continua nos convidando a penetrar mais profundamente o mistério da
encarnação. Hoje, no raiar do novo ano, contemplamos a chegada dos pastores à
gruta Belém, onde encontram Jesus no seio de uma família, ficam vivamente
impressionados com o que veem, e comparam tudo com aquilo que tinham ouvido.
Como pode uma criatura tão frágil ser portadora de Paz a todos os homens e
mulheres de boa vontade? Esta é a pergunta dos pastores, de Maria e de José, e
também a nossa!
Ao ser apresentado no templo e circuncidado,
Jesus recebe o nome proposto pelo Anjo a Maria na anunciação. Ele se chama
Jesus, ‘boa notícia da salvação’, pois Deus salva seu povo do pecado. De fato,
Jesus agirá libertando, perdoando, acolhendo. Nele, a humanidade se descobre
livre do débito que tinha consigo mesma por não conseguir realizar a utopia que
faz arder seu coração. Em Jesus, todos estamos livres do peso de termos ficado
aquém do alvo,ou errado o rumo(pois é isso que significa ‘pecado’). Deus não
espera que cheguemos heroicamente a ele: Ele mesmo vem decididamente ao nosso
encontro. Ele é nossa Paz!
Mas a Paz que Jesus nos assegura não está
unicamente no fim do caminho, na plena confraternização entre lobos e
cordeiros, serpentes e crianças. A Paz autêntica está no caminho, na caminhada,
nos caminhantes. Está nas pessoas inconformadas que ousam mudar, renovar,
começar de novo, cortar pela raiz as atitudes violentas, inclusive as que
falseiam a memória, e isso cada dia, e não apenas no início do ano. Está nos
homens e mulheres sábios, capazes de ver nas sementes as flores e os frutos que
virão depois, e de encarnar nas relações cotidianas os sonhos e utopias que,
literalmente, parecem não ter um lugar.
Para os cristãos, o fundamento da Paz é a
relação com Jesus Cristo. Nascido de mulher menosprezada e sob a violência
transformada em estrutura e lei, Jesus conduz todas as pessoas à liberdade,
começando pelas vítimas das diversas formas de violência. Ele confirma que Deus
reconhece todos como filhos e filhas, e nos convida a superar as relações
viciadas pelo medo, pela escravidão e pela violência. Todos estão em Paz com
Deus, e podem proclamar “meu Papai querido!”
E, na medida em que somos filhos e filhas, somos também herdeiros do
Reino de Deus, da “shalom” que possibilita o convívio sadio, que tem a justiça
como base.
No ano que passou, os que governam o Brasil e
os que os apoiam quiseram nos convencer de que o pobre é pobre porque não sabe
poupar; que “o meio ambiente é um entrave para os negócios; que os garimpeiros
e madeireiros devem ser defendidos dos fiscais do meio ambiente; que o professor
é inimigo e o miliciano é amigo; que a escravidão foi benéfica para os descendentes
de africanos; que não existe racismo no Brasil; que a mulher deve ser submissa
ao homem; que os ditadores e os torturadores devem ser exaltados... Para eles,
assimilar estas lições significaria colocar Deus acima de tudo e pacificar o
país...
Mas o Papa Francisco, na sua mensagem para o
Ano Novo, ensina lições muito diferentes!Ele diz que a Paz “é um trabalho
paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e
abre para uma esperança mais forte que a vingança”. E buscar a Pazsupõe “abandonar
o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente como pessoas,
como filhos de Deus”. Mas “nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes
de construir um sistema econômico mais justo.” E nos chama a uma “relação
pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as
experiências e as esperanças”.
Deus querido, Pai e Mãe! Iniciando um novo
ano, te pedimos: ensina-nos a compreender o anseio de Paz e de comunhão que
pulsa no coração do mundo. Ajuda-nos a destruir pela raiz toda atitude violenta
e desmascarar e erradicar as mentiras que nos impingem como sabedoria. Suscita
em nós o canto que brota da dignidade indestrutível de filhos e filhas, e dá-nos
a graça de experimentar, com Maria, José e os pastores, a alegria de reconhecer
a grandeza de Deus na fragilidade humana. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani
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