Mas o que transforma a trajetória de Jesus não são as
palavras que escuta dos lábios do Baptista, nem o rito purificador do batismo.
Jesus vive algo mais profundo. Sente-se inundado pelo Espírito do Pai.
Reconhece-se a Si mesmo, como Filho de Deus. Doravante, Sua vida consistirá em
irradiar e contagiar o amor insondável de um Deus Pai.
Esta experiência de Jesus tem um significado também para
nós. A fé é um itinerário pessoal que cada um de nós deve percorrer. É muito
importante, sem dúvida, o que ouvimos desde crianças aos nossos pais e
educadores. É importante o que ouvimos de padres e pregadores. Mas, no final,
devemos sempre fazer uma pergunta: Em quem acredito eu? Acredito em Deus ou acredito
naqueles que me falam sobre ele?
Não podemos esquecer que a fé é sempre uma experiência
pessoal que não pode ser substituída pela obediência cega ao que os outros nos
dizem. Do lado de fora, podem orientar-nos para a fé, mas somos nós mesmos que
devemos abrir-nos a Deus com confiança.
Por isso, a fé não consiste também em aceitar, sem mais, um
determinado conjunto de fórmulas. Ser crente não depende primariamente do
conteúdo doutrinário que se recolhe num catecismo. Tudo isso é muito
importante, sem dúvida, para configurar a nossa visão cristã da existência. Mas
antes disso e dando sentido a tudo isso, está esse dinamismo interior que, a
partir de dentro, nos leva a amar, confiar e esperar sempre no Deus revelado em
Jesus Cristo.
Esta fé não está feita apenas de certezas. Ao longo da vida,
o crente vive muitas vezes na escuridão. Como o grande teólogo Romano Guardini:
“A fé consiste em ter luz suficiente para suportar as trevas”. A fé é feita,
acima de tudo, de fidelidade. O verdadeiro crente sabe como acreditar durante
as trevas, no que viu nos momentos de luz. Sempre continua a procurar esse Deus
que está além de todas as nossas fórmulas claras ou escuras. Para Henri deLubac,
«as ideias que fazemos de Deus são como as ondas do mar, sobre as quais o
nadador se apoia para as superar». O decisivo é a fidelidade a Deus que se
manifesta a nós no Seu Filho Jesus Cristo.
José Antonio Pagola.
Tradução de Antonio Manuel
Álvarez Perez
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