A Palavra de Deus nos ajuda a viver com mais
liberdade e lucidez!
Nosso momento cultural não valoriza a
prudência e o planejamento. A caderneta de poupança, com seu apelo a economizar,
é coisa do passado. Hoje, reina absoluto o cartão de crédito, com seu
permanente e sedutor convite a gastar sem planejamento, a seguir apenas os
insaciáveis desejos de consumo. O que predomina e se impõe como regra é curtir
e saborear a fundo o momento presente, sem preocupação com princípios e hábitos
formulados por outros no passado, nem com aquilo que acontecerá no futuro.
Nesse ambiente, o seguimento responsável e maduro
de Jesus Cristo sofre ameaças. Precisamos nos perguntar se nossa decisão de
seguir Jesus Cristo tem fundamento. É claro que, para a maioria dos fiéis, o
início da caminhada na fé cristã não está ligada a uma decisão pessoal,
consciente e madura. Recebemos a fé cristã e católica misturada ao leite da
mãe, ligada aos hábitos da nossa vizinhança, conjugada com a cultura
transmitida pela escola. Seguimos esta estrada porque nos parecia a única, e o
fizemos como ovelhas indiferenciadas de um rebanho. Era difícil e custoso
trilhar outras sendas.
Mas, graças a Deus, nós crescemos, e os tempos
mudaram. O pluralismo das opções que batem à nossa porta ou se oferecem aos
nossos olhos todos os dias nos interpelam à aventura noutras estradas, ou a dar
razões para permanecer naquela que sempre trilhamos. E hoje sabemos que o
Evangelho nos pede prudência e avaliação crítica diante de atitudes e projetos
que se travestem de sabedoria e se apresentam falsamente como religiosos e
promotores de libertação. Jesus Cristo, com seu projeto de vida para todos,
pede uma ruptura radical com a busca de vantagens individuais ou restritas a
pequenos grupos.
Estar com Jesus e seguir seus passos supõe a
decisão por uma específica escala de valores: a honra pessoal, a aceitação
pública, a segurança dos bens e os próprios vínculos familiares são secundários
em relação à prioridade absoluta da solidariedade com as vítimas, da abertura
ao outro. A Palavra viva de Deus, feita carne em Jesus, nos mostra por onde
andar. Tomar a cruz e caminhar com Jesus significa estar disposto a enfrentar a
rejeição dos grandes e poderosos, libertar-se da busca infantil de cargos e
honras e contar com a possibilidade do fracasso dos empreendimentos pessoais e
institucionais.
Preferir Jesus Cristo ao pai, à mãe, à mulher
ou marido e aos filhos e filhas significa viver as relações familiares fora dos
moldes patriarcais, no horizonte da geração de um mundo de irmãos (como
testemunha Paulo em relação a Onésimo e Filemon). É o próprio Jesus quem
adverte: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo
o que tem, não pode ser meu discípulo.” Está claro que o problema não é possuir
alguns bens, cultivar vínculos de amizade ou consumir de modo maduro e
consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo consumo, como se
o sentido da nossa vida dependesse disso.
O seguimento de Jesus comporta renúncias e
rupturas. A renúncia aos bens limitados ou aparentes é um meio para percorrer
com mais autenticidade um caminho que conduz à vida abundante, tanto para si
mesmo como para os outros. Renunciar a tudo significa limpar a casa, abrir
espaço, ordenar as prioridades e orientar-se pela compaixão misericordiosa
proposta de Jesus, colocar Deus e o Outro acima de tudo. Jesus é a Palavra de
Deus que nos desinstala e chama à conversão. Sua proposta está longe de ser um
anestésico barato. O caminho para a humanidade nova tem seus custos, e nós
precisamos avalia-los e contabiliza-los!
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