A violência e o medo não são exclusividade de
Herodes!
Paulo nos fala de um mistério até então
desconhecido e finalmente a ele revelado: que todos os povos e religiões participam
da mesma herança do Reino de Deus e são membros do corpo de Cristo em igual
dignidade com os judeus. Com isso, Paulo derruba todos os muros que
hierarquizam e separam, mas também atrai a desconfiança e a ira de muitos
compatriotas. Em nome de Deus, o apóstolo das nações nega toda espécie de privilégio
ou superioridade baseada em princípios religiosos. Na raiz da nossa fé está
esta alegre descoberta da igualdade, sem privilégios. Mas como é difícil
assimilar este aspecto da nossa fé!
O evangelho deste domingo nos apresenta homens de
outros pagos e diferentes crenças, que chegam a Jerusalém vindos do oriente,
guiados por uma estrela. Eles batem às portas dos chefes políticos e dos
líderes religiosos, comodamente instalados na capital, pedindo ajuda para
decifrar os sinais e descobrir o caminho. Os escribas mostram que sabem, mas
são incapazes de se mover. Herodes parece desejar saber das coisas, mas é
assaltado pelo medo de perder o poder. Os magos aprendem e ensinam que Aquele
que merece honra e reverência não costuma instalar-se nos palácios e templos,
nem morar e demorar nas capitais...
Herodes aconselha aqueles peregrinos vindos do
oriente a irem a Belém em busca de informações, mas eles caminham levando
presentes, e não cadernos de anotações... A estrela-sinal cumpre seu papel
transitório, mas, para esses buscadores de Deus, o sinal de que a humanidade
tem um novo líder é o “menino deitado na manjedoura”. Os magos reconhecem a
realeza de Jesus Menino e lhe oferecem ouro. Proclamam sua divindade oferecendo-lhe
incenso. Prenunciam já sua humana morte oferecendo-lhe mirra. Mas eles não voltam
pelo mesmo caminho, e o mesmo fato que faz a alegria deles provoca o medo de
Herodes...
Como é que certos setores do cristianismo, que
multiplicam glórias e louvores públicos ao nome de Jesus, incriminam, ainda com
mais força e publicidade, quem não comunga da sua estreita ideologia, quem não
compartilha seus mesquinhos interesses e quem não professa sua surrada
cartilha? Que misteriosa e tenebrosa cegueira tomou conta deles e os faz
desejar a morte dos inimigos e perseguir índios, negros, migrantes e pobres?
Que tipo de tolice tomou conta da mente e da fé dessa gente e a tornou incapaz
de admitir a mentira dos mitos que engolem como a mais pura e íntegra verdade?
Observando a espécie de operação de guerra que
se montou na capital federal para o início do mandato do presidente eleito,
interrogo-me preocupado: será que o medo que tirava o sono de Herodes deixou
Jerusalém, atravessou os mares e se instalou em Brasília? Será que o espírito
assombrado e tenebroso do coronel Ustra, invocado e admirado pelo hoje
presidente, está tomando o lugar da estrela de Belém e trazendo medo aos
amantes da tortura? Outros são os caminhos da paz, outra é a segurança que o
povo brasileiro necessita: respeito aos direitos e à dignidade,
conquistados com lutas de anos e com sangue!
Itacir
Brassiani msf
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