Jesus espera de nós mais que práticas piedosas
e respeito às leis!
É mais que tempo de perceber e de dizer com
clareza e coragem que o modelo de vida propagandeado pelo capitalismo ocidental
fracassou, que o vinho acabou no meio da festa, que as talhas de pedra estão
frias, pesadas e vazias. Precisamos buscar novos caminhos, inventar novas
regras, sonhar novos mundos. É necessário também superar a tentação de buscar a
saída para trás, de ressuscitar tradicionalismos e autoritarismos mortos e embalsamados.
Até o novo governo do Brasil parece definhar enquanto debuta. É tempo de abrir
os ouvidos às vozes que há tempo vêm denunciando: ‘Eles não têm mais vinho...’
A saída não é fazer aquilo que o mercado está
ditando ou aquilo que a cultura ocidental ensina há séculos. Não basta obedecer
às vozes que mandam ‘faça alguma coisa!’ ou anunciam genericamente mudar “tudo
isso daí”. Não basta manter a receita que produziu a tragédia. Por mais atraentes
que sejam, as propostas que pedem armas e austeridade não trazem a marca do
Reino! É preciso descobrir a orientação correta e fazer a coisa certa. E aqui
entra de novo aquela lucidez que só o feminino resistente e ousado consegue
preservar: ‘Façam o que Ele mandar!’ Eis a indicação: acolher a Palavra e
seguir o caminho aberto por Jesus.
E Ele começa pedindo que mudemos o rumo e o
conteúdo da nossa vida. As talhas velhas e pesadas não têm mais o que fazer com
a purificação, até porque Deus não está interessado nestes ritos. Entre Deus e
seus filhos e filhas não existe um muro alto e sólido, construído com blocos de
leis e prescrições, ou com aço, como quer o ‘imperador do norte’. Deus ama, é
essencialmente misericórdia, e nada pode aproximar-nos dele a não ser a prática
do amor e da misericórdia. E para evitar sobrecargas inúteis, ele mesmo toma a
iniciativa e nos assume como parceiros numa aliança indestrutível. E pede que
façamos algo.
Como a Nicodemos, Jesus nos diz que precisamos
nascer de novo, e isso supõe desaprender. Como à mulher samaritana, ele nos
pede adoração em espírito e verdade, e isso significa derrubar os muros que
separam povos e religiões. Como ao jovem André, ele pede que partilhemos os
pães e peixes, para que as multidões tenham o alimento que necessitam e a
dignidade inviolável. Aos canonistas e legalistas ele pede que acolham os
pecadores e só atirem pedras quando e se eles mesmos não tiverem pecado. A
todos ele ordena: ‘Amem-se uns aos outros como eu amei vocês.’ Nisso não há
sequer sombra de meritocracia ou de “legítima defesa”.
Na Carta aos Coríntios, Paulo nos convida a
celebrar a novidade e a diversidade desde sempre desejadas por Deus:
diversidade de dons e serviços, de pessoas e funções, de Igrejas e culturas...
Essa diversidade faz parte dos tempos da abundância, inaugurados por Jesus
Cristo no casamento de Caná e expandidos pelo Espírito Santo. As capacidades
são diferentes, mas o Espírito é o mesmo. Os serviços são diversos, mas o
Senhor é o mesmo. As ações são múltiplas, mas o sujeito da atividade é sempre o
mesmo Deus. O que ninguém pode esquecer é que todos somos chamados trabalhar
para que a ninguém falte o vinho...
Jesus de Nazaré, conviva atento na festa de
Caná, presença desejada em todas as festas da vida! Ajuda-nos a perceber a
diferença entre as práticas de quem escuta tua Palavra e segue teus passos e a
postura daqueles que continuam apostando nas leis e sistemas que discriminam.
Dá-nos sabedoria para reconhecer os diferentes dons e iniciativas que procedem
do mesmo espírito. E ajuda nossas comunidades a aprenderem de Maria a fazer
tudo aquilo que Jesus pede, e não apenas o que as agrada ou convém. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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