Viver a alegria do Evangelho na conversão das
nossas relações.
Somos parte de uma comunidade de pessoas que
preparam fervorosas a celebração do nascimento de Jesus e esperam ansiosas a
manifestação do Reino de Deus, que desejam provar as alegrias de crescer em
humanidade, ou alcançar a salvação, e celebrá-la com júbilo inocente e intenso.
O profeta Sofonias vem em nossa ajuda, pedindo-nos que cantemos de alegria, que
nos alegremos e exultemos de todo o coração, que não tenhamos medo nem caiamos
no desânimo... E nos assegura que Deus já está ou continua no meio de nós, que também
ele, movido unicamente pelo amor e porque nos quer bem, exultará de alegria por
nós.
Mas essa exultante e jubilosa alegria tem sua
razão de ser naquilo que Deus faz por nós, em nós e através de nós. O que nos
motiva é a experiência de sermos amados e capacitados para contribuir de modo
efetivo com a libertação que está em curso na história, vontade e obra
incansável de Deus. “Alegrai-vos sempre no Senhor! Alegrai-vos! Que a vossa
bondade seja conhecida por todos! O Senhor está próximo”, insiste o apóstolo
Paulo. Somos convocados a alegrar-nos em Deus e a perceber que Deus se alegra
conosco! Também Isaías nos convida a publicar em toda a terra as maravilhas que
Deus está fazendo, e a exultar com isso.
Mas temos que nos perguntar se esta
insistência na alegria e no júbilo não é exagerada, e se não é insuficiente como
preparação para o Natal. De fato, a situação e as coisas ruins – que não faltam
em nosso país neste momento e se prevê que serão mais abundantes e letais no
futuro – só começam a mudar realmente quando as pessoas singulares começam a se
confrontar com a própria verdade e com o Evangelho e, dispostas a transformar
suas relações, perguntam: o que posso e devo fazer? Essa é a pergunta que o
testemunho de João Batista suscitou no seu povo e que a vida de Jesus deve
suscitar em nós.
Às pessoas e grupos que gozam de certa
comodidade, que não sente falta do básico em termos de comida, vestuário e
habitação, João pede que não pensem apenas no próprio bem-estar e que se
engajem na correção das desigualdades sociais. Aos cobradores de impostos, que
extorquem, com o amparo da lei, o povo cansado e abatido, pede que não abusem
dos pobres e não enriqueçam às custas deles. Aos soldados, que usam de
violência para proteger os poderosos e oprimir os dominados, pede que não
acusem ou condenem ninguém recorrendo à mentira, nem usem de sua autoridade
para roubar os indefesos.
Como os cobradores de impostos, os soldados e
o povo em geral, também nós precisamos nos confrontar: e eu, o que devo fazer
para viver bem o Natal e acolher o Evangelho do Reino? A resposta não pode ser
um sentimento difuso ou um pensamento abstrato. Não valem também constatações
cínicas e ofensivas do tipo “como é difícil ser patrão no Brasil”, ou “os
pobres não precisam de ajuda, mas de oportunidade”. Nada muda se não
conseguirmos olhar para além dos interesses de classe ou do mito da meritocracia.
Nosso critério de vida não são as leis do mercado ou a falsa piedade, mas a
prática e o Evangelho de Jesus!
Deus pai e mãe, fonte de alegria e movente de
toda mudança, vem em nosso auxílio para que saibamos descobrir alegremente o
que devemos fazer para preparar os caminhos do Senhor, combater o mal que fere
teus filhos e construir o teu Reino. Não permitas que caiamos na tentação de
resumir tudo na montagem de presépios, na distribuição de presentes, na
promoção de ceias faustosas ou nos difusos e fugazes sentimentos religiosos. Possamos
todos aprender as lições de Maria e de José, que começaram aprofundando os
próprios vínculos, abrindo espaços para os outros e inventando novos caminhos. Assim
seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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