Os caminhos do Senhor são igualdade e
fraternidade!
Chamando-nos à conversão, Jesus não pede uma
vida austera e sem alegria, muito ao contrário. A mudança no modo de pensar, de
sentir e de agir são indispensáveis para que se nos abram as portas da
verdadeira alegria, para a participação plena no pensamento, no projeto e na
ação libertadora de Jesus Cristo. Não é possível ver os sinais do reinado de
Deus e alegrar-se com ele sem uma mudança radical nos interesses, olhares e
projetos que costumam seduzir e consumir os “homens de bem”. Sem uma conversão radical
é impossível avaliar com sabedoria os bens passageiros e colocar nossa esperança
nos bens duradouros.
Por isso, o Deus de Israel e Pai de Jesus se
compraz em abaixar os “altos montes e as colinas eternas”, em soterrar os vales
e aplainar a terra, para que seus amados vivam e caminhem com segurança, guiados
por sua mão e protegidos pela sombra de arvores odoríferas. É obvio que o
profeta não fala em terraplanagem! Ele afirma, como o faz também o profeta
Isaías, retomado pelo evangelista, que a vontade de Deus é a igualdade de todos
os seres humanos. Tibério, Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás
simbolizam os que fazem de tudo para permanecer no alto das colinas e torcer os
caminhos dos pobres.
Infelizmente, não estamos livres – nem como
indivíduos e nem como Igreja – da tentação de bajular os poderosos, fechando os
olhos ao mal que fazem ou prometem fazer aos pobres e marginalizados, aos
preferidos de Deus. A acolhida e o apoio – ingênuo ou interesseiro? – que
vários setores religiosos emprestam ao grupo que dirigirá a nação brasileira
nos próximos anos esquece que os “grandes” citados por Lucas no evangelho de
hoje passaram à história como exemplares de pessoas que oprimiram e feriram os
amados de Deus, enquanto que João Batista, Jesus e uma multidão de mártires
brilham como sinais de humanidade.
Não fechemos nossos olhos e nossos ouvidos à
voz do profeta que grita no deserto. Abramos nossos ouvidos e nossos olhos à
voz de Jesus de Nazaré e seu Evangelho de solidariedade e igualdade. O caminho
que nos leva ao encontro com Deus e à plena realização da humanidade à qual
somos chamados é a igualdade e a fraternidade. A oração e a liturgia estão a
serviço disso! Sem compromisso com a causa de Jesus, a oração pode ser fuga, e
a piedade pode decair em alienação. Mais do que nunca, Evangelho e defesa dos
direitos de todos os humanos vão de mãos dadas, práxis da justiça e festa
litúrgica caminham abraçadas.
Deus pai e mãe, envia-nos teu Espírito, a fim
de ressoe em nosso coração tua voz majestosa e emancipadora. Que o amor que
derramaste nos nossos corações a partir da Manjedoura e da Cruz do teu amado
filho cresça sempre mais em perspicácia e delicadeza. Que sejamos renomeados
como “paz da justiça” e nossa piedade brilhe pela lucidez. Ajuda-nos a acolher
com boa disposição o caminho da fraternidade e da igualdade que os profetas
Baruc e João Batista, como também o apóstolo Paulo, nos propõem como preparação
ao Natal e como expressão de uma vida evangélica pura e justa, sem
ambiguidades. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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