Acreditamos que um outro mundo é possível e
necessário?
A primeira palavra que sai da boca de Jesus, o
anúncio que resume sua pessoa e sua missão é: “O tempo se cumpriu: o Reino de
Deus está próximo!” Ao lançar mão dessas palavras, Jesus sabe da força que tem
no imaginário do seu povo. Com o conceito “Reino de Deus”, os profetas
anunciavam o início de um novo céu e uma nova terra, o começo de uma nova
sociedade, na qual idosos e crianças, trabalhadores do campo e da cidade,
teriam lugar e seriam tratados como gente (cf. Is 65,17-25; Zc 8,1-23). O Reino
de Deus era uma louca esperança que os profetas se encarregavam de manter viva.
Nos tempos de êxito ou de fracasso político-institucional
de Israel essa esperança quase desaparece, sufocada pela ânsia de poder ou
desmentida pela dura realidade. Mas sua semente promissora é teimosa e sempre
cuidadosamente guardada e cultivada pelos pobres de Deus e seus aliados, por
aqueles que esperam o ‘Dia do Senhor’. Na boca de Jesus, porém, este anúncio do
Reino de Deus tem duas novidades: ele desloca o tempo do futuro para o presente
e estabelece cada pessoa humana como seu protagonista. Para ele, o tempo de
espera terminou, e o Reino está próximo, batendo à porta, é iminente.
O pré-requisito do chamado é a conversão, a
ruptura com a mentalidade segundo a qual o mundo não tem jeito, a opressão
sempre existiu e sempre existirá, a fé não tem nada a ver com a política, e
assim por diante... Para acreditar que um outro mundo é possível, é necessário mudar
os esquemas mentais, converter-se. Acolher o Reino de Deus e entrar na sua
lógica é uma decisão que exige rupturas, e a primeira é com a segurança
econômica. Por mais humilde e suspeito que fosse, o ofício de pescador oferecia
uma certa segurança econômica, e os discípulos tiveram que começar rompendo com
isso...
Aceitar o convite e seguir Jesus é uma decisão
tão inteligente quanto exigente. Inteligente, porque supõe discernimento sobre
o caminho da realização pessoal e da libertação social. Exigente, porque
implica em deixar o cômodo mundo privado e seus interesses estreitos e
arriscar-se no tenso e disputado espaço público, tomando partido em favor dos
pobres e, quando necessário, contra os poderosos e seus aliados. É isso que
significa originalmente a surpreendente expressão “pescadores de homens”. Na
linguagem profética, a pesca é o julgamento de Deus! (cf. Jr 16,16-18; Ez
29,1-16; Am 4,1-3)
Itacir Brassiani msf
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