Pode-se arriscar o desenvolvimento deste tema em uma Regra
que foi escrita por um homem, a homens, aprovada por homens, vivida por muito
tempo apenas por homens?
Sim! Por que no coração da Regra esconde-se uma mulher:
Maria. Sim; esconde-se, por que a Regra nem sequer cita seu nome.
É preciso propor aquilo que já está tão evidente, encarnado
transformado em vida? Não! Os carmelitas
haviam escolhido Maria como Padroeira e lhe dedicaram uma igreja ao seu nome e
que definirá sua identidade no povo de Deus: “Irmãos da Bem-Aventurada Virgem
Maria do Monte Carmelo”. Portanto, a Regra do Carmo é Regra de uma Ordem
Mariana.
A saudação de Alberto não nos remete à Anunciação do Anjo a
Maria? “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” (Lc 1,28), “O
Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua
sombra!” (Lc 1,35).
A saudação de Alberto tem traços muitos ternos e humanos: “queridos
filhos (...) saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo”. Nela pode-se sentir
viva e palpitante a presença de uma mulher: Maria. Aquela que reunira os
discípulos de Jesus a espera do Espírito Santo (cf. At 1,12-14), é a mesma que
reúne os carmelitas para “viver em obséquio de Jesus Cristo”.
Existem razões históricas, com certeza inconscientes que não
deixaram a Regra falar sobre a Grande Mulher Maria. Mas, por outro lado, a
Regra, embora escrita por um homem, está escrita de uma forma tão carinhosa e
humana, que atrás de suas palavras podemos ver, ouvir e sentir a voz de Maria
falando ao nosso coração. Por isso, tudo o que a Regra fala, remete-nos a vida
de Maria. Não é ela a primeira discípula que viveu “em obséquio de Jesus
Cristo?” Quem o serviu mais fielmente do que ela, com um coração puro e reta
consciência? Não foi Maria que iniciou na História um caminho novo para Deus,
assim como os carmelitas queriam uma nova forma de vida na Igreja?
Maria é a Priora que a nós todas preside, mas é também a discípula
fiel e obediente à Palavra: “Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38).
Deparando o olhar sobre o “meditar dia e noite na lei do
Senhor”, podemos ver Maria que aprende com seu filho Jesus, meditando e
guardando tudo em seu coração (cf. Lc 2,51). Assim Maria velava dia e noite em
oração para internalizar e viver o Projeto de Deus.
Desta maneira podemos percorrer paulatinamente toda Regra e
nela vamos encontrar a vida de Maria. Deparemo-nos brevemente sobre o silêncio.
Maria habitava no silêncio. Nele permanecia. Silêncio que é Deus e que dá
sentido a tudo em nossa vida. Com toda certeza podemos continuar dizendo
jubilosamente que “o Carmelo é todo de Maria!”.
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