A Trindade Santa é mistério de comunhão, amor
e compaixão!
Quando intuiu este mistério inominável e
inapreensível, Moisés “curvou-se até o chão”, prostrado pelo espanto de um amor
tão imerecido quanto desproporcional: descobriu que Aquele que dá sentido e
substância ao nosso ser é “misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade
e fiel”, lento e vazio de cólera e punição. Moisés imaginava encontrar Deus
subindo a montanha e conservá-lo na lei escrita na pedra fria, mas eis que Ele
se manifesta descendo e caminhando no meio do povo...
É insuficiente e falsa a imagem de um Deus
pronto a punir o menor dos desvios de criaturas que ele mesmo chamou à vida. É
uma parcialidade mal-intencionada ensinar que Deus “não deixa nada impune,
castigando a culpa dos pais nos filhos e netos, até a terceira e quarta
geração” e, ao mesmo tempo, omitir que “ele conserva a misericórdia por mil
gerações, e perdoa as culpas, rebeldias e pecados”. O próprio e original na
revelação cristã é o perdão e a compaixão, e não a punição.
Deus é Pai e Mãe, ou Vida e Amor que nos
antecede, Deus antes de nós. Deus é Filho, ou vida e amor compartilhados, Deus
conosco. Deus é Espírito, ou vida e amor em nós, ou Deus em nós e em todas as
criaturas, ao ritmo da história. O amor se caracteriza por chamar à vida e dar
proteção, e nunca por limitar ou diminuir a vida. “Pois Deus amou de tal forma
o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo aquele que nele acredita
não morra, mas tenha a vida eterna...”
É verdade que simplesmente dizer que Deus é
Amor não resolve tudo. Esta palavra anda tão inflacionada quanto desgastada. Em
nome do amor se cometem loucuras e são feitas promessas que não duram mais que
uma curta noite de verão. Porém, amor é mais um verbo que um substantivo, e
para falar responsavelmente dele devemos ter diante dos olhos o percurso
histórico de Jesus de Nazaré: “sabemos o que é o amor, porque Jesus deu a sua
vida por nós” (1Jo 3,16).
No coração da melhor teologia desenvolvida
pelo cristianismo está a convicção de que Deus não é um conceito que precisamos
compreender mais ou menos exaustivamente, nem uma doutrina que precisamos
aceitas mais ou menos resignadamente, mas um mistério que
merece nossa adoração. A teologia, pelo menos a boa teologia, está sempre a
serviço da evangelização, ou seja: a questão substancial não é compreender uma
teoria mas salvar ou transformar as pessoas e o mundo.
Em Jesus Cristo, Deus se revela não apenas
dizendo e ensinando algo sobre si mesmo, mas principalmente agindo, salvando:
acolhendo pecadores, alimentando famintos, curando doentes, resgatando a cidadania
dos excluídos. Assim, Jesus Cristo revela um Deus que não é prisioneiro dos
códigos de pedra ou de papel, que não assume a postura de um juiz distante e
imparcial, mas um Deus que ama, que afirma o direito dos sem-direito, que age e
julga em favor dos oprimidos.
Eis o caminho da Igreja, nascida para
prosseguir a ação de Jesus Cristo: ser mais pastora que cuida da vida das
ovelhas mais frágeis e menos professora que ensina leis e doutrinas; sair do
limbo dos princípios gerais e vazios e comprometer sua honra influência na
defesa de quem é ameaçado e explorado; engajar-se na urgente missão de salvar o
mundo com a força do Evangelho e com os recursos do próprio mundo, evitando uma
postura autossuficiente de julgamento e condenação. É preferível uma Igreja
suja pela inserção no mundo que uma Igreja doente por causa do comodismo, diz o
Papa.
Itacir Brassiani msf
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