É isso que escutamos no testemunho
entusiasmado e corajoso de Pedro. Ele recorda que Jesus andou por toda parte
fazendo o bem e agindo sem medo, apesar da violência que havia levado João
Batista à morte. E sublinha que Deus estava com Jesus, inclusive no vazio e no escuro
da cruz, quando parecia havê-lo abandonado. Foi o próprio Deus que o
ressuscitou dos mortos e transformou em juiz aquele que fora réu de morte. E os
discípulos da primeira hora, apesar da dificuldade de acreditar nele e de tê-lo
abandonado, são constituídos testemunhas e pregadores desta Boa Notícia.
A Páscoa de Jesus de Nazaré e dos cristãos
celebra as infinitas possibilidades escondidas na vida de cada pessoa, na
história da humanidade e no mistério de todas as criaturas. Afirma que a última
palavra não será do discurso frio daqueles que impõem sua injusta ordem e
mandam calar os profetas. Proclama que a ação realmente eficaz e grávida de
futuro é aquela que estabelece a absoluta superioridade do outro, da vítima, do
pequeno. Evidencia que a direção certa e o sentido da vida estão no
esquecimento de si, no fazer-se semente de uma outra vida, no viver uma
liberdade que se faz solidariedade.
Mas a ressurreição de Jesus não é algo que se
impõe com força de evidência, que vem acompanhado de manifestações potentes. É
fé e crença que começa com uma sepultura vazia, diante da qual Maria Madalena
foge alarmada para avisar Pedro e João. Estes correm e, chegando, entram na
sepultura vazia e vêem os panos e o sudário. Somente mais tarde Madalena abrirá
os olhos, quando será chamada pelo nome. E os discípulos desanimados
encontrarão Jesus com fisionomia de peregrino no caminho de Emaús. E os outros
apóstolos o reconhecerão numa manhã cinzenta, depois de uma pesca frustrada.
A Páscoa de Jesus de Nazaré inaugura a nova
criação. Não se trata de uma simples correção do passado, de perdão dos
pecados, de vitória sobre a morte física e individual. Jesus de Nazaré, o
ressuscitado que traz no corpo as marcas dos pregos e da lança, que passou
fazendo o bem, é o Homem Novo, o Primogênito de todas as criaturas e o Irmão de
todos os homens e mulheres. Em seu nome, os discípulos e discípulas se reúnem e
organizam comunidades que continuam sua pró-existência, engajados na defesa da
vida de todas as criaturas, desconhecendo todo e qualquer limite excludente.
Deus Pai e Mãe, útero sagrado no qual a Vida é
gerada e regenerada: obrigado pela luz e pela força da ressurreição de Jesus
Cristo que hoje estamos celebrando. Aqui renovamos a convicção de que o Filho
do Homem e Irmão dos Pequenos se tornou juiz dos vivos e dos mortos, dos que escravizam
e dos que são escravizados, dos que morrem e dos mandam matar. Hoje redescobrimos
nossa vocação de ser semente que morre para ser fecunda, e voltaremos às nossas
casas caminhando e cantando, para demonstrar nossa alegria e para espantar o
medo. Que a vida seja sempre mais forte que a morte! Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário