O pão da vida, a comunhão, nos une a cristo e
aos irmãos!
A ceia eucarística é a memória de Jesus e dos
discípulos e discípulas que, tendo atrás as inesquecíveis experiências das
refeições partilhadas com toda sorte de pecadores e à frente a ameaça dos
poderes que não toleram mudanças, compartilham suor e sangue, vinho e pão,
sonhos e esperanças. Celebramos esta ceia e aceitamos a aliança que Deus nos
oferece ainda ‘na terra do Egito’, num tempo em que nada temos a ‘temer’ senão
a fuga da luta. A eucaristia é alimento para quem está a caminho.
No centro desta Ceia não está um simples cordeiro,
mas um corpo feito inteiramente dom. No pão-corpo, Jesus Cristo oferece sua
vida e sua utopia feitos dom e partilha. É sua vida inteira – sonhos, ações,
corpo e sangue – que ele nos dá sem reservas e sem impor condições. E o faz
numa ceia ordinária, numa refeição marcada pelo afeto fraterno, num contexto de
ameaça de morte, pedindo insistentemente que façamos o mesmo que ele fez, para
manter viva sua memória. “Fazei isso em memória de mim!”
O corpo de Cristo não é apenas o pão: é a
comunidade viva dos fiéis, o povo de Deus que ultrapassa as fronteiras
eclesiásticas, o corpo dos pobres e marginalizados que padecem suas chagas
vivas. Mas, para além disso, é também o corpo-bioma, esse conjunto de formas de
vida mineral, vegetal, animal e humana que se nos oferecem em sua beleza e
diversidade harmônica e cooperativa. Por isso, participar da ceia de Jesus leva
ao compromisso de encarnar a atitude de amor, de cuidado e de acolhida de Jesus,
sem esquecer o protesto profético contra as injustiças e a postura firme de
defesa da biodiversidade.
Jesus simboliza a oferta sem reservas de si mesmo
no gesto de lavar os pés dos discípulos. Depois de repartir pão e vinho, deixa
a ‘presidência’ da mesa e assume o serviço que cabe às mulheres e crianças:
lava os pés dos que estão com ele à mesa. No seu gesto é o próprio Deus que se
inclina diante da humanidade e, de joelhos, lava nossos pés. E não o faz simplesmente
para demonstrar humildade, mas para contestar as hierarquias e afirmar a absoluta
igualdade de todos os filhos e filhas de Deus.
Pedro reage diante desta lição de Jesus. Não
lhe parece bem mudar as coisas de forma tão radical. Para ele, senhores e
superiores devem ser honrados, servos e inferiores devem ser desfrutados. Esta seria
a ordem e nada deveria ser mudado. Parece-lhe difícil aceitar que a Eucaristia exige
que façamo-nos memória viva de Jesus Servo. E isso custa também a cada de nós,
e muito. Mas Jesus não encena uma peça: ele é verdadeiramente Servo, e a missão
que compartilha conosco é o serviço aos irmãos!
A lição é difícil e nada óbvia. É por isso que,
depois de cear e de lavar os pés dos discípulos, Jesus nos interroga:
“Compreendeis o que acabo de fazer?” E ele mesmo explica: “Vós me chamais de
mestre e senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e
mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” Deus
coloca tudo nas mãos de Jesus, e este ‘tudo’ se mostra nas mãos que lavam os
pés, no serviço cordial e fraterno. Eis a lição eucarística do Mestre-Servo.
Deus Pai e Mãe: teu Filho nos ensinou que na
tua mesa há lugar para todos e não falta alimento, porque tudo é partilhado.
Muito obrigado porque hoje, mais uma vez, testemunhamos que isso é verdade. Mas
te agradecemos principalmente porque nesta mesa de irmãos e irmãs aprendemos
até onde teu amor quer nos levar. Bendito sejais eternamente pelo dom do teu
Filho na Palavra, no Pão e no Vinho e, principalmente, nas pessoas que
continuam sua missão de consolar e libertar. Ajuda-nos a fazer o que ele fez, a
amar como ele amou, a servir como ele serviu, a sermos Eucaristia. Assim seja!
Amém!
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