A compaixão é a liberdade que vence a
indiferença!
Com uma certa frequência, a humana experiência
de fracasso e de frustração se faz refrão acusatório contra Deus e contra o
destino, como na voz de Marta e de Maria. Elas têm a impressão de que Jesus
havia feito pouco caso quando lhe avisaram: “Aquele que amas está doente”.
Muitas vezes temos esta mesma sensação diante de doenças incuráveis, de
acidentes trágicos, de mortes estúpidas, de catástrofes naturais, de atentados
contra os direitos humanos e sociais. Na revolta gerada no ventre dor, chegamos
a acusar Deus, pois, nessas circunstancias, ele nos parece ausente,
desinteressado, cínico e sem coração.
Mas sabemos que “Jesus amava Marta, a irmã
dela e Lázaro”, assim como ama apaixonadamente cada um e cada uma de nós. Somos
sua família, seus irmãos e irmãs, seus amigos e amigas, ainda que ele não se
deixe prender aos nossos desejos e interesses nem se submeta às urgências do
nosso calendário. Jesus sempre chega, no tempo que lhe parece oportuno, para
nos ajudar a mudar as coisas, e isso supõe e, ao mesmo tempo, desperta a fé,
esta abertura radical para transcender o óbvio, o esperado, o devido.
Acreditar em Jesus Cristo não significa simplesmente
apostar no poder de Deus, mas confiar na força do seu amor. Da parte de Jesus,
o amor que se compadece; da nossa parte, a confiança que abre horizontes e
possibilidades. Da fé e da abertura ao amor compassivo e solidário brotam as novas
possibilidades de Vida e a força da ressurreição. “Se você acreditar, verá a
glória de Deus”. Marta e Maria provam a profunda e humana identificação de
Jesus com suas dores. Esta é a glória de Deus: seu amor pela humanidade. A glória
de Deus é o ser humano vivo, dizia Santo Irineu.
Nesta saída, como em toda travessia, nossos
passos serão sempre necessariamente inseguros. Pertencemos à história e temos
muitas amarras. Mas escutamos, de formas diversas, uma ordem: “Desamarrem e
deixem que ele ande...” A fé em Jesus Cristo não é doutrina que fecha, peso que
oprime, laço que amarra. Oxalá todas as Igrejas aprendam esta lição! Como diz
Paulo, crer significa deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus e superar a
busca compulsiva dos interesses egoístas.
Marta e Maria acreditaram e por isso viram a
glória de Deus, patente e potente na compaixão que resgata a vida. E muitos
judeus que “viram o que Jesus fez, acreditaram nele”. Mas o que é que eles
realmente viram? Contemplaram e testemunharam a profunda humanidade de Deus e
este incrível dinamismo que o aproxima das suas criaturas machucadas e
oprimidas, não se importando se cheiram mal. Viram isso na relação de Jesus com
Lázaro, com Maria e com Marta, e por isso acreditaram!
Itacir
Brassiani msf
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