A PALAVRA DE DEUS NOS MOSTRA O CAMINHO E PEDE CONVERSÃO!
Tanto no tempo do Jesus como hoje, há um abismo, real mas
ignorado e encoberto, que separa as pessoas que frequentam a mesma comunidade,
os cidadãos de um mesmo pais, os habitantes do único planeta. É isso que
aparece na parábola: há um rico que se veste elegantemente e dá esplêndidas
festas todos os dias; e há um pobre coberto de feridas, devorado pela fome,
rodeado de cães e sentado na calçada, em frente à porta da casa do rico e
absolutamente invisível a irrelevante para ele. Profetas como Amós já
levantavam sua voz e denunciavam o insulto dos banquetes dos ricos frente à
miséria dos pobres...
No centro da vida cristã está a compaixão pelos pobres, e
não a indiferença e a busca do próprio bem-estar individual a qualquer custo. O
caminho entre a porta e a mesa deve ser amplo e aberto! Jesus não aceita a
indiferença dos ricos frente aos sofrimentos dos pobres. Sua Palavra é clara e
contundente: “Ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc
6,24). Ele insiste que os pobres e os sofredores devem ocupar os primeiros
lugares na lista de convidados para as festas e celebrações (cf. Lc 14,13).
Mas, o Brasil naturaliza casas-grandes e senzalas e não permite que Lázaro vá
além da porta dos ricos...
Por isso, é estranho, para não dizer cínico, o grito do
rico, depois da morte, pedindo que Lazaro tenha compaixão dele. O rico sem nome
continua achando que os pobres devem estar a seu serviço: bem que eles poderiam
aliviar a sede ou avisar seus parentes e livrá-los a tempo dos males que os
esperam... Não pode não ser cinismo este apelo para que os pobres tenham
compaixão dos ricos que sempre se vestiram de indiferença e prepotência. O
caminho para o céu é nossa vida na terra, e a indiferença corta a comunicação,
destrói as pontes, cava abismos e fere de morte a solidariedade entre as
pessoas.
É lamentável que ainda hoje muitos pregadores apresentem
esta parábola simplesmente como uma espécie fotografia da inversão que a morte
provocaria na vida real. Jesus não está falando da felicidade que espera os
sofredores no paraíso futuro, ou do sofrimento destinado aos ricos depois da
morte! O que ele enfatiza é o caráter decisivo e irreversível das opções que
fazemos e das práticas que desenvolvemos no tempo presente! O caminho da vida
cristã é pavimentado pela escuta da Palavra de Deus e pela conversão. E ela não
há lugar para privilégios, nem para milagres fáceis e encomendados...
Na carta a Timóteo, Paulo pede: “Tu que és um homem de Deus,
foge das coisas perversas, procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a
constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna,
para a qual fostes chamado.” Ele nos pede para juntar a piedade à prática da
justiça, unir a solidariedade à fé, casar a mansidão com a perseverança no
seguimento de Jesus Cristo, único e soberano líder que pode nos guiar a um
mundo justo, fraterno e liberto. Como estamos longe dos sorrisos postiços e das
propostas vazias daqueles que querem nosso voto e nossa consciência...
Neste último domingo do mês que dedicamos à tua santa
Palavra, te pedimos: “Fala, Senhor! Fala da Vida! Só tu tens palavras eternas,
e nós queremos ouvir. São tantos os apelos que vêm dos oprimidos. Tu és quem
liberta, o Deus dos esquecidos.” Ajuda-nos a vencer a indiferença que cava
abismos entre pessoas que nasceram para ser irmãos e irmãs. Ensina-nos a
acolher, compreender e seguir aquilo que nos dizes através dos profetas e santos
de ontem e de hoje. Sustenta a coragem daqueles que denunciam golpes midiáticos
e sequestros de direitos. E que tua Palavra seja sempre a luz dos nossos
passos. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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