Pelo
contexto, podemos perceber que a oração de Jesus está claramente a serviço da
fidelidade à decisão de construir o Reino de Deus mediante o serviço profético
em favor dos últimos e do enfrentamento das forças que se lhe opõem.
Pelo que
deixam entender os evangelhos, nos momentos de oração Jesus vislumbra e
recoloca diante de si o horizonte maior do Reino de Deus, e, assim, confirma
seus passos nesta direção. Mas Jesus não parece preocupado em pedir que os
discípulos rezem: ele simplesmente se retira em oração para confirmar sua
identidade e renovar sua responsabilidade.
Observando
que Jesus reza, os discípulos pedem que ele lhes ensine a rezar. Eles conheciam
os ritos e fórmulas de oração ensinados por João Batista e por outros líderes
religiosos, e parece que desejam que Jesus lhes ensine ritos e práticas
definidas e rígidas de oração. Estariam eles ansiando por práticas espirituais
que os dispensem das exigências da conversão ao Reino, do despojamento e do dom
de si mesmos? Mas, longe de induzir à passividade e a uma visão mágica da vida,
a oração cristã ajuda a potencializar os recursos de que dispomos para
construir a vida e transformar a história.
A oração,
especialmente a súplica, supõe, expressa e cultiva a consciência de que nos
falta algo importante. Quem dispõe de todos os poderes não precisa pedir nada
nem agradecer a ninguém. E quem está absolutamente satisfeito com o presente não
espera nada para a futuro, a não ser um prolongamento repetitivo do presente. No pedido está embutido também o senso de
urgência e de responsabilidade pessoal e comunitária diante dos dramas e
necessidades do mundo. A oração que Jesus Cristo ensina supõe esta consciência
diante da grandeza e da urgência da missão.
Mas o rio
da santidade de Deus, que fertiliza a terra e possibilita uma vida abundante
aos seus filhos e filhas, tem um leito ainda muito estreito que precisa ser
alargado. E aqui a oração funciona como uma espécie de pedagogia que suscita e
ressuscita em nós o ardente anseio do Reino de Deus. “Venha o teu Reino!” Esta
súplica profunda e envolvente ajuda a evitar duas atitudes pouco cristãs: a conformidade
resignada com o mundo do jeito que está; a preocupação escapista com uma
indefinida vida depois da morte. E estimula o ardente desejo do pão farto e
gostoso em todas as mesas, todos os dias.
A oração
cristã é uma ação essencialmente comunitária, e está voltada ao presente
histórico. E isso está patente na segunda parte da oração que Jesus nos
ensinou: os pedidos estão na segunda pessoa do plural e são expressão da voz de
uma comunidade. Mesmo quando oração é feita individualmente, sempre supõe uma
comunhão real, profunda e visceral não apenas com os cristãos da comunidade ou mesmo
da Igreja, mas com a humanidade e a criação inteira. É disso que fala o pedido
do ‘pão nosso de cada dia’ e do perdão das nossas ofensas na medida do perdão
que concedemos a quem nos ofendeu.
Jesus de Nazaré, filho amado do Pai, irmão e amigo da
humanidade e mestre na arte de rezar: ajuda-nos a pedir o que realmente
necessitamos para continuar no teu caminho. Tanto nosso pai Abraão como tu
mesmo sublinhas a importância de pedir com confiança, e até insistir nos
pedidos. Mas qual é o pedido que o teu e nosso Pai não deixa sem resposta?
Certamente não é o alimento, nem simplesmente a saúde, o sucesso ou uma boa
morte. O que necessitamos realmente é do teu Espírito, sem o qual não há
discipulado, profecia, liberdade e vida verdadeiras. Envia-nos teu Espírito,
Senhor, e isso nos basta! Amém! Assim seja!
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