Escrevendo à
comunidade cristã de Corinto, Paulo sublinha: há diversidade de dons, mas o
Espírito é o mesmo; diferença de funções mas o Senhor é o mesmo; multiplicidade
de ações, mas um só Deus. Por isso, não há como sustentar a supremacia do clero
sobre os demais fiéis, dos católicos sobre os evangélicos. Mas, no bojo da
ventania que vem do Espírito de Jesus, caem também os muros que separam
religiões pretensamente verdadeiras das assim chamadas simples crenças, como
também as escadas que elevam as religiões que se auto-definem verdadeiras e rotulam
as demais como falsas.
É claro que a vida no
Espírito se expressa na oração, na adoração, no canto, consolação e alegria, mas
não se resume nisso. Jesus Cristo é o homem do Espírito, e sua proposta não é a
de um guru do bem-estar individual. Ele é modelo e caminho de uma vida
descentrada de si, de uma atuação absolutamente voltada às necessidades e à
dignidade dos outros, de uma inserção questionadora e transformadora no palco
da história. A obra do Espírito Santo no mundo não se mostra nos templos
monumentais ou nas instituições sólidas, mas em homens e mulheres novos, livres
e solidários.
Por isso, o envio do
Espírito Santo é também o lançamento missionário da comunidade dos discípulos e
discípulas de Jesus. “Como o Pai me enviou, eu também envio vocês!” Ele nos
envia com a missão de tirar o pecado do mundo e arcar com seu custo, como ele
mesmo o fez, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Tirar o pecado do mundo (no singular!)
significa, hoje, entre outras coisas, combater sem tréguas o vírus do ódio. Como
não se preocupar com o fomento interesseiro do ódio a toda iniciativa que possa
mudar minimamente a estrutura classista e excludente da sociedade brasileira?
Quem recebe o Espírito
de Jesus e por ele se deixa guiar perde para sempre a tranquilidade daqueles
que se escondem atrás dos muros dos condomínios fechados e dos ritos que
anestesiam e aprosionam as consciências. O Espírito fere de morte todas as
formas de indiferença! Quem hospeda o Espírito e nele renasce acaba a
quilômetros de distância do imobilismo omisso pregado em cultos frequentados
por multidões sedentas de prosperidade e de cura e se engaja, com humildade e
firmeza, no caminho ecumênico, respeitando as diferenças e sonhando com o dia
em que todos seremos um.
A ti, Deus pai e mãe, voltamos nossos olhos e nossas mãos para pedir,
com todas as forças do nosso ser: envia sobre nós e sobre a Igreja teu divino
Sopro! Sem ele, a missão não passa de conquista; a igreja atua como mera
sociedade de classes; o Evangelho se reduz a lei implacável; a moral
infantiliza e aprisiona; o ministério se reveste de poder e tirania; a liturgia
vira arqueologia e fuga do compromisso. Envia teu Espirito para revitalizar os
ossos ressequidos, sacudir as democracias vazias e questionar os sistemas
totalitários, mesmo quando se apresentam como religião. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
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