Estamos
iniciando um novo tempo litúrgico,
marcado pela expectativa, pela vigilância e pelo serviço. Somos convidados a compreender vitalmente o núcleo central
da esperança do povo de Israel e das comunidades cristãs. Serão quatro semanas para
reviver os milênios de expectativa messiânica do povo de Israel e os nove meses
de espera da Sagrada Família. Será um tempo para convergir nossos esforços no
reconhecimento e na acolhida daquele que vem na fragilidade humana, nas brechas
da história. Será um tempo propício para acariciar nossas mais belas e
profundas utopias.
O convite
de Jesus à vigilância se situa no contexto da crise e relativização dos poderes
considerados absolutos e do advento do humano (ou da vinda do Filho do Homem). Ele
usa uma linguagem apocalíptica, dizendo que as estrelas caem, os poderes são
abalados e as estruturas basilares da ordem social e política sofrem um
eclipse. Como as folhas novas da figueira indicam a chegada dos frutos, esses
sinais históricos anunciam que uma nova ordem social e uma nova humanidade
estão batendo às nossas portas. Tudo o que é histórico é transitório, só a
Palavra viva de Deus permanece.
Mas, para
os discípulos do tempo de Marcos, a questão crucial era como chegaria e se consolidaria o humano desejado e a ordem justa
esperada. Jesus ressalta que o Reino de Deus e o ser humano renovado vêm de baixo, lançam raízes na família
humana, que experimenta a noite escura da fragilidade e da injustiça. Ou,
dizendo de outro modo, a nova humanidade vem
de cima, do alto da cruz, da doação generosa e solidária de nós mesmos e de
tudo o que possuímos em favor da vida dos últimos. A Palavra que não passa é aquela
que Jesus pronunciou silenciosamente no alto da cruz!
O
problema se agrava porque hoje muitos cristãos não alimentam mais qualquer
espécie de esperança. Não esperam o advento
do humano. Não crêem na possibilidade de um mundo outro. Não querem ser perturbados no sono tranquilo e
indiferente à sorte dos irmãos e da natureza. E há cristãos que mantêm a
esperança, mas continuam confiando nos meios
potentes. Não conseguem conceber uma Igreja dos pobres e pelos pobres. Preocupam-se
mais com rúbricas litúrgicas que com a justiça e a misericórdia. Preferem
dormir sob a proteção dos impérios que transformá-los com a força da fé.
Paulo nos
lembra que o próprio Deus é avalista desta esperança, que Aquele que nos chamou é fiel. Sua graça é experiência já no presente:
em Jesus fomos enriquecidos na Palavra e no conhecimento. Nele recebemos tudo,
e nada de essencial nos falta. Nele já recebemos todas as riquezas que
poderíamos desejar. Ele nos fortalecerá até o fim. É claro que é preciso
acolher essa riqueza como herança, fazê-la frutificar. Mas temos motivos para
confiar, sem nos inquietar, pois “é ele também que vos dará perseverança em
vosso procedimento irrepreensível, até o dia de Nosso Senhor, Jesus Cristo”.
Itacir Brassiani msf
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