English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


terça-feira, 8 de abril de 2014

A Cruz: imagem do ser humano redimido



A Cruz é a imagem da arvore da vida. Para Santa Gertrudes, a cruz torna-se uma imagem do amor superabundante de Jesus que a atinge desde a cruz.

Para crescer para a forma única, singular e original que Deus imaginou para cada um de nós, precisamos permitir que as ilusões que criamos acerca da vida sejam esmagados por muitas tribulações e sofrimentos. A cruz é uma imagem daquilo que cruza e contraria diariamente nosso caminho e nossa vida para quebrar as idéias erradas que construímos em relação a nós mesmos. Nossas autoimagens devem ser transformadas pela cruz, para que nós, nosso verdadeiro ser, possa brilhar de modo cada vez mais claro e belo.

Aqui, não se trata da disposição para o martírio, mas do SIM para as tribulações diárias que a vida traz consigo. Quem quer ser discípulo de Jesus deve distanciar-se do constante girar em torno de seu próprio ego, oferecer-se a Deus, entregar a Ele a própria vida, dizendo SIM a tudo aquilo que o Pai permitir acontecer, dizendo SIM a uma vida que contraria as próprias idéias e projetos.

Para São João, a cruz é a plena realização da encarnação. A cruz é o momento em que brilha a glória de Deus, é a verdadeira revelação da glória de Deus. Em sua elevação, o amor de Deus que foi o motivo para que Deus se tornasse um ser humano, torna-se visível para todos os seres humanos.

A cruz colocadas em nossas paredes deve nos lembrar sempre e em todas as circunstancias que estamos envolvidos pelo amor de Deus, que o amor de Deus se abaixa até a poeira de nosso dia a dia, para ali nos tocar e nos curar amorosamente em nossos aspectos mais vulneráveis. Ela quer nos lembrar sempre que somos amados por Deus, com um amor que se abaixa e se inclina até nossos pés, até as partes mais desprezadas do nosso corpo e da nossa alma, até as câmaras mais escuras de nosso coração, aquelas que nem nós mesmos queremos enxergar.

Karl Rahner em sua interpretação da cruz, diz que “Jesus experimentou a morte como abraçada a vontade de Deus que Ele anunciou como proximidade de perdão a todas as pessoas”. E continua dizendo: “A morte também se abate sobre nós, e ao mesmo tempo ela é um convite a deixar-nos cair nas mãos de Deus. Portanto, a morte é a plenificação do amor e da obediência. Nela, Jesus entrega-se ao Pai e confia-se em seus braços amorosos”.

"A morte não é o fim cruel de nossa vida, mas o matrimônio com Deus, a última fusão com Deus cujo amor resplandeceu até a perfeição na morte de Jesus. Ela é a porta para o amor incondicional de Deus".
Na cruz, o amor perdoador e apaixonado de Deus torna-se historicamente palpável, manifesto, e alcança assim seu auge que não pode ser ultrapassado.

Eu sou apaixonada por Deus? O que parece impossível é possível para um apaixonado. Um apaixonado é um louco que chega mais longe para poder encontrar-se com sua paixão. Sofre dificuldades, porém continua. Temos de recuperar a loucura dos apaixonados.

Não é fácil saber o que é o amor. Nós experimentamos o amor no coração do homem e da mulher, na história humana, porém, em Deus, o que é o amor? Para obtermos a resposta, temos de observar o que Deus faz quando seu Filho realiza o mistério da salvação. O Filho tomou uma rota muito difícil de entender. Deus é tudo, mas quando vem a nós se faz pequeno para encontrar-se conosco. Ninguém sabia que em Belém havia nascido Deus, filho de Maria e de José. Os pastores, os anjos, os magos, um punhado somente. Que Deus é este que se abaixa, que escolhe a cruz? A cruz é justamente o contrário do que é Deus. Deus é santo, a cruz é pecado. Deus é eterno, a cruz é a morte. Deus é a beleza, a cruz é feiúra. Então, por que escolher esse caminho? Deus coloca-se no nosso nível. Temos de assumir mais decididamente o caminho da kénosis, que é a essência do amor. O amor não se impõe, se dá! Parece uma debilidade, porém é uma força.

Devemos deter-nos no momento prévio à morte de Jesus. Ele tem uma relação íntima com seu Pai porque assumiu nossa situação até a contradição. Como se por assumir nossa humanidade houvesse perdido o centro de sua vida, se Pai, humanamente falando. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). Grito de solidão. Grito sem resposta humana. Grito dificílimo. E o Pai não responde. Entretanto, Jesus permanece fiel: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito” (Lc 23,34) minha vida. E hoje podemos dizer que no mistério da cruz, no mistério pascal há um testemunho de Deus para nós tão grande que é capaz de chegar a esse limite de amor.  Se quisermos amar como Deus ama, temos de chegar a estar o mais perto possível de Jesus.

Precisamos aprender a dialogar sem julgar, sem impor. Temos de adquirir esse equilíbrio. Devemos dar testemunho kenótico ao mundo. Para isso temos de desprender-nos de tudo aquilo que não expressa o Evangelho e receber todo o valor que provém dele. Se não tivermos maturidade humana, se nos pesam as carências, se nossa história nos causa danos, não poderemos expressar o Deus Amor.

O caminho é o amor, o despojamento até a morte.
Jung diz que, “a cruz é o símbolo que Deus se tornou ser humano e sofreu com o ser humano. O ser humano tem de sofrer quando Deus quer se tornar humano dentro dele. Sofrer significa a colisão de contradições e opostos”.

No ponto de encontro onde os madeiros se cruzam, no centro da cruz, todos os opostos do ser humano sossegam, e o ser humano encontra o seu próprio centro. Aceitar a cruz significa também dizer SIM ao escuro dentro de si e reconciliar-se com suas próprias sombras. Tornar-se humano pode dar certo apenas quando reconciliamos os opostos e contradições dentro de nós.


Termino com uma frase do Evangelho de São João 19,37: “Olharão para aquele que transpassaram”. A verdadeira redenção acontece no olhar. Vivemos hoje a redenção se olharmos para Cristo transpassado na cruz e meditarmos entrando nele. No olhar nós nos fundimos com o olhado, nós nos fundimos com o amor de Jesus Cristo, com o qual ele nos amou até o extremo, de dar a vida por cada um de nós. O olhar com que Jesus no Calvário posou sobre os presentes, abraçou toda humanidade e continua hoje a olhar-nos, no desejo de cruzar com nosso olhar para nos transfundir a riqueza de seu amor. 

Ir. Maria Celeste da Cruz

Nenhum comentário: