As diversas vocações expressam o amor do bom
pastor.
A Igreja católica dedica o quarto domingo da
páscoa à reflexão e oração pelas vocações. Nesta perspectiva é que recordamos
que Jesus, crucificado e ressuscitado, é o pastor bom e exemplar, aquele que
oferece livremente sua vida pelo rebanho que ama. É um pastor que não se preocupa
com a própria carreira, mas com a vida dos que que sofrem, e até com o destino
dos que não fazem parte do seu rebanho. O denominador comum das pessoas
chamadas a seguir Jesus e continuar sua missão, qualquer que seja sua vocação,
é a compaixão. Mas o Papa adverte: “Não poderemos descobrir o chamado pessoal
de Deus se ficarmos fechados em nós mesmos.”
Uma das mais belas imagens que o povo de
Israel usou para falar de Deus e da sua relação conosco é a metáfora do pastor.
Essa imagem ressalta vários aspectos da relação entre Deus o seu povo: a) Deus é
como um pastor porque apascenta e guia seu o povo; b) Ele providencia o que é
necessário para a vida do seu povo-rebanho; c) Ele também defende as ovelhas
fracas e procura pessoalmente as ovelhas perdidas até encontrá-las; d)
Finalmente, Deus trata seu povo-rebanho com ternura e amizade, gratuidade e
paciência, e com ele faz aliança especial.
Ao lado da imagem de Jesus como Mestre, os
evangelhos nos apresentam claramente Jesus como o Bom Pastor vislumbrado antecipadamente
pelo povo de Israel. Sua vida é uma cotidiana realização do amor pastoral: ele tem
compaixão das multidões porque estão cansadas e abatidas, como ovelhas sem
pastor (Mt 9,35-36); ele procura as ovelhas dispersas e em situação de risco,
como as mulheres, os doentes e pecadores marginalizados (Mt 18,12-14); ele festeja
o reencontro, e diz que é maior sua alegria por um marginalizado resgatado que
por noventa e nove que se consideram perfeitos (Lc 15,3-7).
No evangelho de hoje, apresentando-nos Jesus
como bom pastor, João tem presente sua vida e suas ações concretas. Jesus é bom
e excelente como o vinho abundante servido nas bodas de Caná. Ele é bom e
porque não é mercenário: não foge nem esmorece diante das perseguições, mas
arrisca sua vida para que os mais fracos tenham plenas condições de vida. Mas
ele é o Pastor bom e excelente também porque estabelece um relacionamento
próximo e personalizado com seu povo, bem diferente de um herói ou benfeitor
distante, incapaz de se misturar com as pessoas comuns.
Jesus é o Bom Pastor porque conhece cada
pessoa pelo nome, por mais simples que seja. Ele ouve seus clamores e conhece
seus sofrimentos, desce para defendê-las e fazê-las subir (cf. Ex 3,7-10). Ele não
veio nem vive para fundar uma instituição, mas para reunir as pessoas
dispersas. É o pastor bom e exemplar porque não se orienta por fanatismos exclusivistas,
não se detém nas cercas ou muros religiosos, nacionais, étnicos ou de classe...
“Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas devo
conduzir. Elas ouvirão a minha voz e haver um só rebanho e um só pastor.”
Pedro e João demonstram que aprenderam do Mestre
o que significa ser um pastor bom. Eles não dão as costas ao paralítico que
depende de esmolas: voltam a ele o olhar e o convidam a caminhar com as
próprias forças. Não se trata do poder de fazer milagres, mas da coragem de
enfrentar a inércia do templo, que não faz mais que manter e reforçar a
dependência e a inferioridade das pessoas. Por essa ousadia, os apóstolos
acabam sendo presos, mas, assim que são libertados, continuam afirmando que é
em nome de Jesus de Nazaré, daquele que as autoridades condenaram, que o
paralítico foi curado.
Em Jesus e nos seus discípulos temos o
paradigma de todas as vocações. Precisamos sim pedir ao dono do campo que chame
mais gente para seu trabalho, mas não esqueçamos de pedir também que eles sejam
pastores e pastoras inspirados no Bom Pastor. Para que servem vocações que
conhecem apenas dogmas e leis e ignoram as necessidades concretas do rebanho?
Qual é o valor de um clero e de uma vida consagrada que matou o gérmen da
profecia e se deixa seduzir pela carreira e pela comodidade, que se preocupa
mais consigo mesmos que que as necessidades do rebanho?
Jesus Amigo, bom e belo pastor. Tu nos conheces,
nos amas e nos chamas pelo nome para que sejamos parecidos contigo, filhos do
teu coração, amigo dos teus amigos, continuadores da tua missão. Com a vida e
com a Palavra, nos ensinas que onde há amor sem fronteiras também há vida sem
limites. De ti aprendemos que, para viver plenamente, precisamos fazer-nos dom
e identificar-nos com teu e nosso Pai. Faz de nossas famílias e comunidades
eclesiais verdadeiras sementeiras de gente capaz de amar e servir como tu amas
e serves, tratando os últimos da sociedade como primeiros do Reino. Assim seja!
Amém!
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