Depois de
séculos de um perigoso processo de distanciamento do Reino de Deus e de uma
intensa teologização, é difícil libertar a Eucaristia da noção de sacrifício da
qual se tornou refém. A noção de Aliança, anterior e mais fundamental que a de
Sacrifício, foi diminuída e quase eliminada. E acabamos esquecendo que, mesmo na
tradição judaica, o sangue dos animais sacrificados aspergido sobre o povo era memória
da Aliança entre Javé e seu povo. O centro do rito não era o sacrifício de
animais mas a Aliança entre Deus e o seu povo escolhido. E Jesus é mediador de
uma aliança nova e superior...
É verdade
que Jesus cumpre o tradicional gesto doméstico e amistoso de tomar o alimento e
a bebida, proferir a oração de bênção e de agradecimento e servi-los aos
comensais. Mas ele introduz duas novidades que divergem das prescrições
rituais: não serve o cordeiro e não relaciona o pão e o vinho com o evento do
êxodo, mas com a sua história pessoal, com os passos que estava para dar. Repartindo
o pão, ele diz “isto é o meu corpo”, e, passando o cálice de vinho, anuncia
“este é o meu sangue da nova Aliança”. Fica muito claro que Jesus vincula a
ceia consigo mesmo e com uma Aliança nova.
Aqui
aparece o vínculo essencial entre Eucaristia e futuro, entre a ceia presente e
o advento do Reino de Deus. A Eucaristia é profecia e antecipação simbólica do
futuro, do Reino. A libertação celebrada na Eucaristia não é memória de um
passado glorioso, mas tarefa empenhativa que engendra o futuro, Aliança nova e
irreversível mediante a qual Deus avalisa nossos anelos de liberdade e de vida
plena. Jesus liberta a ceia pascal do seu belo mas insuficiente vínculo com o
que foi e nos engaja na construção daquilo que virá, mesmo que isso exija renúncia
às atrações dos velhos vinhos.
Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho da Humanidade,
corpo dinamizado pelo Espírito e Espírito feito carne, pão partilhado e vinho da
amizade: transforma nossa vida em Eucaristia e dá-nos uma insaciável fome de
comunhão. Dá-nos um coração grande para amar e forte para lutar, tanto no
acolhedor ambiente dos nossos templos como no espaço aberto das ruas e
avenidas. E não permitas que reduzamos tua ceia a uma simples memória e
tranformemos o pão em amuleto. Ensina-nos a celebrar a ceia com os pés prontos
caminhar e os olhos fixos no Reino que sempre está vindo.
Assem seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
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