Curando o leproso, Jesus devolve a cidadania
dos excluídos!
Depois de nos ter convocado a tomar parte na
sua missão de reunir o povo disperso e anunciar a chegada do Reino de Deus,
Jesus vai à sinagoga, onde enfrenta a autoridade dos escribas, e à casa de
Pedro, onde cura muitos doentes. Após uma madrugada de oração, no final da qual
ampliou os horizontes da missão, Jesus é procurado por um leproso. Narrando
estes fatos, o evangelista Marcos nos ajuda, pouco a pouco, a reconhecer em
Jesus um homem absolutamente livre e libertador, capaz de estabelecer a pessoa
humana necessitada ou marginalizada como prioridade absoluta.
O que chama a atenção é que o leproso descrito
no evangelho de hoje se aproxima de Jesus sem levar em conta as proibições
impostas pela lei. Ele chega perto de Jesus e pede: “Se queres, tu tens o poder
de me purificar”. Essa aproximação é, por si mesma, uma transgressão da lei que
demarca muito bem os limites da movimentação de um leproso. Ele jamais poderia
aproximar-se de qualquer pessoa sadia, e deveria gritar de longe, pedindo que
ninguém se aproximasse, por ele ser impuro. De onde vem a confiança e a força
que sustentam este leproso anônimo na sua destemida transgressão? Ele é muito
mais ousado que as mais ousadas sátiras que costumam animar o carnaval mais
crítico!
Não deixa de causar surpresa a observação de
que Jesus ficou muito irritado (algumas traduções amenizem e falem que ele se
compadeceu). Seguramente, Jesus não se irrita com o leproso que a ele se dirige
com tanta coragem e reverência, mas com a terrível ideologia que carimbava o
fardo da doença com a marca da impureza e da exclusão religiosa. Ou então,
porque sabe que aquele leproso já havia procurado os sacerdotes para ser
purificado e nada conseguira. Jesus se irrita porque sabe que os leprosos são
marginalizados e que, para serem purificados, devem oferecer um sacrifício
muito custoso.
Jesus “estendeu a mão, tocou no doente e,
respondendo à interpelação dele, disse: ‘Eu quero, fique purificado!’ No mesmo
instante a lepra desapareceu e o homem ficou purificado.” Jesus não é
indiferente à doença e à impureza que pesa sobre os marginalizados! Ele se
deixa tocar pela miséria deles e, ao mesmo tempo, os purifica com seu toque
solidário. Declarando puro aquele
leproso, Jesus desafia a lei e a autoridade sacerdotal, e ocupa o lugar deles.
Enviando o leproso ao templo, Jesus reintroduz no mais sagrado dos espaços da
cidade aquela criatura antes condenada à viver à margem da cidadania.
Em outras palavras: o leproso, agora
transformado em cidadão, é enviado por Jesus ao templo para testemunhar contra
os sacerdotes, e assim participa da própria missão de Jesus. Na verdade, tendo
sido reinserido na sociedade que o excluía, ele não vai ao templo, mas se
transforma em apóstolo na praça pública: “Começou a pregar muito e espalhar a
notícia.” Aquele homem antes condenado aos lugares remotos e desertos, volta ao
seio da família e ao coração da cidade e torna-se testemunha e evangelizador. Como
consequência, agora é Jesus que não pode mais entrar sossegado numa cidade...
É como se a impureza deixasse o leproso e
passasse a Jesus. Com seu toque humanamente divino, Jesus purifica o leproso e
assume sua impureza, assume na sua própria carne o pecado do mundo. O doente,
antes excluído, se torna cidadão, enquanto que Jesus experimenta a perseguição...
Os lugares desertos e afastados das cidades, porém, não são obstáculo para sua
missão libertadora. “De todos os lados as pessoas iam procurá-lo.” Jerusalém se
esvazia, o templo fica estéril e o povo procura Jesus no deserto. E Jesus
continua sua missão de curar, de desmascarar a ideologia discriminadora dos
escribas.
Estende tua mão, Jesus de Nazaré, e toca as
multidões que jazem à beira da vida, jogadas em situações nas quais é quase
impossível sobreviver. Converte a mão da tua Igreja em mão acolhedora e
benfazeja. Ajuda-nos a ir além das cômodas mãos postas e a eliminar os incômodos
dedos em riste. Que a comunidade dos que acreditam em ti trabalhe sem tréguas
pela tua glória, que é a vida dos pobres, e não seja pedra de acusação ou de
tropeço para ninguém. Assim, como ensina São Paulo, os cristãos serão teus
imitadores e poderão ser imitados, pois não estarão buscando o que é vantajoso
pare si mesmos. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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