Ainda não preparada para o sofrimento e já madura para a vitória!
Haveria naquele corpo tão pequeno lugar para uma ferida? Mas
aquela que quase não tinha tamanho para receber o golpe da espada, teve força
para vencer a espada. E isto numa idade em que as meninas não suportam sequer
ver o rosto zangado dos pais e choram como se uma picada de alfinete fosse uma
ferida!
Mas ela permaneceu impávida entre as mãos ensanguentadas dos
carrascos, imóvel perante o arrastar estridente dos pesados grilhões. Oferece o
corpo à espada do soldado enfurecido, sem saber o que é a morte, mas pronta
para ela. Levada à força até os altares dos ídolos, estende as mãos para Cristo
no meio do fogo, e nestas chamas sacrílegas mostra o troféu do Senhor
vitorioso. Finalmente, tendo que introduzir o pescoço e ambas as mãos nas
algemas de fero, nenhum elo era suficientemente apertado para segurar membros
tão pequeninos.
Todos choram, menos ela. Muitos se admiram de vê-la entregar
tão generosamente a vida que ainda não começara a gozar, como se já tivesse
vivido plenamente. Todos ficam espantados que já se levante como testemunha de
Deus quem, por causa da idade, não podia ainda dar testemunho de si. Afinal,
aquela que não mereceria crédito se testemunhasse a respeito de um homem,
conseguiu que lhe dessem crédito ao testemunhar acerca de Deus. Pois o que está
acima da natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele
o condenado, tremer a mão que desfecharia o golpe, e empalidecerem os rostos
temerosos do perigo alheio, enquanto a menina não temia o próprio perigo.
Tendes, pois, numa única vítima um duplo martírio: o da castidade e o da fé.
Inês permaneceu virgem e alcançou o martírio.
Do Tratado sobre as Virgens, de Santo Ambrósio, bispo
Fonte Liturgia das horas
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