VIVER POR AMOR
Um fio condutor une a experiência de Elisabeth desde quando
era criança até quando – ainda jovem, mas já amadurecida – sobrevier a morte: a
intuição de que a única coisa importante é “viver por amor”. Encontra em Jesus,
crucificado por amor (cf. C 133), o Deus que é capaz de vencer seu temperamento
impetuoso e colérico e empolgar seu coração sensível e sedento de beleza. N’Ele
vê e toca um amor apaixonado e apaixonante, que a conquista e a faz decidir, em
tenra idade, ser toda sua. É o contato que se dará no mais belo dia de sua
vida, o dia de sua primeira Comunhão, “Em que Jesus fez em mim sua morada,/Em
que Deus tomou posse de meu coração,/Tanto e tão bem que desde essa hora,/Desde
esse colóquio misterioso,/Não aspirava senão a dar a minha vida,/A devolver um
pouco de seu grande amor/Ao Bem-Amado da Eucaristia,/Que repousava em meu fraco
coração,/Inundando-o de todos os seus favores” (P 47).
As
dificuldades que deve enfrentar em seu processo de amadurecimento – como o
contraste entre o desejo de entrar no Carmelo e a oposição da mãe, a quem tanto
ama; querer permanecer recolhida em intimidade com Jesus e participar em festas
dançantes, onde jovens fascinados por sua beleza demonstravam interesse por
ela; sentir-se chamada à solidão, que exige desapego e separação, e estar
envolvida em tantas atividades artísticas e sociais; dar todo o coração a Deus
e, ao mesmo tempo, ser disponível e afeiçoada às suas amigas – encontram sua
solução na atração que exerce sobre ela “o grande amor” de Cristo, que
resplandece na Cruz, lenho capaz “de atear na alma o fogo do amor” (C 116).
O grande ato
da fé – recorda-nos Elisabeth, fazendo eco ao evangelista João – é acreditar no
imenso amor que Deus tem por nós (cf. O Céu na fé, 20). A unificação da pessoa
se dá, pois, pelo poder do ato de fé e reverbera na sensibilidade. Portanto,
para crescer harmonicamente, curar as feridas da vida e amadurecer como pessoa,
não se deve ter como objetivo o cuidado do próprio eu ou a superação da própria
debilidade, mas antes sair de nós mesmos, deixar o próprio eu (cf. Último
Retiro, 26) em uma vantajosa troca com o eu de Cristo, que “quer consumir nossa
vida para mudá-la na sua: a nossa, cheia de vícios; a sua, cheia de graça e de
glória, totalmente preparada para nós, com a única condição de nos renunciarmos
a nós mesmos” (O Céu na fé, 18).
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