Além das citações do primeiro capítulo da carta aos Efésios,
nas anotações do UR (Último Retiro) Elisabete nos oferece ainda sete citações do segundo
capítulo. Neste capítulo, o autor da Carta fala da Igreja, que reúne em seu
seio a totalidade dos homens e mulheres, reconciliando as duas partes inimigas,
os judeus e os pagãos, ambas submetidas ao pecado e libertadas por Deus em
Jesus Cristo. Este capítulo é uma espécie de resumo ou síntese da teologia
paulina desenvolvida na Carta aos Romanos.
No 4° dia (§ 10) do seu Último Retiro, Elisabete da Trindade
escreve sobre o que deve fazer o discípulo para conformar sua vida com a de
Jesus Cristo, para "ser a atitude de um louvor de glória, que quer
continuar, através de todas as coisas, o seu hino de ação de graças". Ela
entende que a ação necessária e fundamental é permanecer inabalável na fé, como
Moisés, inabalável na fé no "grande amor" com que Deus nos amou (Ef
2,4). A frase completa de Paulo é a seguinte: "Mas Deus, que é rico em
misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a vida juntamente com
Cristo, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas. Vocês foram salvos
por graça" (Ef 2,4-5).
Para Elisabete, permanecer inabalável na fé e no amor
significa não se importar com os sentimentos superficiais de agrado ou desagrado,
iluminação ou escuridão. A ênfase de Paulo está na gratuidade do amor de Deus
mediante o qual a humanidade pecadora é salva, mas Isabel interpreta este
evangelho de Paulo como um convite a não se abalar e manter a atitude de fé em
Deus, o qual nos amou de forma insuperável em Jesus Cristo.
Elisabete se refere de novo a este texto Paulino nos
parágrafos 31 (12° dia) e 34 (13° dia) do UR. A primeira citação está inserida
num contexto de interesse cristológico. A ideia central é que o Verbo se fez
carne, desceu ao nível da humanidade para que esta fosse elevada ao nível da
divindade, e se tornasse santa. Isso é obra de Cristo, que é nossa paz, que reconciliou
e pacificou na cruz todas as criaturas, que triunfou sobre os poderes inimigos
para nos tornar santos e imaculados diante dele. Para Elisabete, esta é por
excelência a obra de Cristo nas pessoas de boa vontade, a ação que o seu
"grande amor" impele a fazer em cada ser humano, e na própria Isabel.
Em suas próprias palavras, Jesus Cristo "quer ser a minha paz para que
nada possa distrair-me ou fazer-me sair da fortaleza inexpugnável do santo
recolhimento" (§ 31).
No § 34, a expressão "grande amor" é citada por
Elisabete no desdobramento da questão de edificar-se em Cristo. Trata-se da
pessoa "elevar-se acima de si mesma, dos sentimentos, da natureza, acima
das consolações ou das dores, acima do que não é unicamente ele. É aí que, em
plena posse de si, se domina, se transcende e ultrapassa também todas as
coisas". Para isso é necessário que a pessoa se fortaleça na fé, se
mantenha vigilante, "totalmente recolhida na sua palavra criadora”, nesta
fé no "grande amor".
Enfatizando o "grande amor de Deus", a seu modo,
Elisabete supera a imagem de um Deus como juiz onipotente e indiferente frente
às dores e dificuldades dos seres humanos. E percebe que o "jeito de
Deus" convida e convoca o discípulo a ultrapassar o fechamento em si
mesmo, abrindo-se no amor.
Itacir Brassiani msf
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