A vivência da compaixão é o louvor vivo à graça de Deus
Nos registros do 5° dia (§ 13) do Último Retiro (UR),
retomando o tema do caminho para a santidade, Elisabete escreve que o discípulo
de Jesus Cristo "deve estar decidido a comungar efetivamente na paixão do
seu mestre", a gloriar-se na sua cruz (cf. Gl 6,14), estar disposto a ser
com ele pregado na cruz (cf. Gl 2,19), a completar em seu próprio corpo o que
falta à cruz de Cristo (cf. Cl 1,24). É neste contexto que Elisabete cita Ef
1,6 e destaca que o objetivo da nossa eleição por Deus em Jesus Cristo é sermos
"o louvor de sua graça". O discípulo será o louvor da graça que ele
derramou abundantemente sobre os fiéis na medida em que acompanha Cristo no
caminho do Calvário: crucificado, aniquilado e humilhado, e, ao mesmo tempo,
calmo, forte e majestoso.
A glória da graça de Deus é sua proximidade compassiva e
solidária com todos os sofredores e se expressa eloquentemente na cruz. Na
proximidade solidária, compassiva, consoladora e serviçal em favor da pessoa
humana concreta, especialmente aos oprimidos e abandonados o/a discípulo/a de
Cristo será o louvor da graça de Deus.
Nos registros relativos ao 11° dia (§ 28), Isabel continua
desenvolvendo o tema da santificação na verdade, relacionando-o agora com a
atenção à Palavra de Deus, à sua santa vontade. Para ela, é guardando a
Palavra, permanecendo nela, vivendo-a concretamente como relação de amor, que o
discípulo de Jesus Cristo acaba se transformando na habitação da própria
Trindade divina e, com isso, tornando-se semelhante a Deus.
Neste contexto, Elisabete insere o mandamento de ser
perfeito como Deus Pai é perfeito e o relaciona com a autonomia da vontade.
Enfatizando que Deus age em acordo com sua vontade, Isabel entende que o
caminho para a santidade passa pela vontade pessoal e firme do discípulo, no sentido
de que é preciso submeter à ela as primeiras impressões e aquilo que ela chama
de "movimentos da natureza" (tendências e interesses primários). Para
que a liberdade do discípulo seja realmente livre é preciso que se identifique
com a vontade de Deus, que se deixe orientar pelo Espírito de Deus.
Nas anotações relativas ao 13° dia (§ 32), Elisabete faz
referência ao "projeto" de Deus, que é "levar a história à sua
plenitude, reunindo o universo inteiro em Cristo" (Ef 1,10). Desejando
realizar pessoalmente esse projeto divino, ela encontra na carta de Paulo aos
Colossenses um itinerário: "Já que vocês aceitaram Jesus Cristo como
Senhor, vivam como cristãos: enraizados nele, vocês se edificam sobre ele e se
apoiam na fé que lhes foi ensinada, transbordando em ação de graças" (Cl
2,6-7). Elisabete traduz o conselho para feminino, aplicando-o a si mesma, e
escreve "crescendo em ação de graças" ao invés de
"transbordando". São muito evocativas as metáforas da raiz, do
fundamento e do apoio.
No 14° dia (§ 36), Elisabete cita por inteiro o texto de Fl
3,8-14, omitindo o v. 11 ("a fim de alcançar, se possível, a ressurreição
dos mortos"). Trata-se da experiência de, por causa do conhecimento de
Cristo e da comunhão na sua paixão, considerar tudo o mais como lixo, esquecer
o que é passado e lançar-se para a frente, chamada e conquistada por Cristo. E
aqui Elisabete traz presente outra vez o tema da eleição e do chamado a ser
santa e sem defeito (Ef 1,4) e do projeto divino de ser o louvor de sua glória.
Isso tudo se realiza na medida em que Cristo vive no discípulo, na medida em
que são transformados em Cristo e agem em base ao amor.
Itacir Brassiani msf
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